Marta Costa não venceu, mas convenceu

A designer formada pela ESAD – Escola Superior de Artes e Design foi uma das representantes portuguesas no Concurso Europeu de Jovens Designers do CENIT, cuja final decorreu no início de dezembro no Porto e, embora não tenha arrecadado o primeiro lugar, mostrou que há novos talentos a emergir na moda nacional.

Marta Costa

The Unanswered Question, do compositor Charles Ives, foi o ponto de partida para a coleção de final de curso de Marta Costa, que a designer apresentou a concurso. A peça «fala sobre a história de um indivíduo que passa por diversas etapas durante a sua vida e cuja meta é encontrar respostas para as questões existenciais para as quais, na verdade, nunca ninguém tem respostas», explica. Por isso, «é uma coleção que tem muito de mim», revela ao Jornal Têxtil.

Marta Costa, que se assume como uma designer de womenswear, apresenta uma linguagem muito feminina, embora «hoje em dia já não acredite que haja essa separação, muito honestamente. Ou seja, penso no conceito, não tanto na identidade de género, e depois tento refletir o conceito através dos detalhes, dos materiais, das texturas, dos estampados», aponta.

Os materiais, retirados do universo da lingerie e do sportswear e activewear, foram aprovisionados num conjunto de empresas nacionais, da Lemar à Tintex, passando pela Lurdes Sampaio e RDD, uma indústria que Marta Costa conhece muito bem. «Tive a sorte de poder começar a trabalhar [numa agência têxtil] enquanto ainda estava a estudar e o meu foco foi sempre ser uma designer que faz a ponte entre o comercial e a moda atual. Interessa-me mesmo muito as questões da indústria e o trabalho que desenvolvo é muito industrial – faço gestão da produção das marcas e controlo a produção deles em Portugal», esclarece.

A caminho do mundo

A experiência de dois anos e meio neste emprego é, de resto, uma mais-valia que Marta Costa terá pena de deixar para dar os próximos passos no universo da moda. «Tenho pena de deixar o meu trabalho porque o conhecimento que estou a adquirir é mesmo impagável. Tenho contactado com marcas muito importantes e isso ensinou-me muito sobre a metodologia de trabalho», garante.

«Acho que a maior lição é mesmo aprendermos com os outros, com os erros, com as vitórias, e acho que principalmente nós, que estamos situados no Norte, somos muito privilegiados porque estamos extremamente perto das empresas e todas as empresas com as quais trabalho ou conheço são muito abertas a novos criadores, o que é muito importante, porque os novos criadores vão ser o futuro das empresas», assevera.

Aprofundar os seus conhecimentos fora do país é, contudo, um dos objetivos de Marta Costa. «Gostava de voltar a estudar, possivelmente em Londres ou até mesmo na Finlândia, gostava de fazer um mestrado em design de moda. Depois, possivelmente, se pudesse gostava de trabalhar ou fazer um estágio em paralelo, porque acho que é fazendo que aprendemos», afiança.

O sonho para a designer, que admira Virgil Abloh pelo «papel muito importante que teve naquilo que consideramos a moda contemporânea», seria trabalhar «em marcas conscientes, que apostem no desenvolvimento do produto e na sustentabilidade acima de qualquer coisa», elucida. Officine Générale, Simone Rocha e Acne Studios são algumas das marcas «que não só me identifico a nível estético, como também a nível de desenvolvimento de produto», acrescenta Marta Costa.