Há cada vez mais possibilidades de materiais disponíveis no mercado, resultantes da necessidade de encontrar novas soluções para a escassez das matérias-primas tradicionais. Neste cenário em mudança, para o outono-inverno 2020/2021, o WGSN aponta alguns dos materiais que deverão evidenciar-se, tanto para os têxteis como para o vestuário em geral ou o design de interiores, acompanhando a dualidade natural/digital da paleta de cores já desvendada.
Do prato para o design
Os designers estão cada vez mais a criar com recurso a resíduos alimentares, transformando derivados de leite, fruta, vegetais e cereais em novos recursos.

Xavier Loránd criou mobiliário com uma mistura de cimento e restos de café recolhidos em cafés na Cidade do México. Já outros usam estes desperdícios para efetuar tingimentos: Katrine Krull tinge gesso com café, couve e cebola, enquanto a cerâmica Care for Milk de Ekaterina Semenova usa restos de leite para conferir brilho.
Estes desperdícios podem ser usados, segundo o WGSN, na produção de acessórios, calçado, têxteis e interiores.
Desperdícios de corte
Os restos de materiais podem ser transformados em novos produtos, usando os desperdícios do corte e dos acabamentos.

O projeto Kutleh reutiliza telhas em novos blocos de materiais, que podem ser esculpidos. Outros projetos incluem a cadeira Mold, da Studio Petter Thorne, fabricada a partir de restos de folheado, e o mobiliário em couro criado pelo espanhol Jorge Penadés, reciclado a partir das indústrias automóvel, moda, calçado e mobiliário.
Conforto dentro e fora de casa

O foco no conforto e cuidado pessoal vai influenciar uma tendência mais macio dos materiais, dando atenção aos benefícios inatos de calor, apoio e conforto.
O Cushion Cabinet, de Saar Scheerlings, foi produzido a partir de espuma revestida a tecido e cosida com cordas, levando a ideia de acolchoado para um novo nível.
O conceito de têxteis macios, acolchoados e dimensionais pode ainda ser aplicado a calçado e vestuário.
Saídos da natureza
Os materiais naturais, usados em designs simples, são um ponto obrigatório para a estação.
De acordo com o WGSN, o outono-inverno 2020/2021 pede a utilização de materiais naturais, vegan e orgânicos, virgens ou reciclados, como cânhamo, juta e pinheiro para novos compósitos, como a casca de pinheiro do Pineskin da Studio Sarmite, que tem propriedades análogas ao “couro” vegetal, e a utilização das partes mais grossas do cânhamo por parte do Studio Petter Thorne, moldadas em compósitos texturizados para produtos táteis para a casa.

A tendência aponta ainda para a reinterpretação da cestaria tradicional para objetos em lã, juta e linho com uma estética contemporânea.
Papel recuperado
Papel e têxteis e produtos com aspeto de papel vão incorporar uma estética de zero desperdício à medida que os designers procuram reutilizar materiais usados massivamente no dia a dia.

A designer tailandesa Natchar Sawatdichai recicla papel que transforma em artigos para a casa, como cortinas origami e assentos, que podem ser arrumados facilmente, e os vasos Wrapped de Carlo Lorenzetti usam moldes criados a partir de papel de objetos do quotidiano, como garrafas e latas.
O papel, aponta o WGSN, inspira a criação de texturas enrugadas ou pregas para aplicações têxteis, que podem ser usadas em vestuário mas também no design de interiores.
Texturas sensoriais
Os designs exploram o tato, com superfícies luxuriantes a continuarem a cativar os consumidores para se envolverem com os produtos e a brincarem com o desejo de sensualidade.

Os designs clássicos e modernos produzidos em massa vão tornar-se feitos à medida e luxuosos com uma nova abordagem à textura, como a colaboração da Bolon e da BD Barcelona Design com Stephen Burks, que concebeu têxteis experimentais que tornam o mobiliário industrial mais macio com uma técnica artesanal.
Contas, couro cortado, lã e seda em franjas vão adicionar uma sensação de luxo aos produtos do quotidiano. Os Boudoir Mirrors de Tero Kuitunen têm franjas, tal como o tapete de Edward Field.
Brilho radiante
As superfícies dos materiais vão avançar com mais cor e iridescência texturizada, entrando numa tendência mais sonhadora.

Os Magic Mirrors de Anne Veronica Janssen têm um efeito enevoado e crepitante através de vidro partido colocado entre filme dicroico. No vestuário, o casaco inovador da Stone Island omite o reflexo iridescente através de um revestimento a contas de vidro estampados. As experiências deverão prosseguir com têxteis termocromáticos, filmes dicroicos, metal anodizado, couro brilhante e vidro opalino.
Atmosferas em mudança

As mudanças climatéricas e o seu efeito no nosso meio ambiente vão levar os designers a explorar os materiais atmosféricos e mutáveis que parecem estar em movimento.
O projeto Made by Rain de Aliki van der Kruijs, que desenvolveu uma técnica denominada pluviografia para captar gotas de chuva em tinta para têxteis em seda, juntamente com a colaboração com Akira Fujimoto para fabricar cerâmicas com gotas de chuva.
Futuro transparente
A escassez de recursos está a fomentar a inovação nos materiais, sobretudo em áreas como o bioplástico e os têxteis obtidos a partir do cultivo de bactérias.

Os bioplásticos estão a tornar-se mais inovadores, como ilustra o projeto Nuatan, do Crafting Plastics Studio, fabricado com de materiais alimentares, e o Plastic Culture, de Marco Federico Cagnoni – um conceito de quinta vertical que cultiva plantas comestíveis, que também podem ser usadas para produzir bioplásticos.
As inovações microbianas estão também a prosperar. O projeto de ténis This is Grown de Jen Keane cultiva bactérias numa forma através de “tecelagem microbiana”.
Estes novos materiais devem ser explorados, sublinha o WGSN, e podem ser usados em vestuário, acessórios, calçado, têxteis e interiores.
Plástico fantástico

Os plásticos e polímeros, que fazem parte do quotidiano, serão catalisadores para a criatividade, que deverá transformar o mundo dos materiais.
Reinventar o saco de plástico, como fez Galina Larina no seu vestuário Plasticdoom, e dar um novo propósito aos resíduos industriais, como acontece com as Ganulate Lamps, de Kueng Caputo, feitas a partir de folhas de poliestireno derretidas em tubos de néon, fazem parte das possibilidades. Já Jie Wu criou caixas de resina reciclada com padrões marmoreados e pedaços de madeira.
Blocos modulares
Uma abordagem cuidada às cores e materiais em bloco vai continuar nesta estação, com elementos modulares a serem reunidos para fazer uma peça ou um cenário completo.
Os Tivoli Mirrors, de Normann Copenhagen, jogam com o conceito de camada e repetição em múltiplas variações, enquanto Lara Bohinc usa caixas lacadas modulares interligadas.
O conceito contempla a utilização de materiais luxuosos, como couro, camurça e lã e pode ser aplicado a vestuário, acessórios, calçado, têxteis e design de interiores.
