Materiais de nova geração atraem investimento

As empresas criadoras de materiais à base de plantas, micélio e culturas em laboratório de células de animais e micróbios angariaram financiamento superior a 450 milhões de dólares e estão a ser procuradas cada vez mais para parcerias com gigantes da indústria da moda.

[©KeelLabs]

O estudo 2022 State of the Industry da Material Innovation Initiative (MII) revela que as empresas angariaram pelo menos 456,75 milhões de dólares (cerca de 430,3 milhões de euros) em 28 acordos tornados públicos em 2022, apesar do ano passado ter sido mais desafiante para as empresas de materiais de nova geração, em termos de investimentos, do que 2021. Contudo, numa análise a 10 anos, entre 2013 e 2022, o capital investido – mais de 3 mil milhões de dólares – e o número de acordos continuaram numa trajetória ascendente.

Entre as empresas que receberam investimento em 2022, a MII destaca a MycoWorks, com duas rondas de financiamento que, em conjunto, se aproximaram de 188 milhões de dólares, a Natural Fiber Welding, também com duas rondas de financiamento que ultrapassaram os 100 milhões de dólares, a AlgiKnit (rebatizada KeelLabs no ano passado), com uma ronda de financiamento de 15,46 milhões de dólares liderada pelo Collaborative Fund (que é também investidor na Bolt Threads, na Natural Fiber Welding e na Modern Synthesis), a ViroLabs, com um investimento, incluindo do grupo de luxo Kering, de 47,40 milhões de dólares, e a Save the Duck, que foi adquirida por um montante não revelado.

Já no top 10 dos investimentos ao longo da última década destacam-se a Spiber, a Bolt Threads, a Modern Meadow, a MycoWorks, a Renewcell, a Spinnova, a Ultrafabrics, a Natural Fiber Welding, a Newlight Technologies e a Ecovative.

[©MycoWorks]
Para além do aumento nos investimentos, o número de empresas focadas exclusivamente no desenvolvimento de materiais de nova geração também aumentou, para 102, em comparação com 97 em 2021.

«Tecnologias e inovação podem dramaticamente revolucionar o negócio ao desenvolverem materiais ambientalmente preferíveis e sem recurso a animais que respondem à estética, performance e requisitos de preço das marcas e clientes. É um sinal encorajador que a indústria dos materiais de nova geração tenha crescido além de inovadoras que perturbaram as titulares. As titãs estabelecidas estão também a juntar-se para construir uma indústria de materiais melhor para todos», considera Elaine Siu, diretora de inovação na MII.

Mercado mais recetivo

Em 2022, mais empresas de materiais, casas de moda e até construtores automóveis anunciaram materiais de nova geração ou equipas de I&D dentro de portas para criar materiais de nova geração. Entre as parcerias nesta área, a MII destaca os Plant Pacer, da Allbirds, uns ténis fabricados com a pele de nova geração Mirum, da Natural Fiber Welding, e o investimento da General Motors, através da GM Ventures, na MycoWorks para assegurar I&D conjunto numa parceria industrial para tentar desenvolver um substituto para couro animal, produzido de micélio, que seja mais adequado ao interior dos automóveis da GM.

«Esperamos que 2023 seja um ano de transição no qual a indústria da moda percebe como partilhar informação precisa sobre sustentabilidade. Com maior cautela com as reivindicações de sustentabilidade e falta de dados de impacto ambiental comparáveis, esperamos mais regulamentação governamental sobre alegações de sustentabilidade», salienta Nicole Rawling, cofundadora e CEO da MII

[©Natural Fiber Welding]
À medida que a indústria de materiais de nova geração evolui, investidores e consumidores estão desejosos de escalar, ir para o mercado e estabelecer paridade nos preços. Para isso acontecer, refere o estudo da MII, é crítico adotar materiais de nova geração que sejam de elevada performance, sem recursos animais e preferíveis em termos ambientais. A MII define como materiais de nova geração aqueles que não incluem produtos animais e que são substitutos diretos preferíveis para materiais convencionais como couro, seda, pelo, penugem, lã e peles exóticas, usando várias abordagens de mimetização para replicar a estética e a performance dos seus homólogos. O think tank sem fins lucrativos separa ainda os inputs para estes materiais em seis categorias: derivados de plantas; micélio; cultura de células de animais; derivados de micróbios; materiais reciclados; e misturas.