A empresa, que manteve o know-how da Prata & Borges, fundada em 1980 pelo pai dos atuais sócios, Ana e Filipe Prata, esteve sempre vocacionada para a produção de vestuário em tecido, mas, «nos últimos 20 meses talvez, voltámos a produzir alguma parte de malhas, quase tudo para a [marca própria] Daily Day e residualmente para o private label», revela Filipe Prata, sócio da LaGofra e sócio-gerente da Daily Day. «Estamos a abandonar um pouco os tecidos delicados mais por uma questão de mercado, ou seja, as sedas e materiais equivalentes estão a ficar algo mais fracos», explica ao Portugal Têxtil.
A LaGofra, que emprega 53 pessoas, apresenta-se agora como uma empresa com «flexibilidade para diferentes tipos de produtos [desde saias aos casacos, vestidos e camisas] e diferentes tipos de matérias-primas», resume o sócio.
A pandemia causou mossa na empresa, com uma grande queda no volume de negócios. «A LaGofra é uma fábrica que se especializou a trabalhar para marcas independentes e para designers. Em termos económicos, isso representa empresas pequenas que, obviamente, se ressentiram muito com a pandemia. E, até hoje, isso não mudou. Não posso dizer com toda a certeza que uma parte deles encerrou, mas posso dizer que, pelo menos uma parte deles, está parada ou está muito doente», afirma Filipe Prata.
Por isso mesmo, a LaGofra está atualmente em busca de novos compradores, tendo participado em feiras internacionais na Alemanha, como a Munich Fabric Start, e em França, como a Première Vision Paris, para «reconstruir a carteira de clientes», indica. O cliente-alvo, contudo, mantém-se. «Pensamos até que, como temos muita capacidade para desenvolvimento de produto, podemos acolher mais gente que está a querer criar as suas marcas», reconhece o sócio da empresa. «Há gente que tem o sonho [de criar uma marca de vestuário] e nós vamos ajudá-los no sonho, no desenvolvimento do produto e até mesmo na abordagem do negócio. Ou seja, dentro da nossa fábrica haverá espaço para as pessoas tentarem implementar os seus sonhos, isso passa a ser um serviço da empresa», admite.
Daily Day a crescer
A marca própria Daily Day tem contribuído para o desenvolvimento da LaGofra, numa relação simbiótica. «Queremos ter um bom equilíbrio entre a marca própria e o private label. A marca própria porque é divertido de trabalhar e é mais vantajoso em termos de vendas. O private label também é interessantíssimo porque nos permite estar em contacto com o mundo. Deixaria de ser interessante se trabalhássemos com marcas sem grande afinidade connosco, mas fomos encontrando marcas com as quais é bom estar. Se estivéssemos a 100% com a Daily Day, o mundo podia estar a andar lá fora e nós podíamos estar a ficar distraídos. Assim estamos sempre em contacto com o que está a acontecer», considera Filipe Prata.
Com um conceito pensado para os sete dias da semana e para todas as ocasiões, alicerçada sobre os pilares da intemporalidade, minimalismo, conforto e durabilidade – a que junta as preocupações com a sustentabilidade, contando com certificações GOTS e PETA e uma colaboração próxima com a Tintex –, a Daily Day tem vindo a afirmar-se no mercado, graças à sua aposta em coleções pequenas e na diversificação de produtos, que já incluem acessórios e artigos para a casa. «A origem é, obviamente o que saiu da nossa retaguarda industrial, o vestuário. E agora estamos a trabalhar para desenvolver acessórios com produção interna, ou seja, estamos a desenvolver algo híbrido entre a marroquinaria e a confeção para a produção de acessórios. Já fizemos algumas experiências que já esgotaram e estão a ser repostas», adianta.

Além de duas lojas próprias, no Porto e em Ermesinde, a Daily Day, cujo volume de negócios deverá rondar o milhão de euros em 2021, tem vendas online, que no ano passado sentiram um forte aumento devido ao encerramento das lojas físicas e também à procura por máscaras. «Tivemos muitos milhões de visitas na loja online», confirma Filipe Prata, que acredita que o facto de «termos estado logo ali no primeiro dia em que houve máscaras aprovadas, fez com que entrássemos imediatamente na linha da frente».
Ainda assim, há a ideia de continuar a expansão no retalho físico. «Andamos a analisar mais lojas, mas tem de ser um assunto muito bem ponderado, não pelo montante de investimento, porque os nossos projetos nunca são de elevado investimento, mas para encontrar o local certo, para o público certo, na cidade certa», salienta Filipe Prata, que avança que «o que está a ser refletido é Lisboa».
A ambição passa ainda por internacionalizar mais a Daily Day, que está a vender lá fora, «mas tem de crescer muito». Um trabalho que terá de ser acompanhado por um esforço de toda a indústria nacional, acredita o sócio-gerente da Daily Day. «É preciso haver um trabalho conjunto em Portugal para fazer as marcas crescerem internacionalmente. Para nós, não há qualquer dificuldade em ter notoriedade como industriais na Europa Central e na Europa do Norte. Há muito maior dificuldade em termos notoriedade como detentores de marcas nesses mesmos mercados. O trabalho que temos de fazer como industriais é sempre muito exigente, o trabalho que temos de fazer como donos de marcas é gigante», conclui Filipe Prata.