A pouco mais de dois anos da liberalização do comércio internacional de têxteis e de vestuário, a indústria têxtil e do vestuário portuguesa continua a sua preparação. O ano de 2001 foi positivo, contra o que se poderia esperar, tendo em conta o arrefecimento da economia dos principais mercados mundiais. Contudo, os principais indicadores permitem detectar uma forte pressão nas margens e na rentabilidade das vendas, levando a concluir que o poder de mercado está, cada vez mais, na mão dos clientes. O último ano fica, também, marcado por um marco significativo na história da ITV nacional: a passagem da barreira dos 5.000 milhões de euros de exportações. Neste campo, é de realçar que, segundo o Banco de Portugal, as vendas ao exterior das indústria exportadoras mais tradicionais, têxteis, vestuário e calçado, foram das que mais contribuíram para os ganhos de quota de mercado das exportações nacionais. Na opinião do Banco Central, este aumento das exportações poderá dever-se à interrupção do processo de deslocalização das empresas exportadoras para outros países de mão-de-obra mais barata e ao redireccionamento das vendas para o mercado exterior num contexto de enfraquecimento da procura interna. Os dados do Observatório Têxtil não permitem corroborar esta opinião, já que se detecta que o crescimento das exportações têxteis se deverá, em grande parte, a factores como o grande aumento do peso de produtos como os têxteis técnicos. O crescimento do volume de negócios da ITV em 2001 é tanto mais significativo tendo em consideração a fraca performance da economia nacional. De facto, de acordo com as estimativas do Banco de Portugal, em 2001 a economia portuguesa terá registado um crescimento económico de 1,8%, o que traduz uma desaceleração face ao crescimento observado no ano de 2000, que se situou em 3,6%. A composição do crescimento económico em 2001 terá mantido a tendência, observada nos últimos dois anos, de redução do contributo da procura interna, apenas parcialmente compensada pelo aumento do contributo da procura externa líquida. Em 2001, estima-se que o contributo da procura interna para o crescimento do produto tenha diminuído para 1,0 p.p. (3,4 p.p. no ano anterior), enquanto que o contributo da procura externa terá sido ligeiramente superior ao de 2000, situando-se nos 0,9 p.p. (0,2 p.p. em 2000). O consumo privado em 2001 acentuou a tendência de desaceleração iniciada em 2000, com o seu crescimento a situar-se em 0,9% (2,8% em 2000). Esta evolução traduz um ajustamento das decisões de consumo, após os crescimentos muito elevados registados em 1998 e 1999 (7,2% e 5,3%, respectivamente). A evolução do consumo privado tem subjacente uma continuada deterioração da confiança dos consumidores. O indicador de confiança dos consumidores, que resulta da média de diversas questões de carácter qualitativo, tem vindo a diminuir desde o primeiro trimestre de 2000. Esta evolução é comum às diversas questões que compõem o indicador, registando uma aproximação dos saldos de respostas extremas aos valores mínimos da década de 90. O investimento, avaliado pela formação bruta de capital fixo registou, em 2001, um crescimento em volume virtualmente nulo, para o que contribuiu especialmente a evolução da sua componente de equipamento (máquinas e material de transporte). Estima-se a diminuição desta componente de 0,8% em 2001, o que compara com um crescimento de 4,5% em 2000. As exportações de bens e serviços terão crescido 3,3% em 2001, após um crescimento de 7,9% em 2000. Segundo o Banco de Portugal, as exportações de mercadorias também desaceleraram em 2001, em termos nominais e em termos reais. As exportações nominais para países extra-comunitários desaceleraram de 34,7% em 2000 para 4,4% em 2001, enquanto que as expedições para países da U.E. cresceram apenas 6,2% face a uma taxa de 10,5% em 2000. Segundo o Banco Central, apesar da sua redução, estas taxas de crescimento representaram um ganho de quota de mercado de exportação, já que o crescimento da procura externa relavente para a economia portuguesa terá crescido a taxas bastante inferiores. Contudo, para este ganho contribuiu, em parte, a forte aceleração das exportações de automóveis, cujo valor incorpora um efeito especial decorrente do facto de, durante 2000, se ter registado uma redução temporária das exportações da Autoeuropa. Descontando este efeito, que terá contribuído em perto de 1 p.p. para aquela taxa de variação, ainda assim se verificou uma evolução favorável das exportações de mercadorias portuguesas, acima da procura externa relevante para a economia portuguesa. Links para notícias relacionadas: Portugal cresce, Espanha dispara, França recua ITV aumenta volume de produção Têxtil aguenta queda do vestuário O empurrão dos têxteis técnicos Rentabilidade não acompanha aumento das vendas