Os factos são simples: em 2004, pouco menos do que metade da população mundial vivia na Índia e na China.
No entanto, devido às restrições impostas pelas quotas em vigor, os seus trabalhadores contribuíam com apenas 23% das importações de vestuário da União Europeia e apenas 12% das importações norte-americanas. Agora que as condições são iguais para todos os países, espera-se que a Índia e a China avancem nos próximos anos, para garantirem cerca de 45%-50% das importações totais de vestuário dos países mais ricos. Menos do que esta percentagem, e algo estará errado, referem os analistas do sector. Mais do que este valor, e será porque um destes países desenvolveu entretanto uma excepcional eficácia na produção de vestuário, embora muitos afirmassem que tal se deveria ao recurso a alguns truques…Se, entre os dois, os referidos países garantirem 45%-50% das compras de vestuário do primeiro mundo, então serão criadas mais oportunidades de emprego para algumas das pessoas mais pobres do planeta, e ao mesmo tempo triplicado as suas vendas para a Europa e Estados Unidos… Ainda segundo as mais recentes análises ao cenário pós-quotas, parece certo que assistiremos ao forte crescimento das vendas chinesas e indianas, ao longo dos próximos meses, e cada nova informação sobre esta expansão será seguramente seguida por gritos de desespero, à medida que cada comentador e analista do nosso planeta prever a destruição iminente da indústria do vestuário do resto do mundo! Aqui fica, então, um pequeno guia para melhor acompanhar as questões que se colocarão quando ouvirmos estes gritos. 1. A culpa é da concorrência! Os preços do vestuário vão descer. Em 2002, no anterior levantamento de quotas, os fabricantes chineses reduziram os seus preços nas categorias afectadas em 50% ou mais, nos primeiros meses, por isso, embora os produtores de vestuário dos restantes países reduzam os preços ao máximo, após os primeiros seis meses apenas o Bangladesh equivalia à China nas categorias mais importantes (soutiens nos Estados Unidos e anoraks na União Europeia). Nessa altura, não foi a escala das reduções dos preços da China que contou mais, mas sim o nível dessa mesma redução. E agora, o que está acontecer? O sistema de controlo de produtos dos Estados Unidos monitoriza os preços dos artigos vindos da China, e em meados de Fevereiro de 2005, os preços nas categorias de vestuário recém libertadas das quotas China tinham caído 21% em relação a 2004, e nalgumas categorias, como os vestidos, essa diminuição atingia os 54%. Como é que esta baixa de preços afecta as vantagens competitivas da China? A China foi sempre um país relativamente caro para se comprar vestuário. Por exemplo, no último Outono, as T-shirts que chegavam aos E.U.A. vindas da China eram 168% mais caras do que as do Bangladesh, que não sofriam de limites de quotas e não estavam sujeitas a direitos de importação. Actualmente, as T-shirts vendidas à Europa e fabricadas na China são 35% mais baratas do que há um ano atrás, mas ainda assim são duas vezes mais caras em relação aos preços do Bangladesh. Além disso, a China ainda está a sofrer limitações por parte dos outros países em categorias como os fatos, casacos e calças de homem, bem como nas blusas, camisas, sweaters e meias. Isto não sucede apenas em relação ao Bangladesh. Dependendo dos artigos de vestuário, podemos encontrar preços mais competitivos do que os da China em países fornecedores como o Sri Lanka, Índia, Malásia e Egipto, e até em países próximo da Europa, como a Roménia, Turquia e Marrocos… A inevitável baixa dos preços da China revela-se importante. Obviamente, ela vai aumentar a quota de mercado dos produtos chineses a nível internacional, podendo mesmo levar muitos dos fabricantes nos países mais pobres do mundo à falência. No entanto, até agora, os fabricantes de vestuário chineses ainda não reduziram os seu preços, a ponto de ultrapassar a sua tradicional desvantagem face aos restantes concorrentes mundiais por enquanto!