Como o prometido é devido (ver Ministro estreia-se na Heimtextil), mesmo para a classe política, Manuel Caldeira Cabral cumpriu o programa de visita à Heimtextil, que abriu ontem portas em Frankfurt. Se o Ministro da Economia der provas do mesmo fôlego e apoio na gestão do ministério como mostrou ontem no périplo cronometrado de 3 horas dedicadas aos 33 expositores nacionais no pavilhão 11 da maior feira de têxteis-lar do mundo, o país terá razões para menos preocupações…
Estas, todavia, não calaram a boca dos empresários, como por exemplo de Amélia Marques da Bovi, que confessou a sua preocupação com a reposição dos feriados que o Governo acaba realizar e que, afirma, vai prejudicar o negócio da empresa e a economia do país, uma vez que a sexta-feira é o habitual dia da partida de encomendas. A administradora da empresa fundada em 1940 pelo seu pai, Francisco Vaz da Costa, resumiu bem a política que defende em prol da indústria têxtil e vestuário numa só frase: «não mudem muitas vezes a legislação». Antes de Amélia Marques tomar a palavra, João Vasconcelos, o secretário de Estado da Indústria, que também integrava a comitiva – composta ainda pelo delegado da AICEP em Berlim, Pedro Macedo de Leão, pelo embaixador de Portugal na Alemanha, João Mira Gomes, pelo presidente e pelo diretor-geral da ATP, João Costa e Paulo Vaz, respetivamente, e ainda pela representante da Messe Frankfurt em Portugal, Cristina Motta –, não poupou elogios ao stand nem aos produtos, que considerou «lindos».
Foi ainda entre a oferta eclética da Bovi que o ministro da Economia “tropeçou” numa ex-aluna sua, do tempo em que lecionava na Universidade do Minho. «Era muito novo, devia ter uns trinta e…», dizia a ex-aluna. «26 anos», corrigiu Manuel Caldeira Cabral, que nasceu em abril de 1968, véspera do acontecimento revolucionário mais importante do século XX (maio de 68, em França), o que não deixa de ser um bom prenúncio.
Foi também da Universidade do Minho, aliás da primeira fornada de Engenheiros Têxteis da instituição, que saiu o próximo interlocutor do Ministro da Economia, Simão Gomes, que na altura trocou a carreira de Medicina pelos segredos das teias e tramas têxteis e hoje administra a mais antiga empresa de têxteis-lar portuguesa presente na Heimtextil, a Sampedro, fundada em 1921.
O têxtil está de resto no ADN da família Gomes, já que também o irmão Francisco seguiu-lhe as pisadas na carreira académica e profissional, dirigindo atualmente, junto com mais quatro irmãos, os destinos da empresa familiar fundada pelo seu avô em 1925, a Fábrica de Tecidos do Carvalho. E foi precisamente no stand desta empesa, a 20.ª visitada, que Manuel Caldeira Cabral se deixou encantar «pelos roupões que convidavam para um spa», mas a maratona estava ainda longe do fim.
O périplo tinha começado, mais de duas horas antes, pelo fórum The Portuguese Home Tex’Style, organizado pela Associação Selectiva Moda (ASM), que reúne produtos de 33 empresas portuguesas presentes na Heimtextil, devidamente identificadas, como explicou o diretor da ASM, Manuel Serrão, ao Ministro. Em seguida foi tempo de Caldeira Cabral discursar para os órgãos de comunicação portugueses reunidos no local, declarações que procurou encurtar porque, como sublinhou, estava ali para falar com as empresas. O que fez, e logo começando pela maior produtora de felpos da Europa, a portuguesa Mundotêxtil, como bem frisou a administradora Ana Pinheiro, que referiu ainda que a empresa exporta «para todo o mundo».
