A nova legislação laboral que entrou em vigor em Janeiro é, provavelmente, o maior abanão na história de regulação do mercado de trabalho na China. Para proteger os direitos de trabalho individuais nas províncias continentais, a lei aplica-se tanto a empresas locais como detidas por estrangeiros – e vai certamente ter impacto no tradicional centro têxtil e de vestuÁrio do Delta do Rio das Pérolas, de acordo com os principais players. Os produtores de vestuÁrio de Hong Kong estão agora a centrar-se na revisão das suas estratégias para ultrapassar os previsíveis aumentos de custos sob a nova legislação, numa altura em têm jÁ contas pesadas devido aos regulamentos ambientais, éticos e de segurança impostos pelos mercados estrangeiros. A Luen Thai Holdings, uma das maiores fornecedoras da cadeia de aprovisionamento de vestuÁrio, estÁ a monitorizar o efeito da legislação laboral enquanto se mantém pronta para rapidamente usar as suas operações de produção no estrangeiro, se necessÁrio. Henry Tan, CEO da Luen Thai e presidente da General Chamber of Textiles de Hong Kong, prevê que a lei tenha efeitos diferentes na China continental. A região costeira é muito mais desenvolvida que o interior e as regiões ocidentais», explica Tan. Acredita, por isso, que a nova legislação laboral é muito avançada para muitas províncias. Se houver maior flexibilidade no como e onde a lei terÁ efeitos, pode ser mais fÁcil para as províncias menos desenvolvidas se adaptarem. Apesar da nova lei ter sido ratificada, a sua interpretação tem ainda de ser determinada, o que pode levar algum tempo, de acordo com Tan. Contudo, prevê que, com ou sem a nova legislação laboral, é inevitÁvel que algumas fÁbricas fechem na província de Guangdong, devido a factores económicos e à feroz competição dos países vizinhos, sobretudo quando os custos do trabalho da China continental ficarem três ou quatro vezes acima dos do Vietname, Camboja ou Blangladesh. A Luen Thai tem 12 fÁbricas de produção em nove países, por isso pode mudar a produção para reduzir os riscos. No entanto, 60% da sua produção permanece na China continental. No seu relatório interino de 2007, a empresa sublinha o efeito negativo do aumento dos custos laborais na China juntamente com a valorização da moeda, apesar da Luen Thai registar o seu volume de negócios semestral mais elevado desde que estÁ cotada na Bolsa de Valores de Hong Kong (2004). O CEO afirma, no entanto, que a sua estratégia actual é reduzir a OEM (Original Equipment Manufacturer) no continente, até porque os clientes da Luen Thai estão a reduzir aí as suas encomendas. A Luen Thai tomou igualmente vÁrias medidas na gestão de recursos humanos na China (com os respectivos custos associados) que resultaram na atribuição de um prémio de gestão em Hong Kong pela sua infraestrutura de recursos humanos na sua “Cidade de Aprovisionamento” de 139.350 m² em Dongguan. Agora, Tan quer impulsionar as operações em alguns países em desenvolvimento onde os custos de produção são mais baratos. Também pretende rever o conceito “design-to-store que se dirige ao mercado dos EUA, assim como aumentar a exposição aos mercados não-EUA e estÁ a ponderar desenvolver o mercado de consumidores da China continental. Produção sustentÁvel para reduzir os custos O grupo Esquel, líder na produção verticalmente integrada de camisas e sedeado em Hong Kong, é um produtor para quem as leis laborais da China continental não representam grande novidade, de acordo com a administração. No mês passado, o director executivo John Cheh falou na Câmara de Comércio Americana em Hong Kong, afirmando que as operações em curso de responsabilidade social e ambiental da empresa significavam que a nova legislação teria efeitos limitados na Esquel. Como produtor de qualidade, a Esquel prevê manter-se na província de Guangdong, acreditando que não hÁ necessidade de se transferir para cidades mais pequenas ou para províncias vizinhas. Contudo, o aumento dos custos de produção na China continental continua a manter a empresa alerta. A Esquel estÁ também a ponderar uma expansão das suas operações no estrangeiro. No entanto, Cheh não é pessimista quanto ao futuro da indústria. Apesar da ITV estar a enfrentar tempos difíceis, acredita ainda ser possível dirigir operações lucrativas. Investimento em maquinaria para depender menos dos custos com trabalhadores, eliminação de postos de trabalho desnecessÁrios e uma eficiência melhorada são parte da receita para o sucesso. O director da Esquel acredita também na sustentabilidade. Reduzir o consumo de energia e Água, envolver-se em processos de reciclagem e investir em tecnologias “verdes” estão entre as suas propostas de redução de custos. Além disso, acredita que a formação de parcerias entre fornecedores e retalhistas pode eliminar alguns procedimentos da lei laboral, o que irÁ permitir a partilha dos custos e a sua consequente redução. Em conclusão, Cheh acredita que ou as empresas são inovadoras ou vão ser ultrapassadas. Admite ainda que a nova lei laboral é um fenómeno saudÁvel, que vai assegurar que os players mais fortes sobrevivam e prosperem.