Mind avança para a realidade aumentada

A Feature Recognition, uma solução avançada de corte para padrões que analisa características específicas de uma imagem, e a aplicação da realidade aumentada a ambiente industrial, em resposta a um desafio da Hermès, fazem parte dos mais recentes desenvolvimentos da Mind.

João Bernardo

A empresa tecnológica portuguesa está envolvida em novos projetos de investigação e a expandir as suas áreas de intervenção, explicou João Bernardo, CEO da Mind, na sua intervenção durante a iTechStyle Summit.

A Feature Recognition é uma nova solução, atualmente em desenvolvimento, que permite fazer corresponder elementos gráficos a moldes de uma peça de vestuário, isto é, posicionar imagens nas partes que constituem o produto. «No fundo, é uma reminiscência do próprio Pattern Matching», a solução de corte de padrões, mas em que «não estamos a falar de xadrez, não estamos a falar de riscas, mas de elementos pictóricos que podem ser qualquer coisa», destacou João Bernardo. «Não estamos à procura de padrões, mas estamos a avaliar uma imagem e a tentar retirar dessa imagem características muito pontuais e muito específicas. Claro que esta nova solução deve poder ser usada de forma combinada com a antiga solução de Pattern Matching», referiu o CEO.

Ao Jornal Têxtil, João Bernardo assumiu que «percebemos que esta necessidade existia há muito tempo. Um dos nossos primeiros clientes no sector da confeção de vestuário, a Cordeiro Campos, que nos adquiriu um primeiro sistema já no longínquo ano de 2014 ou 2015, colocou-nos este desafio. Na altura, não tínhamos uma experiência tão profunda do mundo da confeção de vestuário e construímos soluções, numa abordagem um pouco diferente, que serviram apenas parcialmente os propósitos. Desde então, fomos lidando com outros clientes, alguns internacionais, na área da moda de luxo, que nos têm sistematicamente colocado este tipo de questão de como cortar modelos em tecidos com estampados, motivos macro, digamos, que podem ser folhas e ramagens, podem ser aves exóticas, o que for. E, aí, tínhamos de ter um tratamento bastante mais generalista».

A empresa está ainda envolvida no projeto Texp@ct, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem um subprojeto no qual o objetivo é «melhorar e sofisticar as soluções atuais de Pattern Matching. Uma das melhorias e sofisticações é exatamente isto que designamos Feature Recognition» e, embora o projeto decorra até 2025, «é muito provável que, ainda até ao fim do ano, princípio do ano que vem, tenhamos as primeiras soluções de Feature Recognition, pelo menos para serem testadas em ambiente industrial», adiantou João Bernardo.

Experiências no luxo

Ainda mais recente é a utilização de realidade aumentada para facilitar a realização de certas tarefas. «Foi um desafio que nos foi colocado por uma empresa de produção de malas, a Hermès, que quer um sistema que permita o nesting interativo com projeção, mas sabendo que, quando utiliza projetores de vídeo convencionais, dada a característica muito refletiva de alguns materiais que usa, não vê a dita projeção. Ora, com os óculos [de realidade aumentada], consegue ver com nitidez», explicou o CEO da Mind. «Isto pode ser usado em nesting interativo, pode ser usado também em soluções de apoio ao pick up, à recolha das peças. Depois do corte, as peças podem ter de ser recolhidas por set, por tamanho, seja por que critério for, e, para serem identificadas, ou lhes colamos uma etiqueta ou fazemos a projeção da informação com um projetor normal. Em condições de iluminação que não são as melhores, ou materiais que não se comportem tão bem com a dita projeção, a realidade aumentada pode ser uma excelente solução», acrescentou.

Uma solução que poderá chegar ao mercado muito em breve, avançou João Bernardo ao Jornal Têxtil, até porque «temos solicitações urgentes de alguns clientes».

Neste momento, indicou João Bernardo durante a sua apresentação, com os desenvolvimentos que tem feito, a Mind passou «de um punhado de clientes, para mais de trinta clientes no sector da confeção e têxtil só em Portugal», onde se incluem empresas como a Crialme, Irmãos Rodrigues, Lameirinho e Sonix.

Já nos mercados externos, «começámos a internacionalização destas soluções, na área da confeção, há não muito tempo», pelo que «a escala internacional, neste momento, não é muito diferente da escala nacional, até porque o mercado nacional respondeu muitíssimo bem à nossa abordagem», confidenciou o CEO da Mind ao Jornal Têxtil.