Moda melhora imagem de sustentabilidade

O estudo realizado pelo Institut Français de la Mode-Premiére Vision Chair, apresentado hoje, mostra que os consumidores acreditam que a indústria da moda está mais sustentável e transparente.

[©Première Vision - Alex Gallosi]

Esta é uma das conclusões do estudo feito junto de 5.000 inquiridos em França, Reino Unido, Alemanha, Itália e EUA que foi hoje apresentado na Première Vision Paris. Até recentemente percebida como uma das indústrias mais poluentes, a transformação da cadeia de valor da moda tornou-se mais visível para os consumidores. «A imagem da moda está definitivamente a melhorar. Os esforços feitos pelas marcas, sobretudo em termos de informação e transparência, estão a ser notados», aponta Gildas Minvielle, diretor do Observatório Económico do Institut Français de la Mode (IFM).

A tendência, refere, é percetível de várias formas. À questão “a indústria da moda respeita os critérios ambientais mais ou menos que os outros sectores”, 64,3% dos franceses disseram que era tão ou mais respeitadora, o que representa um aumento de 6% face ao estudo de há três anos. A mesma evolução sente-se nos consumidores alemães (67,8%, mais 8%) e atinge níveis mais altos em Itália e nos EUA, com 74,7% e 81,5% dos consumidores, respetivamente, a considerarem que a moda é tão ou mais amiga do ambiente que outras indústrias.

O orçamento dedicado às compras de moda mais responsável está igualmente a subir, tendo passado de 148 euros para 212 na Alemanha, de 171 euros para 230 euros nos EUA e de 136,5 euros para 148 euros em França.

Contudo, há ainda um caminho a percorrer, destaca o estudo, que indica que enquanto junto das mulheres francesas (os homens seguem a mesma tendência) 68% compraram alimentos orgânicos e 63% produtos cosméticos orgânicos no ano passado, apenas 44,9% referiram ter adquirido vestuário amigo do ambiente – no Reino Unido, essa taxa é de 42% e em Itália sobe para 54,4%.

Há fatores, como a maior consciência ambiental, que estão a contribuir para o crescimento da moda sustentável, mas o estilo é igualmente importante, sendo que há uma mudança de mentalidade dos consumidores, que percebem a moda responsável como sendo compatível com as tendências e a elegância. Nos cinco países estudados, nove em cada 10 pessoas veem os produtos sustentáveis como estando na moda, um aumento de 8% em França e de 13% na Alemanha face ao estudo de 2019. «São resultados extraordinários», considera Gildas Minvielle. «Estamos agora muito próximos do consenso», acrescenta.

O estudo revela igualmente que os consumidores consideram que estão mais bem informados, tendo as taxas duplicado em alguns países, como Alemanha (de 18% para 36%), ou quase duplicado, como nos EUA (de 32% para 57%). Entre as fontes de informação destacam-se as etiquetas das próprias peças de vestuário – são o canal privilegiado em todos os países, superando os 70% em França e ficando entre 60% e 70% nos restantes mercados – e a informação fornecida diretamente no ponto de venda. Os websites e redes sociais das marcas ficam bastante atrás como fontes de informação.

A supremacia das matérias-primas

As matérias-primas assumem uma grande importância, concluiu o estudo, com os consumidores a procurarem materiais que possam ser vistos como responsáveis (sejam naturais ou não), que sejam reciclados e sem produtos tóxicos na sua produção, que deve ser de qualidade.

[©Première Vision – Alex Gallosi]
A durabilidade é fundamental, com cada vez mais consumidores a procurarem roupa que dure. Esta busca pela durabilidade do vestuário alinha-se com a da responsabilidade, que, para os consumidores, está ainda muito ligada aos materiais usados – em França, 37,7% dos inquiridos citam os materiais como a primeira métrica para a responsabilidade ecológica.

A possibilidade de reparação é igualmente um fenómeno crescente que se está a disseminar rapidamente. Em 2022, 64,2% dos franceses inquiridos afirmaram ter reparado pelo menos uma peça de vestuário, um número que sobe para 82,4% em Itália.

Neste cenário, também a aquisição de roupa em segunda-mão é uma tendência. Cerca de uma em cada duas mulheres e um em cada três homens comprou uma peça de vestuário usada, uma taxa que, refere o estudo do IFM-Première Vision Chair, continua a subir. E se no passado era o facto de ter um preço mais baixo que era mais atrativo, embora esta continue a ser a principal razão, agora há outros motivos a ditar a escolha de fazer compras em segunda-mão, nomeadamente as credenciais ambientais (48% dos franceses em comparação com 43% em 2019).

Made in ganha terreno

As perceções da responsabilidade ambiental continuam a estar fortemente correlacionadas com a proximidade geográfica dos locais de produção, com os consumidores a considerarem que, para ser sustentável, uma peça de roupa tem de ser feita perto do mercado de venda – é o caso para 85% dos americanos, 82,3% dos franceses e 79% dos italianos. «A definição de feito localmente expandiu-se para incluir os nossos vizinhos europeus», explica Gildas Minvielle. Quase seis em cada 10 franceses acreditam que o vestuário made in Europe também oferece garantias de responsabilidade ambiental, uma opinião que aumentou 13% face a 2019.

Nos EUA, descreve o estudo, este movimento “regionalista” que se vive na Europa não se faz sentir, com o “localismo” a bater recordes – em estudos passados, 53% dos consumidores acreditavam que um produto feito na vizinha América Central podia ser considerado responsável, uma taxa que desde para 28% atualmente.

[©Première Vision – Alex Gallosi]
Apesar das melhorias sentidas, os consumidores querem mais informação fidedigna e clara sobre como as suas roupas são feitas e, apesar da proporção de consumidores que sente que tem informação suficiente ter duplicado nos últimos anos, representa somente um terço dos inquiridos e seis em cada 10 franceses afirmam que melhor informação os encorajaria a comprar produtos mais sustentáveis.

Por isso mesmo, refere o estudo, embora as certificações tenham um papel importante a guiar os consumidores, o seu elevado número – haverá mais de 400 certificações ligadas à responsabilidade ambiental – torna-as difíceis de entender. Entre a 12 etiquetas de sustentabilidade mostradas aos inquiridos, o conhecimento das mesmas é muito heterogéneo. Em França, por exemplo, apenas se destaca o Rótulo Ecológico da UE, com 74% a reconhecê-lo. As outras certificações são reconhecidas com dificuldade.

«A crescente consciencialização do público sobre a responsabilidade ambiental é negável. Embora o atual difícil ambiente económico pareça ameaçar o crescimento do mercado da moda ecologicamente responsável, este está a aguentar-se surpreendentemente bem. A mudança de direção feita pelas marcas deu, efetivamente, frutos. A imagem da indústria da moda mudou e os próximos anos auguram ser promissores para as marcas que eduquem, deem segurança e apoiem os seus consumidores para escolherem produtos sustentáveis bem feitos», resume o estudo.