Marcelo Almiscarado tem sido um dos nomes mais falados da mais recente geração de jovens designers, com o seu nome associado a diversas distinções. Em 2020, venceu, juntamente com Maria Carlos Batista, o concurso Bloom. Um ano antes, tinha sido o vencedor por Portugal no Concurso Europeu de Jovens Designers, promovido pelo CENIT. Um percurso que, como revela ao Portugal Têxtil, lhe permitiu que «pessoas que eu admirava há bastante tempo estarem agora atentas e identificarem-se com aquilo que eu desenvolvo» e também «desenvolver alguns projetos e ter trabalhado com algumas dessas pessoas que admiro bastante».
Na mais recente edição do Portugal Fashion, Marcelo Almiscarado apresentou a sua quinta coleção, que espelha o cenário atual do ponto de vista do designer. «O que me inspirou foi não ter inspiração, foi trabalhar com o que tinha, refletir sobre a falta de criatividade neste momento, reinterpretar códigos anteriores que tinha desenvolvido noutras coleções, materiais que tinha usado anteriormente e tentar fazer o exercício de, de alguma forma, comunicar tudo isso de maneira diferente, mas refletindo, na mesma, a minha identidade estética», explica.
Na passerelle, a coleção feminina destacou vestidos e saias, com uma paleta de cores onde o branco e preto se conjugaram com tons mais ácidos, como o amarelo, o verde e o laranja. Propostas que combinam com a cliente atual da marca, que Marcelo Almiscarado caracteriza como «alguém artístico, que se interessa pela intervenção manual na moda, pela experimentação estética. Possivelmente é alguém que trabalha em artes ou em algo muito criativo, mas também acho que é mais flutuante do que o que estou aqui a comunicar», assume.
As peças são igualmente pensadas para serem produzidas em pequenas quantidades. «Não tenho interesse em produzir em grande escala, não tenho interesse na industrialização, não é isso que contribui para a identidade da minha marca», considera o designer formado em Design de Moda pela Escola Superior de Artes e Design (ESAD). «É tudo em pequena escala, muito conectado comigo e com a pessoa que compra, é uma espécie de conexão do próprio criador com o consumidor», acrescenta.
O futuro da marca vive igualmente desta ligação e sem ambições previamente definidas. «Tudo o que fiz até agora foi semiplaneado, foi o aproveitamento das oportunidades», refere Marcelo Almiscarado em relação à sua carreira de quatro anos. «Por isso, vou desenvolvendo conforme o que se encaixa melhor com o panorama em que estou e as oportunidades que surgem e me interessam», sublinha.
Também por isso, subir à passerelle principal do Portugal Fashion não é uma prioridade. «A evolução no Bloom tem sido frutífera. De outra forma, creio que não teria uma plataforma para mostrar os meus projetos e para estruturar o desenvolvimento da minha estética, do meu projeto e da minha identidade criativa», aponta. Continuar ou ascender à passerelle principal do evento «é algo que estou a deliberar, ainda não está definido», revela ao Portugal Têxtil.
O mesmo acontece com os próximos passos. «Não tenho nenhuma ambição na moda. Muitos dos sonhos que tive já foram cumpridos neste período de tempo em que desenvolvi cinco coleções», confessa Marcelo Almiscarado.