No terceiro stand português visitado, a Lumatex, Manuel Caldeira Cabral ouviu uma das frases que, felizmente, mais vezes seria repetida: «2016 está a arrancar bem», garantiu o gerente António Leite. Na “vizinha” Domingos de Sousa & Filhos, que, em linha com o que o sector vem conhecendo (ver Exportações de vento em popa), cresceu 8,5% em 2015, ouviu outras das frases mais repetidas: «A indústria precisa deste apoio e acompanhamento», disse a administradora Fátima Sousa, em jeito de desafio aos políticos a estarem mais no terreno. E não há melhor terreno para os têxteis-lar que a Heimtextil. «Estamos nesta feira há 26 anos» e «a Alemanha continua a ser o nosso principal mercado» foram duas das afirmações proferidas pela empresária que bem ilustram a importância do sector e do país para a boa performance dos têxteis-lar. «É a única feira verdadeiramente internacional, aqui vendemos do Japão ao Chile», garantiu José Luís Zamith, diretor comercial da também especialista em felpos Neiper. «Esta é a grande feira dos têxteis-lar», reconheceu, por sua vez, Mário Jorge Machado, administrador da Adalberto Estampados, que ainda desvendou ao Ministro da Economia as potencialidades da estamparia digital, onde a empresa tem sido pioneira. «Ninguém consegue estar na indústria a prazo sem investimento», assegurou Mário Jorge Machado.
Investimento é o que não tem faltado na Lasa, desde a fiação à confeção, o que permite ao gigante dos têxteis-lar estar na vanguarda da inovação, como Manuel Caldeira Cabral pôde descobrir, por exemplo, «nas toalhas com fios estampados», apontou a administradora Fátima Antunes.
Inovação é também um tema que está sempre na ordem do dia na Sorema, como o Ministro teve oportunidade de comprovar in loco, quando colocou os seus pés sobre o tapete “my cotton cloud”, um novo desenvolvimento da empresa em processo de patenteação e que já é vendido nos grandes armazéns norte-americanos Macy’s, como revelou o administrador André Relvas. Outra empresa que cresceu em 2015, cerca de 10%, para mais de 10 milhões de euros, tal como a Piubele, que ultrapassou os 14 milhões de euros depois de um salto de 15% nas vendas. «Tenho encontrado empresas que, de facto, se estão a afirmar pela diferença, que se estão a afirmar pelo design e pela qualidade e que estão a crescer afirmando-se como empresas portuguesas e conseguindo com isso ganhar o referencial de qualidade que é hoje reconhecido em todo o mundo», resumiu o Ministro da Economia ao Portugal Têxtil entre a visita aos stands.
Esta visita de Manuel Caldeira Cabral à Heimtextil sucedeu a convite da ATP. «Esta é uma daquelas feiras incontornáveis para qualquer empresa que, nesta atividade, pretende se impor no mercado internacional. Portanto, é com uma grande satisfação que trouxemos aqui o Sr. Ministro, para não só lhe transmitir esta realidade, a ele próprio, que está a entrar em funções, mas as próprias empresas saberem que estão suportadas pelo seu governo», justificou o diretor-geral da associação, Paulo Vaz.
Em passo de corrida, o Ministro da Economia teve ainda tempo para descobrir as qualidades de uma cama feita com lençóis de malha jersey da Alda Têxteis, os segredos das mantas que “repelem” a areia da B. Sousa Dias e os mercados que estão a dar para a Têxteis Penedo. O périplo de Manuel Caldeira Cabral pelas empresas de têxteis-lar na “primeira liga” da Heimtextil terminou com uma nota nostálgica na Comfort and Innovations, que ao contrário do que o nome deixa transparecer é também portuguesa, onde teve a oportunidade de conhecer uma cliente de há mais de 40 anos, Peggy Wilkins, originária de Nottingham, cidade inglesa onde teve oportunidade de estudar na conceituada universidade local – e que é nada menos do que a cidade berço de Robin dos Bosques, o mítico herói que roubava aos ricos para dar aos pobres. Outro bom prenúncio a favor do Ministro?