O estudo “Synthetics Anonymous 2.0” conclui que não houve praticamente qualquer progresso por parte da indústria da moda para pôr de lado as matérias-primas sintéticas. Foram analisadas 55 marcas de moda em relação às suas políticas em termos de materiais sintéticos, reciclagem, objetivos climatéricos e posição face aos elementos principais da Estratégia Europeia para os Têxteis.
Das 55 marcas, apenas uma, a Reformation, está empenhada em acabar com a utilização de sintéticos virgens até 2030 e reduzir a utilização de todos os sintéticos (virgens e reciclados) para menos de 1% do sourcing total até 2025.
Das 33 empresas que revelaram o volume e percentagem de sintéticos usados, a marca de fast fashion Boohoo surge no topo como a que mais depende de sintéticos em termos percentuais, com 64% do total anual, sendo igualmente a marca que tem maior percentagem de poliéster nos seus produtos têxteis (54%). A Nike e a Inditex reportaram os maiores volumes de sintéticos usados nos seus produtos, tendo revelado volumes de 166.343 e 131.548 toneladas, respetivamente.
Estratégia Europeia para os Têxteis apoiada
A maioria da indústria está, segundo o estudo, a arrastar os pés e a não reconhecer que os sintéticos são uma questão importante e um fator-chave por detrás da crescente poluição por microfibras. 22 de 55 empresas (40%) ficaram na categoria Zona Vermelha, com pouca ou nenhuma transparência em relação à sua estratégia sobre o uso de fibras sintéticas, enquanto 25 (45%) não têm qualquer política evidente de microfibras.
«Estamos desapontados com a crescente dependência das marcas de moda de combustíveis fósseis sujos no meio de uma emergência climática. A moda tem de limpar a sua atuação e reduzir a sua adição a fibras sintéticas, uma vez que os seus impactos negativos estão agora vastamente documentados: da poluição por microplásticos que está a chegar aos nossos rios e oceanos a pilhas de roupa deitadas em aterros de países a sul do Equador. As conclusões do estudo sublinham uma desconexão alarmante entre as alegações e metas de sustentabilidade da indústria da moda e a falta de um progresso real mensurável no terreno», explica Urska Trunk, diretora de campanha na Changing Markets Foundation.
«Com a proposta recente da Estratégia da UE, a era das empresas que fazem o seu próprio trabalho de casa acabou. As marcas estão a mostrar um forte apoio à legislação e a Comissão deve agora assegurar que as marcas assumem a responsabilidade pelo desperdício da fast fashion e param as alegações de marketing livres que nos convencem que os produtos são “verdes”. Mas também precisam de ir muito mais longe para clarificar as práticas obscuras da cadeia de aprovisionamento e estabelecer regras fortes para combater a sobreprodução», afirma Emily Macintosh, responsável sénior de políticas para os têxteis do European Environmental Bureau.
Face a tudo isto, a Changing Markets Foundation pede «uma pressão regulamentar sustentada para reabilitar a dependência da moda das fibras sintéticas e colocar a indústria da moda no caminho certo».