Mercado de luxo cresce na China – Parte 2

Num mundo ainda longe de ultrapassar a desaceleração económica, a China parece já estar no caminho do crescimento e isso reflecte-se nas vendas de produtos de luxo (ver Mercado de luxo cresce na China – Parte 1). O consumidor chinês tem revelado valorizar os produtos de qualidade e de designer, aliando a exclusividade destes produtos com a preocupação utilitária ou profissional. Confiança do consumidor Cada vez mais os consumidores de luxo da China estão localizados longe das cosmopolitas Xangai e Pequim, optando por cidades mais pequenas, onde a confiança dos consumidores não foi afectada pela crise financeira. «As cidades de segunda, terceira e quarta linha são onde está o optimismo. Essas pessoas trabalham geralmente para empresas chinesas e não assistiram aos cortes que as empresas estrangeiras têm feito», refere Shaun Rein, director-executivo do grupo China Market Research (CMR). Na pesquisa da CMR, 80% das mulheres entrevistadas nestas cidades mais pequenas disseram que iriam comprar mais produtos de luxo nos próximos seis meses do que no primeiro semestre do ano anterior. O vestuário masculino também está a crescer rapidamente nestas cidades, impulsionado em parte pela cultura chinesa de oferecer prendas aos parceiros de negócios. A Bain estima que cerca de um quinto das vendas de luxo do país são para este efeito, referindo que a tendência pode-se ter tornado ainda mais acentuada com a desaceleração económica, à medida que as pessoas procuram alicerçar as suas relações profissionais. Nova presença do luxo As marcas de luxo estão a ajudar fomentar essa procura, ao desenvolverem a sua presença em novas regiões. A Gucci planeia ter mais de 30 lojas por toda a China até ao final do ano, segundo revelou o seu director-executivo, Patrizio Di Marco. As marcas mais pequenas também estão a expandir. Nos últimos anos, a Longchamp abriu lojas em cidades do Norte, como Shenyang e Dalian, e está a registar um crescimento de 50% a 100% em alguns estabelecimentos, segundo Lee, directora sénior de vendas e marketing na Longchamp. A responsável acrescenta ainda que «as pessoas em cidades de média dimensão estão ansiosas por fazer compras. Eles não têm as mesmas pressões que as pessoas em Xangai, com as propriedades caras e o custo de vida mais elevado. E, com todo o investimento público nestas cidades menores, os seus ganhos estão a aumentar». Construir a marca No entanto, expandir no mercado chinês está longe de ser fácil. A disponibilidade de centros comerciais bem geridos e funcionários treinados é limitada nas cidades mais pequenas. O sector do luxo é também dominado por nomes consagrados como Louis Vuitton, Chanel e Gucci, as três marcas mais desejadas, de acordo com o levantamento da Bain a 1.400 consumidores chineses de luxo. «O sucesso das marcas aqui é devido à longevidade do seu investimento na construção da marca. Resume-se ao tempo que estiveram aqui e quanto gastaram. Para as novas marcas com menor capacidade de gastar vai ser uma batalha difícil. É um mercado muito competitivo», afirma Bruno Lannes, responsável pela área de consumidor e retalho da Bain na China. Lee concorda que o reconhecimento da marca nas cidades mais pequenas da China «não é muito maduro». A expansão da Longchamp vai exigir mais investimento em publicidade e na gestão de relacionamento com clientes. «Vamos aumentar 30% o nosso orçamento de publicidade em 2010 comparativamente a 2009. Precisamos tornar as comunicações mais adaptadas individualmente com as cidades. A população da China é enorme e podemos ser conhecidos numa cidade, mas não noutra». Novas oportunidades Apesar da consolidação por parte de algumas marcas em cada categoria de luxo, Rein acredita que ainda há oportunidade para novos operadores. «As pessoas estão a comprar o que toda a gente compra porque têm receio de cometer erros. Mas vai haver mais individualismo nos próximos 10 anos», explica o director-executivo do grupo China Market Research (CMR). As novas marcas devem oferecer «produtos de arranque» ou menos caros, como cintos e porta-chaves, segundo Rein, para atrair os consumidores às lojas. «É por essa razão que a Louis Vuitton e a Gucci estão a ser bem sucedidas. Elas oferecem produtos mais acessíveis, por cerca de 200 dólares», acrescenta. Lee considera que a oportunidade da Longchamp está na crescente procura por marcas de luxo «acessíveis» e peças clássicas, que representam uma boa relação qualidade/preço. Zhang poderia ser uma cliente potencial: «eu gosto da Chanel porque não sou tão atraída pela moda mais actual. Prefiro roupas de classe que uma pessoa possa usar durante anos», conclui.