O terramoto terá causado prejuízos no valor de 10 mil milhões de dólares, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA, citado pelo Just Style. No entanto, os produtores de têxteis e vestuário marroquinos saíram relativamente ilesos – como deram conta, logo na altura, algumas empresas portuguesas que têm parceiros no país –, com a destruição a afetar sobretudo zonas mais remotas e os edifícios históricos na Medina de Marraquexe.
Marrocos é um importante centro produtivo para empresas, marcas e retalhistas europeias e será um dos pilares de recuperação da economia marroquina após o sismo. Em junho deste ano, o Ministro da Indústria e Comércio, Ryad Mezzour, indicou numa intervenção no parlamento do país que os exportadores de têxteis e vestuário de Marrocos representaram 44 mil milhões de dinares marroquinos (mais de quatro mil milhões de euros) em 2022.
Este «número recorde», como destacou Ryad Mezzour, confirma que Marrocos está no bom caminho para aumentar em 8% as vendas de têxteis e vestuário no estrangeiro, apesar das condições desafiantes nos mercados europeus – os maiores consumidores de produtos têxteis feitos em Marrocos.
O governo marroquino espera que isso ajude a impulsionar a economia nacional, numa altura em que o país enfrenta custos enormes para a reedificação após o terramoto de setembro. Nesse mesmo mês, o Rei Mohammed VI indicou que Marrocos planeava gastar pelo menos 120 mil milhões de dinares marroquinos ao longo de cinco anos nesse esforço de reconstrução.
O país vai receber ajuda internacional, tendo o Banco Europeu de Investimento (BEI) revelado a 11 de outubro que iria ceder um empréstimo de mil milhões de euros a Marrocos para «reparar os danos causados pelo terramoto e reconstruir melhor, com foco em soluções resilientes e infraestrutura sustentável, aproveitando os recursos e conhecimento do banco».
Os novos serviços de energia e de transportes ajudarão o sector têxtil e do vestuário marroquino, com o pacote do BEI a basear-se em empréstimos passados para modernizar o sistema ferroviário do país.
Formação em foco
Ao mesmo tempo, o governo avançou com planos para aumentar diretamente a eficiência da indústria têxtil e do vestuário. A 26 de setembro, lançou o projeto “Formação de qualidade para o emprego e o empreendedorismo no sector têxtil, do vestuário e do couro em Marrocos”, no valor de 1,89 milhões de euros, através do qual vai financiar cerca de 500 formadores, tutores e estágios. O projeto conta ainda com o apoio técnico da casa de moda de luxo francesa Christian Dior e da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. O projeto é também apoiado financeiramente pela Alwaleed Philanthropies, uma associação não-governamental sediada na Arábia Saudita.
O Ministro da Inclusão Económica, Pequenos Negócios e Emprego, Younes Sekkouri, revelou que o objetivo é ajudar a indústria têxtil e de vestuário, «preservando empregos, consolidando a sua posição no mercado internacional e transformando-o para lidar com a forte concorrência», enfatizando o envolvimento de todos os parceiros da indústria no apoio ao talento da juventude marroquina e a eficiência de instituições nacionais de formação profissional.
Omar Sajid, vice-presidente da AMITH – Association Marocaine des Industries du Textile et de l’Habillement, considera que «este projeto é um excelente ponto de partida para impulsionar uma nova dinâmica neste sector estratégico», acrescentando que a AMITH sempre sublinhou a importância do financiamento da formação, incluindo o seu apoio à ESITH – École Supérieure des Industries du Textil et de l’Habillement, universidade especializada nesta indústria. Omar Sajid acredita que a formação adicional ajudará o sector a lidar com a evolução das necessidades, especialmente à medida que faz a transição para uma produção centrada na sustentabilidade e têxteis técnicos.