O mercado de exportação está, segundo Rui Martins, CEO da Inovafil, «solidificado» e corresponde, atualmente, a cerca de 35% das vendas da empresa do grupo Mundifios, que em 2018 registou um volume de negócios de 21 milhões de euros. «Tem sido, efetivamente, uma arma muito forte para fazer face a algum decréscimo que se sente no mercado interno português», garante.
França foi o mercado que se destacou no ano passado, em parte porque «a tendência do “made in Europe” está a ser um chamariz», afirma Rui Martins. «Há claramente algumas marcas que se querem diferenciar através da produção europeia, enquanto produção mais sustentável e socialmente mais responsável», explica o CEO da fiação, que tem na Europa o principal destino das exportações.
O ano transato, embora tenha sido de crescimento – com um aumento de 15% do volume de negócios face a 2017 – trouxe, contudo, alguns desafios. «Principalmente no último trimestre, houve um grande “ataque” da Turquia, com a desvalorização da lira.
Desequilibrou as armas da competitividade, porque se posicionou num produto muito barato à conta da desvalorização da moeda – uma ferramenta que já não possuímos e, portanto, não podemos combater», revela Rui Martins ao Jornal Têxtil. «Esperemos é que seja uma fase transitória, porque obviamente, para quem não encontrou atempadamente soluções alternativas, pode passar aqui um mau bocado», acrescenta.
Inovação no ADN
Esta retração sente-se essencialmente no mercado da moda, algo que a Inovafil contrapõe com a aposta nos fios de maior tecnicidade. «Os nossos fios técnicos já devem representar à volta de 10% ou 15%», indica o CEO da empresa, que junta nesta categoria fios com fibras termorreguladoras, antimosquito, antibacterianos, gestão de humidade e antiodores, entre outros. «Temos também projetos para aquecimento, ou seja, fios que, através da luz solar, terão um efeito de acumulação e aumento da temperatura», adianta Rui Martins.
No horizonte da produtora de fios está ainda a investigação de aplicação de nanotecnologia, um trabalho que está a ser concretizado em parceria com a plataforma Fibrenamics, da Universidade do Minho, e o desenvolvimento de funcionalidades à escala nano, com a colaboração do Citeve.
Já no mercado, e a fazer parte da nova coleção, está o cânhamo. «O cânhamo não é uma novidade absoluta, mas é daquelas inovações que foram apresentadas, eventualmente, fora de tempo, no sentido em que o mercado não está preparado mentalmente para o aceitar. Foi associado a uma conotação negativa», considera o CEO da Inovafil.
As características da fibra de cânhamo, no entanto, fazem com que a empresa acredite que este é o tempo de trazer o cânhamo para a ribalta. «É fruto de uma produção completamente amiga do ambiente. O consumo de água é residual, não precisa de fertilizantes nem de pesticidas. A sua cultura é quase espontânea», admite.
A estas credenciais ecológicas junta-se o facto de ser naturalmente antibacteriano, respirável e permitir a regulação da temperatura. Estas qualidades deverão colocar a fibra no topo das preferências dos clientes, à semelhança do que aconteceu com o fio com fibra de urtiga que a empresa apresentou em 2017.
«Hoje em dia o mercado está muito ávido de ter soluções que alterem a conjuntura, mesmo do próprio algodão e das fibras sintéticas. [As marcas] precisam de apresentar soluções em que a produção seja completamente sustentável, que gaste poucos recursos e não utilize químicos», aponta.
Boas perspetivas para 2019
Face aos sentimentos negativos do mercado no final de 2018, o corrente ano começou acima das expectativas e a «confiança no trabalho que fazemos» permite à Inovafil antecipar mais 12 meses de bons negócios. «O trabalho que fazemos não vai começar em 2019, começou há dois ou três anos. Temos de continuar esse trabalho e ter confiança de que vamos começar a colher alguns frutos e que vamos suprir as adversidades conforme elas apareçam», esclarece Rui Martins.
Os investimentos serão concentrados na melhoria da eficiência produtiva interna, nomeadamente através da troca de produtos de margens mais baixas por artigos com maior valor acrescentado. «É nisso que estamos focados, até porque temos que estar atentos à conjuntura», reconhece o CEO.
2019, de resto, seguirá as linhas estratégicas da fiação, que se dividem entre a diversificação do produto, com a apresentação de soluções diferenciadoras, e a aposta na exportação. «Vamos apostar na Europa e nos EUA, sendo que a Europa será sempre o foco. Temos de capitalizar a produção “made in Europe” e o “made in Portugal”, porque é claramente uma referência de qualidade», sublinha.
Quanto ao futuro a médio prazo, a sustentabilidade será o princípio orientador. «Temos que estar atentos a tudo o que é investimento na inovação, na economia circular e aos horizontes que essa economia circular vai abrir», assegura o CEO da Inovafil.