A passerelle anunciava a moda da próxima estação fria, mas o mercúrio subia no Palacete Ribeiro da Cunha à medida que as manequins desfilavam os coordenados criados pelos Storytailors. «Esta coleção é o seguimento da história anterior, a Cidade da luz, na qual a personagem Luz é uma homenagem à cidade de Lisboa», revelou o storytailor Luís Sanches. Once upon a future é, acima de tudo, a história de uma coleção voltada para o futuro mas sem esquecer o passado, espelhado na utilização do burel como matéria-prima chave, em contraponto ao crepe georgette. «Há já vários anos que temos esta paixão pelo burel. Quase ao lado da nossa loja, está a do Burel da Isabel Costa, e fomos mais trocando ideias de como poderíamos apresentar uma coleção com burel. Isto foi evoluindo e para esta ideia de desconstrução, o material era o ideal. Consegue-se recortar e não se desfia. E foi dessa forma que conseguimos criar peças isoladas que depois foram combinadas para construir uma peça de vestuário», explicou. O aprimorado tailoring das peças contrasta, também ele, com a rusticidade do burel, e o final feliz desta história é que a moda portuguesa fala a linguagem da tradição e da inovação, mais do que nunca. «Deu-me um prazer enorme trabalhar esta coleção e esta história. É numa altura importantíssima, em que há muita coisa a acontecer e, ao mesmo tempo, estamos a trabalhar temas que nos são muito queridos Eu, que normalmente detesto as coleções uma vez terminadas, continuo apaixonado por estas peças», confessou João Branco, o outro storytailor. Uma hora mais tarde e 600 metros mais longe, o vasto público reunido em volta do jardim da Academia das Ciências de Lisboa descobriu um outro conto de encantar na passerelle do Bloom, onde o alter-ego de Gonçalo Páscoa, Marta Gonçalves e Nuno Sousa a Hibu mostrou que de um tecido preto podem desabrochar criações luminosas, também elas plenas de dicotomias de cortes e estruturas sob um mesmo estilo andrógeno, que a nova troika da moda quer imprimir à sua marca. Depois de uma dupla e uma tripla, coube a João Melo Costa o desafio de enfrentar a solo uma audiência expectante face ao talento de que tem dado provas o novo menino de ouro da moda portuguesa. «A coleção partiu de uma pesquisa sobre os paralelos e os contrastes entre o vestuário feminino e o masculino e os conceitos do que é ser um homem ou ser uma mulher. Não querendo ser andrógeno não é esse o visual pretendido , procurei criar uma estética nova e fresca, não associada a querer ser nada, a ser-se o que se é», revelou. O Portugal Fashion despediu-se da Capital com uma dupla já icónica da moda portuguesa, que conjuga a elegância em todos os tempos passado, presente e futuro. Nesta nova coleção, onde também os opostos se fundem primitivo vs. sofisticado, urbano vs. tribal, , a Alves/Gonçalves deu continuidade ao trabalho da estação anterior, explorando «o não-certo, aquilo que não está feito de acordo com as normas. O vestuário tem um aspeto não tão formal, é muito mais instintivo, livre, com um acabamento manual o ir contra o instituído. Temos formas muitas femininas, em que existe muito movimento e que transgride o clássico, mas sempre com a ideia de sofisticação», explicou Manuel Alves. Hoje, na Alfândega do Porto desfilam as coleções para o outono-inverno 2014/2015 de Júlio Torcato, Luís Buchinho, Daniela Barros, Hugo Costa e Anabela Baldaque.