David Shah, especialista em tendências, trouxe para a iTechStyle Summit uma visão mais apurada dos temas que estão a moldar especialmente o consumo, entre as quais uma maior dicotomia entre pobres e ricos, onde, por um lado, as chamadas marcas brancas de supermercados como o Lidl ganham força, ao mesmo tempo que os artigos de casas de moda de luxo somam consumidores. «As vendas de megamarcas como a Louis Vuitton e Hermès continuam a crescer», embora estas enfrentem novos desafios. «Costumavam vender pelos, peles de crocodilo e agora fala-se em materiais orgânicos», pelo que há a necessidade de ir para novos mercados, como Singapura ou Indonésia.
Outra mudança é o regresso às origens destas grandes marcas, que estão a deixar de se apoiar em pessoas famosas para se promoverem. «Agora é o luxo discreto», apontou David Shah.
Os consumidores mais importantes neste momento são os que têm menos de 28 anos – a chamada Geração Z – que ficam em casa dos pais e gastam noutras coisas, como viagens, experiências e moda.
Swimwear e moda nupcial – usada inclusivamente nas passadeiras vermelhas – são duas das categorias que mais crescem. Há igualmente o aumento das compras de fatos no segmento de senhora, indicou o especialista.
As tendências são agora «micro, não macro», realçou David Shah, impulsionadas pelo consumidor, que está a mudar pelos efeitos da tecnologia e também da imaginação, procurando sensações intensas e de deslumbramento, por um lado, ou, numa versão contracorrente, um regresso ao passado e à nostalgia das memórias.
Equilíbrio entre corpo e mente, a procura pela espiritualidade, uma necessidade de criar raízes, familiares e comunitárias, a autoexpressão, uma apetência por tudo o que está relacionado com a sobrevivência e a expansão de capacidades e das suas vidas entre os mundos físico e digital, graças às novas tecnologias como a inteligência artificial, são alguns dos temas que vão moldar os consumidores e o consumo nos próximos tempos, enumerou David Shah.
Indústria também muda
Mais focado na indústria, Thomas Gries, diretor do ITA – Institut für Textiltechnik da RWTH Aachen University, da Alemanha, confessou que procurou as megatendências que estão a marcar o mundo, mas «há milhões de megatendências» e «todos os dias são publicadas pelo menos milhares», tornando difícil perceber quais serão as mais relevantes para o futuro.

Ainda assim, avançou com três grandes transformações. A primeira é «a transformação industrial, que pode ser vista em todas as indústrias», afirmou Thomas Gries, e que se baseia em questões como valor acrescentado, redução de custos e, no caso da indústria têxtil, têxteis técnicos e funcionais.
«Depois, claro, há a sustentabilidade – muito importante no nosso caso, uma vez que a maior parte das nossas matérias-primas são à base de petróleo. É a desfossilização, não a descarbonização», salientou o diretor do ITA, que apontou como terceira grande mudança a digitalização e a automação.
«As boas notícias em relação à nossa indústria é que estamos no lado bom, porque os têxteis são materiais à base de fibras. E os materiais à base de fibras são um tipo bom de materiais, porque a natureza é feita a 100% de fibras. Se olharmos à nossa volta, só há materiais à base de fibras, incluindo os nossos ossos, os nossos músculos, a nossa pele», constatou.

A versatilidade dos têxteis – que podem ser usados numa versão suave em vestuário ou numa versão mais pesada em geotêxteis, por exemplo – é igualmente uma vantagem, referiu Thomas Gries.
Para sobreviver a estas mudanças, a formação contínua e a cooperação são palavras de ordem, acredita. «Ninguém pode fazê-lo sozinho, nem mesmo nós, como instituição de investigação – temos de trabalhar com outros institutos, temos de trabalhar com a indústria, com start-ups, com pessoas criativas de outras áreas. A cooperação é a única forma de lidar com estas megatendências», sublinhou Thomas Gries.
Neste painel, onde esteve também Mico Mineiro, COO da Twintex, e Carmen Danner, da HeiQ, Francesca Rosella, cofundadora e CEO da CuteCircuite, mostrou como a tecnologia está a ser usada em termos criativos, tanto na incorporação de LEDs no vestuário, como na chegada ao metaverso.