O país está a ganhar terreno como centro de aprovisionamento regional e a ganhar quota de mercado à China, refere o Sourcing Journal. De acordo com os dados da plataforma FourKites, em volume, os envios do México para os EUA aumentaram 20% em termos anuais, tendo em consideração o número médio de envios de 14 dias dos clientes que usam a plataforma de visibilidade da cadeia de aprovisionamento e transportes.
Embora o volume continue a aumentar, os atrasos nas exportações do México estão a baixar 25% em termos anuais, aponta a FourKites, o que parece contraintuitivo, uma vez que mais produtos em trânsito poderiam significar um maior congestionamento. Mas, segundo Glenn Koepke, diretor-geral de colaboração em rede da FourKites, isso indica melhor planeamento em termos de portos e fronteiras, assim como mais investimentos em transportes e logística.
«O que vemos tipicamente é que quando os volumes baixam, o tempo de espera, os custos de detenção e tempo de permanência também baixam», explica Glenn Koepke.
Um estudo da Brookings Institution prevê que os novos investimentos e a deslocalização da produção signifiquem mais 60 a 140 mil milhões de dólares a entrarem no México. Um relatório recente da Prologis indica que a absorção líquida – a quantidade de espaço imobiliário que ficou ocupado menos o que ficou livre – em seis grandes mercados no México duplicou entre 2019 e 2022. O espaço livre nessas regiões caiu para 1,1% no primeiro trimestre de 2023, depois de, nos anos da pandemia, ter ficado, em média, em 6%. Dos locais em construção, 60% estão em regime de pré-arrendamento, em comparação com 36% em 2019.
O ganho do México pode ser a perda da China, e de outros mercados. Em novembro de 2022, o gabinete do Ministério da Economia do México identificou mais de 400 empresas que planeiam deslocar a produção da Ásia para o México. Dois meses depois, os EUA, o México e o Canadá estabeleceram como objetivo produzir 25% dos bens que atualmente importam da Ásia na América do Norte.
China ainda importante
A mudança para o México surge numa altura em que os envios da China para os EUA seguidos pela plataforma FourKites baixaram 44% em termos anuais. E mesmo a marca chinesa Shein terá planos para construir uma fábrica no México.
Quando se analisa apenas os têxteis e vestuário, as importações do México baixaram ligeiramente em abril (- 1,6%), de acordo com os dados do gabinete de têxteis e vestuário dos EUA (OTEXA), enquanto as da China caíram 32,1%.
«O foco na distribuição de fornecedores além da China tem sido intencional e vemos muitas empresas a dependerem ainda de produtos importados do estrangeiro e que saem da China e vão para o Sudeste Asiático», sublinha Glenn Koepke. «Para produtos específicos, onde existe mão de obra, I&D, transportes, disponibilidade de produto, eles estão a analisar uma mudança para o México, mas também para outros países da América Latina», acrescenta.
O principal desafio atual com o nearshoring no México, refere o responsável da FourKites, é que não há capacidade suficiente para absorver todo o negócio que a China consegue acomodar.
Embora o nearshoring esteja a ganhar dinamismo, Glenn Koepke não menospreza o papel da China na cadeia de aprovisionamento de vestuário. «As empresas ainda têm de produzir os seus artigos, precisam de ser capazes de equilibrar a sua cadeia de aprovisionamento. A China vai sempre ter uma mão forte no sourcing do mundo», acredita.
Apesar da mudança, o diretor-geral da FourKites sublinha que vai haver ainda lugar para produtos têxteis feitos na região da Ásia-Pacífico, que é especialista em básicos e essenciais. As marcas que procuram design de nicho mais desafiante em termos técnicos podem beneficiar de trazer a produção para mais próximo dos EUA, mas adverte, o nearshoring não será uma receita que vá servir a todos.