Luxo é parar o tempo

O verdadeiro luxo é agora a capacidade de parar o tempo, como defende Luc Perramond, director-executivo da divisão de relojoaria da Hermès, que apresentou o modelo “temps suspendu” (tempo suspenso), com preço a partir dos 18.000 francos suíços, que pára o tempo com o pressionar de um botão. Por 240.000 francos suíços pode adquirir um relógio Hublot, cujo tempo pode ser abrandado ou acelerado e outro que é todo preto, dificultando a visualização das horas – um luxo que pode custar acima de 15.000 francos suíços. «O valor de um relógio é não lhe dar as horas», afirma o presidente-executivo da Hublot, Jean-Claude Biver. «Qualquer relógio de cinco dólares pode fazer isso. O que estamos a oferecer é a possibilidade, por exemplo, de parar o tempo ou fazê-lo desaparecer… O tempo é uma prisão e as pessoas às vezes querem sair dela», acrescenta Biver. Entre os que abraçaram a tendência dos novos materiais encontra-se a Hublot, uma das marcas em mais rápido crescimento, bem como a sua rival mais jovem Richard Mille, cujos relógios em formato de barril custam mais de 60.000 euros. «A tendência agora é para materiais leves e novos», explica Biver, revelando que a Hublot comprou recentemente uma fábrica de fibra de carbono para garantir o abastecimento e está a investir em novos métodos de tingimento de metais e materiais diversos. No mundo da moda da relojoaria, os especialistas dizem que o preto domina, seguido pelo cinzento e os tons mate. E o minimalismo é o mote do estilo, em contraste com o período pré-crise de 2007 e 2008, quando estavam em voga os relógios desportivos, grandes e multi-funcionais. Esta tendência nos relógios está em consonância com o ambiente que se viveu na Semana da Moda de Paris, no mês passado, ilustrado nos desfiles de nomes como Chanel, Balenciaga e Celine, com uma acentuada utilização de tecidos escuros e novos materiais. Mas a indústria de relojoaria também está a ser empurrada para a reabilitação de modelos clássicos, incentivada pela procura chinesa. Como resultado, muitas marcas estão a reformar os modelos antigos, como a Tag Heuer, que no ano passado lançou uma nova versão do seu modelo Carrera com preço base nos 2.000 euros. «Os chineses preferem relógios clássicos, relógios com património», indica Guy Semon, vice-presidente da TAG Heuer para ciência e engenharia. «E como eles se tornaram clientes importantes, isso ajudou a impulsionar o regresso da marca a alguns dos seus modelos históricos». Fora da China, os especialistas dizem que os consumidores que sofreram a crise de 2009 estão também a procurar modelos clássicos que possam passar para os seus filhos. Estas tendências têm beneficiado marcas como Patek Philippe, Rolex, Vacheron Constantin e Hermès. «A Hermès é amplamente considerada uma marca de refúgio, o que explica a nossa resistência durante a crise», considera Perramond. «Os clientes do luxo, hoje em dia, já não querem produtos ostensivos. Querem algo mais leve, discreto, elegante e confortável». Se a Hublot é popular na Europa e nos UA, a Omega é um best-seller na China, enquanto a Ulysse Nardin e a Chopard são as marcas favoritas entre os russos, segundo revelam os executivos do sector.