Não é apenas o sector têxtil que lida actualmente com a falta de mão-de-obra. A indústria do calçado, que emprega cerca de 54.300 pessoas envolvendo 1.500 empresas, está igualmente com este problema, anuncia o jornal Correio da Manhã. Para fazer face às necessidades actuais das empresas, serão necessários mais três mil trabalhadores. Esta falta de recursos humanos dá-se sobretudo devido ao forte desenvolvimento que este sector tem vindo a sofrer nos últimos 10 anos, pois na década de 90 o calçado português afirmou-se fortemente no mercado europeu como concorrente do calçado italiano, prestigiado pela sua qualidade. «Não há desemprego na indústria do calçado. Pelo contrário, há um défice de mão-de-obra face às necessidades das empresas», afirma Fortunato Frederico, Presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes e Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS). Numa época em que economia do nosso país abranda e os despedimentos aumentam, «a maior preocupação centra-se na elevada taxa de inflação, na medida em que Portugal exporta 90% da sua produção para países com uma taxa de inflação bastante inferior», acrescenta Fortunato Frederico. Mas, apesar de tudo os empresários do calçado mantêm «uma clara confiança no futuro», acrescenta. É esta visão positiva quanto ao futuro do sector, que impulsiona os empresários a fazerem um investimento de 10 milhões de contos em dois planos estratégicos: o FATEC (Fábrica de Alta Tecnologia) e o Shoemat (Materiais Técnicos para calçado). A aposta na tecnologia, vem reforçar o objectivo alcançado, em parte, pelo projecto FACAP (Fábrica de Calçado do Futuro), que consistiu no desenvolvimento de 50 soluções tecnológicas inovadoras, que permitem à indústria nacional exportar tecnologia para os cinco continentes. Com estas iniciativas e com investimentos feitos na ordem dos 20 milhões de contos na década de 90, o sector está hoje dotado de empresas com tecnologia moderna. Sendo assim, não é de admirar que entre 1995 e 2000, a produção de calçado tenha aumentado 7,7%, atingindo um total de 104,5 milhões de pares.