Os números de 99, sendo menos agradáveis que os registados no pico do ano transacto não deixam de ser animadores porque mantêm a tendência de crescimento relativamente a 97 e indiciam progresso nos sectores que determinam o sucesso a médio prazo: moda, criatividade e valor acrescentado
O ano de 1999 não foi especialmente favorável para a indústria têxtil e do vestuário portuguesa. Após um ano de 1998 que pode ser considerado como excelente em praticamente todos os indicadores, 1999 foi um ano de algum abrandamento da actividade, mais sob o ponto de vista do mercado interno do que no mercado externo. A desaceleração da actividade da indústria já se vinha a detectar nos 2 últimos trimestres de 1998, mas foi apenas em 1999 que se verificou a ruptura na tendência de crescimento.
Segundo estimativas obtidas a partir do índice de volume de negócios, a indústria têxtil e do vestuário portuguesa terá obtido um volume de facturação de 1.782 milhões de contos em 1999, um valor inferior em 9,9% ao registado em 1998. Esta descida no volume de facturação foi provocada em larga medida pelos fracos resultados obtidos pelo sector do vestuário, com uma descida de 15,4% no volume de negócios. No sector têxtil assistiu-se a uma contracção na ordem dos 5,6%. Analisando a evolução trimestral do volume de negócios da indústria, conclui-se que o primeiro trimestre de 1999 foi claramente um ponto de viragem, com o sector têxtil e o sector do vestuário a deixar de apresentar variações homólogas positivas no volume de negócios. A tendência para contracção da facturação acentuou-se ao longo do ano, assistindo-se contudo a uma ligeira melhoria no caso do sector do vestuário no último trimestre, a par de uma pausa na tendência descendente do sector têxtil.
O volume de emprego sofreu igualmente uma redução durante o ano transacto, mas com uma amplitude bastante inferior à registada no volume de negócios. O número médio de trabalhadores durante o ano de 1999 foi de 259.072, dos quais 45% no sector têxtil e os restantes 55% no sector do vestuário.
Em 31 de Dezembro de 1999 estima-se que o número de trabalhadores da ITV tenha sido de 252.065, dos quais 109.712 no sector têxtil e 142.353 no sector do vestuário. Comparando o número de trabalhadores em 31 de Dezembro de 1998 com o número registado em 31 de Dezembro 1999, regista-se uma diminuição total de mais de 19.000 postos de trabalho.
Em termos médios, registou-se uma redução de efectivos de 2,2% no sector têxtil e de 5,5% no sector do vestuário. Globalmente, a redução do emprego na ITV foi superior a 4,0%. A evolução trimestral do volume de emprego indicia uma tendência cada vez mais aprofundada de redução dos recursos humanos utilizados na ITV portuguesa.
Enquanto que em 1998 a variação homóloga trimestral do volume de emprego oscilava entre um mínimo de 1,7% (sector têxtil, 2º trimestre) e um máximo de 0,2% (sector têxtil, 4º trimestre), em 1999 registaram-se valores extremos de 7,7% (sector do vestuário, 4º trimestre) e 0,9% (sector têxtil, 1º trimestre). É de realçar que a tendência para a diminuição do número de trabalhadores na ITV foi-se acentuando ao longo do ano, verificando-se no último trimestre do ano uma variação homóloga negativa de 3,9% no sector têxtil e de 7,7% no sector do vestuário.
Apesar desta forte redução do emprego, as remunerações não deixaram de crescer. Entre 1998 e 1999 as empresas têxteis e do vestuário suportaram, em média, um aumento de 0,07% nas remunerações totais, provocado em grande medida pelo crescimento registado no sector têxtil (+1,5%), que foi parcialmente compensado por uma redução de 1,9% no sector do vestuário. Estes valores encontram-se bastante aquém das variações registadas em 1998, ano durante o qual as remunerações totais da ITV cresceram mais de 2,5% face a 1997.
