A Maconde tem sido uma das dinamizadoras da internacionalização da ITV nacional, não só pela presença em novos mercados, como pelo entusiasmo com que se envolveu no projecto da Anivec/Apiv, tudo no âmbito de uma nova estratégia comercial e produtiva que
Jornal Têxtil (JT) – Há alguma alteração estratégica da empresa que gostaria de destacar?
JT – E a presença nesta recente edição da CPM, faz parte da estratégia a aposta na Rússia?
JS – Sim, em termos comerciais, vamos apostar em novos mercados posso dizer que o numero de horas de voo da nossa equipa comercial triplicou, e mesmo eu, actualmente, passo 65% do meu tempo fora de Portugal -, entre os quais a Rússia, onde estivemos ainda agora na CPM. Estamos a recorrer a estudos de mercado detalhados sobre os mercados da Europa de Leste, parecendo-nos alguns muito interessantes, designadamente a Polónia, que é o pais deste grupo com um poder de compra mais elevado, a República Checa e a Roménia, que já não nos interessa tanto como experiência produtiva – e conhecemos bem esta realidade -, dado o preço da mão-de-obra ser relativamente elevado, mas como mercado comercial. De qualquer modo, o mercado produtivo que nos parece mais interessante é o de Marrocos, pois tem um preço de mão-de-obra aceitável e uma legislação laboral relativamente flexível. Devemos pensar cada vez mais em apostar no mercado mediterrâneo, considerando sobretudo os países do norte de África.
JT Continuam a produzir para marca própria e para private label?JS Sim claro, o private label ainda é uma parte importante da nossa oferta, num mercado onde só as marcas são reconhecidas pelo consumidor é normal que os clientes também queiram têr a sua própria marca nos produtos, estou certo que será sempre significativo nas nossas vendas. No entanto temos vindo a consolidar a nossa marca Oxford que está bem implantada em Portugal e Espanha assim como a linha Alto que se encontra nos pontos de venda da Macmoda, e que tem conhecido um desenvolvimento muito forte.
JT – Tem produção própria e subcontratada; vai aumentar alguma destas componentes?JS Esperamos que as melhorias de processo que estamos a introduzir representem um aumento da produtividade notório até ao final deste ano, no que diz respeito a subcontratação, ela varia de acordo com as vendas da empresa. Sendo sempre previligiada a produção interna onde a qualidade e serviço são melhor controláveis, a subcontratação é desejável que cresça, mas sempre pelo efeito da subida das vendas.
JT – Já se conseguem quantificar alguns resultados destas renovações que têm vindo a fazer?
JS – Em termos de resultados para este ano já podemos adiantar que esperamos um aumento entre 4 e 6% do volume de negócios no segundo semestre de 2005, face ao período homólogo do ano anterior.
JT Qual o comentário que lhe merece actuação do Governo relativamente ao nosso sector?
JS Relativamente à actuação governamental neste sector, quer nacional, quer a nível comunitário, creio que é nula ou absolutamente passiva. O Governo herdou de algum modo as consequências de decisões capitais como a entrada da China na OMC. Nas medidas que lhe são directamente imputáveis, como o aumento do IVA, a alteração da lei da reforma e os sucessivos ajustes do preço dos combustiveis, que afectam directamente o consumo, a produtividade e competividade de qualquer sector creio que não deverá ter ponderado seriamente os efeitos directos no sector.
JT – Qual é a sua opinião sobre o papel das Associações?JS – As Associações têm feito o que é possível para promover as empresas, com ânimo, empenho e coração, como neste caso de internacionalização na CPM que agora ocorreu.
Portugal foi sempre sinónimo de qualidade, embora não seja de criatividade e de diversificação; devemos mostrar e promover essa qualidade internacionalmente.
JT – Qual é a sua opinião sobre a concorrência da Europa de Leste e da China?JS – A Europa de Leste tem qualidade de produto, mas tem ainda muita dificuldade de comunicação e uma imagem associada a baixo valor acrescentado.
Na China existe capacidade para fazer muito bom produto, os mercados americano e europeu estão inundados com bens de consumo de todas as espécies e com qualidade produzidos na China. O enorme investimento em técnologia de ponta alemã ou italiana associado a uma mão-de-obra abundante, jovem, fléxivel e também de menor custo criam um potencial e uma competividade sem paralelo, se somarmos a estes factores o enorme mercado consumidor doméstico que representam, devemos com realismo vê-los como uma ameaça em crescendo, sempre que falarmos em competir com produtos comparáveis.
Mas não é só a China, não podemos esquecer a India, o Paquistão, a Coreia o Vietname…
JT- Para já a China é mais conhecida por copiar do que por acrescentar valor ou criar…
JS É natural que assim seja, e especialmente nos produtos que são importados para os mercados ocidentais. São os clientes europeus e americanos que levam os modelos melhor adaptados comercialmente ao seus mercados para desenvolver e copiar, a moda no Oriente, como qualquer manisfestação social ou cultural é diferente.
JT – O que gostaria de adiantar sobre o futuro na Maconde?JS – A Maconde tem certamente futuro, e o mais importante é que ele está planeado, ponderado para que tenha sustentabilidade, mas talvez noutros moldes, sobretudo em termos produtivos. Temos muitos anos de experiência e de know-how, temos um produto excelente e um serviço bom. Os portugueses trabalham bem, e por isso já não são tão baratos, por isso também temos de pensar noutras soluções, mas os operadores nacionais são bons e rápidos, e sempre que pudermos privilegiaremos o trabalho nacional. Só que não podemos dizer antecipadamente onde vamos produzir no futuro, é como o caso da Volkswagen, podemos produzir em qualquer parte do mundo para nos ser possível aumentar o lucro mantendo a qualidade do que vendemos, que é o principal objectivo de qualquer empresa.