Made in Italy” sem UE

Após um período de declínio, a indústria têxtil e de vestuário italiana está novamente a obter um feedback positivo ao jogar o seu trunfo: o “made in Italy”. Joe Ayling, do just-style.com, discorre sobre o significado das etiquetas “made in” para Itália e como um conjunto de marcas de luxo conservou a reputação de qualidade do país. Embora as propostas da UE para tornar obrigatório a indicação do país de origem nas etiquetas tenha ficado em banho-maria, a maior parte dos retalhistas europeus já praticam isso, uma vez que as regras de origem nas etiquetas já existem nos EUA. Para a Itália, a etiqueta significa que pode vender os seus tecidos e vestuário com base numa reputação de qualidade e know-how. Contudo, a data de 30 de Setembro de 2013 – quando a Comissão Europeia deverá apresentar um estudo sobre a aplicabilidade de um projecto de etiquetagem de origem – não é suficientemente cedo para os produtores italianos. Marcas de luxo italianas como Loro Piana, Ermenegildo Zegna, Gucci, Salvatore Ferragamo e Prada são estandartes da etiqueta “made in Italy”, com a procura a continuar a desafiar a crise. Com efeito, as vendas de artigos de luxo deverão aumentar 8% este ano, após terem atingido níveis recordes em 2010, segundo um novo relatório da consultora Bain & Company. Na Istanbul Fashion Apparel Conference, na Turquia, no início de Maio, Paolo Zegna, presidente do Ermenegildo Zegna Group, afirmou que a indústria têxtil e vestuário italiana foi forçada a reinventar-se após o encerramento em massa de fábricas e despedimentos no sector nos últimos cinco anos. «O que aconteceu a uma indústria florescente em Itália nos últimos cinco anos foi um grande golpe para o país. Após o grande impacto causado pela entrada da China no mundo desenvolvido, a indústria italiana foi capaz de pôr-se de pé, encontrar a sua própria forma de recuperar. Hoje, podemos ser mais pequenos mas somos mais fortes, com um futuro potencialmente mais forte», explicou Zegna. Pier Luigi Loro Piana, director-excutivo adjunto da Loro Piana, indicou ao just-style que não seria «prático nem conveniente» para a empresa fazer o sourcing fora de Itália. A Loro Piana, que tem 135 lojas directamente operadas em todo o mundo, vende vestuário e tecidos de gama alta “made in Italy”. Piana revelou ainda que, «no início de 2000, a globalização surgiu como um grande inimigo para a nossa economia e particularmente para as empresas de produção. Embora continuemos como um país de exportação, tivemos algumas restrições efectivas causadas pela produção em Itália versus países emergentes. Tínhamos custos laborais extremamente altos, energia cara, regras restritivas e procedimentos administrativos e leis demasiado complicados. Ainda temos esses problemas mas, por outro lado, temos algumas vantagens, incluindo know-how, tradição e consciência de qualidade. Sabíamos que Itália podia perder massa em produção de baixo valor acrescentado em comparação com os novos concorrentes, que podiam produzir grandes quantidades por preços baixos. O chamado mercado de luxo cresceu e começou a expandir-se de forma consistente, dando-nos uma boa oportunidade». Zegna declarou que as exportações italianas de têxteis aumentaram 10,4% em 2010, significando que as marcas internacionais estão também dispostas a pagar mais por artigos “made in Italy”. Don Baum, vice-presidente sénior de produção mundial na Polo Ralph Lauren, afirmou na Istanbul Fashion Apparel Conference que a consistência de performance e execução determina onde a empresa se aprovisiona – com a Itália a cumprir ambos os requisitos. «Fazemos o sourcing de muitos produtos em Itália, percebemos o valor que conseguimos aí e pagamos muito por isso», indicou. «Itália fez um óptimo trabalho em relação àquilo que representa. O país está centrado na qualidade e know-how e o Made in Italy significa verdadeiramente alguma coisa. Sei também que quando lá vou os vendedores têm uma paixão por aquilo que fazem. Eles gostam verdadeiramente de fazerem aquilo que fazem, adoram trabalhar nos cortes e perguntar o que mais podem fazer e oferecer. São muito empreendedores e muito dedicados a pensar no que vem a seguir», justificou Baum. A indústria têxtil e vestuário italiana regressou às suas raízes para encontrar um nicho à porta. E embora a regulamentação da UE nas etiquetas “made in” possa apenas ajudar a levar esta mensagem, a maior parte das marcas italianas já exibe isso nos seus produtos.