É, contudo, de salientar que apesar de se terem registado evoluções distintas no total das remunerações pagas pelo sector têxtil (crescimento) e pelo sector do vestuário (diminuição), quando analisada a evolução das remunerações pagas por trabalhador, a evolução foi idêntica, registando-se um crescimento de 3,9% em ambos os sectores.
A par deste crescimento das remunerações por trabalhador, registou-se uma diminuição no número de horas trabalhadas, que atingiu os 1,5% no sector têxtil e os 5,5% no sector do vestuário. Conjugando estes efeitos (redução do emprego, aumento das remunerações, redução no número de horas trabalhadas), verifica-se que o custo unitário de trabalho, definido como a remuneração por trabalhador/hora terá sofrido um acréscimo de 5,4% no sector têxtil e de 10,4% no sector do vestuário. Aliás, a evolução deste indicador ao longo dos últimos dois anos aponta para um aumento significativo nos custos suportados pelas empresas por cada hora de actividade dos seus trabalhadores, com um crescimento superior a 15% entre 1997 e 1999.
O forte aumento dos custos unitários do trabalho não se reflectiu, em 1999, na produtividade do trabalho, avaliada pelo volume de negócios por trabalhador. Apesar de 1998 se ter assistido a um forte aumento deste indicador, sobretudo no sector têxtil, esse aumento não teve continuidade durante 1999. Assim, comparando o volume de negócios por trabalhador em 1999 com o valor referente a 1998, verifica-se que no sector têxtil se registou uma diminuição de 3,6% e no sector do vestuário de 10,5%.
Globalmente, na indústria têxtil e do vestuário, cada trabalhador facturou, em média, menos 5,4% do que em 1998. Mais, considerando a evolução entre 1997 e 1999, destaca-se o facto deste indicador se ter contraído em mais de 6,7% no sector do vestuário. No sector têxtil, pelo contrário, a evolução no cômputo destes dois anos foi favorável, registando-se uma subida do volume de negócios por trabalhador de 16,2%. Outro factor em destaque durante o ano de 1999 foi a redução verificada na produção avaliada em volume. Segundo dados do INE, a produção do sector têxtil terá diminuído em 2,1% face a 1998, enquanto que no sector do vestuário se assistiu a uma redução mais acentuada, próxima dos 9,5%. Considerando a totalidade da indústria têxtil e do vestuário, a redução nos volumes de produção atingiu os 4,9%. É de assinalar que se assistiu a tendências divergentes nos dois sectores constituintes da ITV. No sector do vestuário, após um ano de 1998 em que se assistiu a variações homólogas positivas na produção em volume em todos os trimestres, verificam-se reduções substanciais nos volumes de produção durante todo o ano de 1999 face ao ano anterior. No sector têxtil, apesar da variação da produção se manter em território negativo, detecta-se uma tendência para a aproximação a valores positivos. À diminuição da produção em volume correspondeu, logicamente, uma redução da utilização da capacidade produtiva.
No primeiro trimestre de 1999 o valor da ocupação da capacidade instalada era bastante elevado, com o sector têxtil a operar 81% da sua capacidade e o sector do vestuário a 87%. Globalmente a ITV estava a aproveitar mais de 83% do total da sua capacidade instalada. Durante o segundo trimestre do ano assistiu-se a uma forte quebra na utilização da capacidade instalada, quebra essa mais pronunciada no sector têxtil do que no sector do vestuário.
Os dois trimestre subsequentes já foram de alguma recuperação, que, contudo, não foi suficiente para compensar a descida registada no segundo trimestre. No último trimestre do ano, a taxa de utilização da capacidade produtiva rondava os 81% para a indústria têxtil e do vestuário, com o sector têxtil a apresentar um valor de 78% e o sector do vestuário a registar uma ocupação de 85%.
Relativamente à evolução das carteiras de encomendas, registou-se igualmente uma clara redução do número de semanas de produção asseguradas. No caso do sector têxtil, a dimensão da carteira de encomendas reduziu-se de 8,4 semanas de prod