Lurdes Sampaio marca pontos com Rfive Project

O projeto conjunto com a Fiavit e a Recutex, que transforma vestuário em fim de vida e sobras da confeção em novas malhas, foi apresentado em Paris e tem granjeado a atenção dos clientes internacionais.

Conceição Sá

O Rfive Project é resultado de cerca de dois anos de investigação por parte das três empresas e permite reciclar vestuário em fim de vida e desperdícios do processo de confeção para gerar novas malhas.

O processo inicia-se com a recolha dos resíduos têxteis, que são submetidos a uma seleção, separação e preparação das fibras têxteis recicladas, a que se segue a fiação do algodão reciclado e a produção da malha. A Recutex é a responsável pela reciclagem das fibras têxteis, a Fiavit usa as fibras resultantes para produzir fio e a Lurdes Sampaio utiliza o fio, que tem uma elevada percentagem de fibras recicladas, para produzir novas malhas, inseridas nas suas coleções e apresentadas a clientes de todo o mundo.

«A Recutex é a maior empresa de reciclagem em Portugal e tem um know-how e uma capacidade enorme, assim como a Fiavit», afirma Conceição Sá, CEO da Lurdes Sampaio. «Começámos a fazer testes e a tentar perceber que qualidades é que podíamos ter que seriam aplicáveis ao mundo da moda, que é a área da Lurdes Sampaio», revela ao Jornal Têxtil. «Tivemos que testar fios, testar qualidades, testar malha acabada e ver como o artigo fica. A Lurdes Sampaio está ligada a um mercado de moda muito exigente, trabalhamos com marcas muito conhecidas e conceituadas, os nossos artigos são de uma gama média-alta e por isso tínhamos de ter uma malha que as marcas pudessem usar e se encaixassem perfeitamente nos seus patamares de qualidade», esclarece.

O resultado foi apresentado internacionalmente na feira Fashion Rendez-Vous, em Paris, no início de julho e «a aceitação foi muito boa», afirma Conceição Sá. «A feira foi um sucesso a nível de visitas e de qualidade de visitantes e o projeto foi muito bem acolhido porque é um problema que as marcas têm: o que fazer aos stocks. As marcas não têm só stocks de peças, também têm stocks de tecido e têm o próprio desperdício que elas criam quando estão a produzir as peças na parte da confeção», adianta a CEO da Lurdes Sampaio.

O Rfive Project acaba por responder a essas três questões. «A ideia é apresentar o projeto ao cliente e este, em função do volume de negócio que tem, poderá contribuir para ter um fio, um produto 100% feito com o seu desperdício ou então poderá usar um mínimo de 20% de desperdício. Depende de cada cliente», explica Conceição Sá. «Havendo poucas propostas a nível europeu para dar saída a esta situação, os clientes acolheram este projeto de uma forma muito boa e temos já várias marcas interessadas», garante.

Reforço da sustentabilidade

O Rfive Project vai ao encontro de uma política sustentável que a Lurdes Sampaio adotou desde 2009 nas suas coleções. «Temos sempre uma percentagem, crescente desde essa altura, de malhas em várias combinações e estruturas na área da sustentabilidade», assegura a CEO. O poliéster raramente é usado e, quando acontece, é na versão reciclada. «Temos sempre um conceito muito natura e todas as coleções são trabalhadas nesse conceito, harmoniosas mesmo nas composições e nas próprias cores. Trabalhamos muito as fibras naturais, as que já existem e mesmo outras que possam estar a surgir no mercado, que poderemos testar. É um conceito que foi sempre a nossa identidade e vai continuar a ser», acrescenta.

Uma identidade que vai ao encontro da tendência do mercado, já que além da Escandinávia, que desde sempre mostrou uma apetência por artigos mais sustentáveis, regista-se igualmente uma forte procura na Alemanha e França, «sendo este último um mercado importante para a empresa, com marcas que não tinham o tema da sustentabilidade nas suas coleções, mas que começaram também a ter», desvenda Conceição Sá.

De resto, salienta a CEO da Lurdes Sampaio, «estamos todos a evoluir nesse sentido. A própria comunidade europeia também tem medidas que, por si só, vão obrigar a que muitas coisas tenham de mudar, portanto, forçosamente, as marcas também têm que se adaptar e nas suas coleções vão associar-se, de forma a que grande parte das suas propostas sejam sustentáveis e obedeçam a determinados requisitos».

Depois da queda ligeira registada no volume de negócios no ano passado, o negócio está num bom momento. «O primeiro semestre do ano está a correr muito bem, está a ser muito positivo e esperemos que assim continue até ao final do ano. Estamos com valores de crescimento muito interessantes e temos tido bastante trabalho. Estamos confiantes que vai ser um ano muito bom», conclui Conceição Sá.