Se as tendências de moda estão destinadas a ser um sinal dos tempos, o estado das tendências também pode ser um indicador do fluxo da cultura. À medida que a indústria da moda amadurece na era digital, as tendências não estão apenas a chegar e a partir a diferentes ritmos, mas também a emergir de fontes novas e diversificadas. Todos os dias parece haver uma nova tendência e manter-se atualizado pode ser uma tarefa inglória.
«Durante muito tempo, as tendências vieram da cultura pop e das passerelles», afirma Roopal Patel, diretora de moda da Saks Fifth Avenue, à W Magazine. «Mas, atualmente, com a tecnologia, as tendências também vêm de recursos e lugares muito mais obscuros do que se poderia pensar», explica.
Além das tendências que agora estão a ser ditadas pelos adolescentes em redes sociais como o Instagram, estas também são disseminadas por diferentes áreas da cultura, acrescenta Patel. À medida que os consumidores se preocupam mais com o bem-estar, por exemplo, os designers estão a prestar mais atenção ao desporto, daí a proliferação do athleisure. O mesmo vale para as preocupações éticas e ecológicas.
«Todos se questionam quando esta tendência do athleisure vai desaparecer», aponta Patel. «Mas os designers estão a observar como as pessoas estão a viver o quotidiano. Antes, só calçavam sapatilhas para o ginásio e agora têm sapatilhas para cada aspeto da sua vida», prossegue.
Assim, algumas tendências acabam por ter mais vida útil, considerando que estão em sintonia com aquilo que o consumidor precisa e não apenas com aquilo que ele quer num determinado momento. Claire Distenfeld, fundadora da Fivestory, acredita que hoje as tendências vêm de muitas e diferentes fontes e acabam por circular mais lentamente do que nos anos anteriores. «As tendências vão ficando cada vez maiores, mais difundidas e aprovadas por todas essas diferentes plataformas» admite. O cor-de-rosa millennial, uma das cores vencedoras das últimas estações de moda, é um exemplo de uma tendência que transitou de uma pequena comunidade de criativos para as grandes empresas, aponta.
É por essa mesma razão, no entanto, que Bruce Pask, diretor de moda masculina na Bergdorf Goodman, acredita no oposto. «Acho que entramos e saímos de tendências muito mais rapidamente do que no passado, simplesmente porque há muita informação visual lá fora», explica. Já Patel mostra-se dividida, afirmando que há dois tipos de consumidores quando se trata de seguir as tendências, os que seguem o imediatismo das redes sociais e os que acompanham os tempos das passerelles e do calendário tradicional.
Há um aspeto das tendências, contudo, que está certamente mais acelerado do que nunca: a nostalgia. A moda é cíclica e o velho torna-se novo na passerelle pela intervenção do rasgo criativo dos designers – veja-se o regresso da estética dos anos 1980 este ano. Mas à medida que os consumidores mais jovens se tornam mais influentes e revivalistas, as viagens ao passado são cada vez mais frequentes. «Fiquei emocionada e surpresa ao ver a Juicy Couture voltar com a Vetements», reconhece Patel sobre este fenómeno. «Está a regressar para uma nova geração», sublinha.
Todavia, agora, os consumidores estão tão informados que, muitas vezes, sabem exatamente o que querem e não precisam de indicações sobre o que é ou não tendência. Depois de as botas de cristal da Saint Laurent cruzarem a passerelle, por exemplo, Patel recorda que, no dia seguinte, havia já uma lista de espera para o modelo. Não é exatamente “ver agora/comprar agora”, mas é indicativo de uma cultura em que as tendências são definidas imediatamente. «Na Bergdorf Goodman, recebemos muitas vezes pedidos de peças imediatamente depois de serem usadas por músicos», revela Pask.
Ao mesmo tempo, as celebridades também estão agora a vestir-se com base no que veem em jovens ou influenciadores nas redes sociais, pelo que a cultura pop já não está tanto na posição de ditadora, mas na de observadora. «A exposição é o melhor amigo de uma tendência, mas também é o pior inimigo», considera Claire Distenfeld. Por definição, uma tendência é algo que um coletivo de pessoas segue mas, “estar na moda” é estar um passo à frente de todos os outros. É por esta razão que os buyers se cansam frequentemente de uma tendência antes de esta atingir o público mainstream. «É engraçado, porque para mim, “tendência” é realmente a pior palavra», afirma Distenfeld. «É uma forma de dizer: “Esta é a forma de se parecer com toda a gente». Não obstante, no final do dia, Distenfeld também reconhece que a tendência em si nunca vai sair da moda.