Com o objectivo de complementar a análise da Indústria Têxtil e do Vestuário em 2004, o Observatório Têxtil do CENESTAP recorreu à elaboração dum inquérito de conjuntura de forma a avaliar o sentimento empresarial relativamente ao ano que passou e às perspectivas para 2005, o ano da liberalização.
Neste contexto, foi proposto aos inquiridos que avaliassem a evolução entre 2003 e 2004 de um conjunto de indicadores (produção, margem comercial, investimento, número de trabalhadores, compras, distribuição e perspectivas da actividade para 2005) segundo cinco níveis (1- muito pior; 2- pior, 3-igual; 4-melhor; 5- muito melhor).
A amostra foi constituída por 125 empresas abrangendo todos os sectores da ITV, constata-se porém, uma clara predominância das empresas de confecção de malha e de tecido, uma vez que representaram 41,3% das respostas, seguindo-se os subsectores de acabamentos/tinturaria/estamparia e os têxteis-lar com pesos de 13,5% e 10,8%, respectivamente.
Em termos médios, 50,41% das vendas destinam-se ao mercado externo, ligeiramente inferior aos 58,0% do total da ITV. Constatando-se também que cerca de metade das empresas exporta mais de 50% da produção. Na repartição regional, denota-se uma forte concentração geográfica na região norte, 78,2% das empresas inquiridas localizam-se no distrito de Braga e do Porto, com destaque para o primeiro (48,4%).
Na generalidade, é visível pela percepção qualitativa dos agentes inquiridos que o ano de 2004 foi ligeiramente pior do que 2003. Todavia, esta evolução negativa não foi muito acentuada, pois a média das respostas está entre o nível 3 que avalia 2004 como sendo igual a 2003 e o nível 2 que avalia o ano transacto como pior que 2003. É importante registar que a apreciação mais baixa se referiu à margem comercial (média de respostas de 2,3 pontos) traduzindo uma redução da rentabilidade das empresas no ano que passou impulsionada pela deterioração da conjuntura nacional e internacional e pela necessidade de competir pelo preço.
Uma das conclusões que podemos retirar das respostas dadas pelas empresas é a redução da produção com etiqueta e especificações técnicas do cliente, uma vez que, ¾ das empresas avaliaram este indicador como pior ou igual a que em 2003 em contrapartida do aumento da produção desenvolvida em parceria com o cliente. Não deixa de ser surpreendente que 70,8% das empresas detentoras de marca própria declararam ter mantido ou aumentado a produção face a 2003.
No que respeita ao investimento merece referência a fraca avaliação do investimento material. Com efeito, metade dos inquiridos afirma ter reduzido o investimento em equipamento, enquanto apenas 18,3% deu uma resposta positiva. Todavia, os dados sugerem uma aposta no investimento imaterial (marketing, inovação, planeamento e formação) por parte destas empresas, 73,9% aumentaram ou mantiveram os valores investidos em 2003.
A grande maioria das empresas não aumentou o número de funcionários afectos directamente à produção, 40% declarou ter reduzido o número de trabalhadores enquanto 51,2% manteve o valor do ano anterior. A resposta média a esta questão fixou-se nos 2,6 pontos. Por outro lado, quando inquiridos sobre a variação do número de funcionários afectos a outras áreas que não a produção, as respostas foram mais positivas, 72,9% mantiveram o pessoal e 16,1% contrataram mais funcionários.
Em termos globais as empresas da ITV mostram-se reticentes face a 2005, porém, apenas 41,9% esperam que 2005 seja pior que 2004, enquanto 30,8% estima que seja igual o ano analisado e 27,4% confiam na melhoria da actividade económica no corrente ano.
Tendo como base o sector de cada empresa denota-se que são as empresas de fiação e acabamentos as mais afectadas pela conjuntura revelando-se mais pessimistas relativamente ao futuro. Por outro lado, é nos têxteis lar que se registam as melhores avaliações, refira-se que este foi o sector que mais lojas próprias abriu durante 2004.