KOD Bio aposta na biologia sintética

Tendo por base a biologia sintética e as suas vantagens ao nível da sustentabilidade, a empresa portuguesa Next Generation Chemistry (NGC) criou a spin-off KOD Bio, direcionada especificamente para a indústria têxtil.

Ricardo Costa [©CITEVE]

Com o aumento da população e a escassez de recursos naturais, a economia baseada num modelo de extração terá de mudar para um modelo de criação, destacou Ricardo Costa durante a sua apresentação, e a biologia sintética é o caminho a seguir.

«Estou a falar de microrganismos, as fábricas do futuro. Têm toda a informação, a genética e a capacidade de produzir todos os compostos moleculares, dando origem a novos produtos», explicou. «São altamente disponíveis, só que temos de ter a capacidade de os ver, entender e controlar para desenvolvermos o caminho e, através de várias tecnologias, identificarmos os princípios ativos dos materiais que hoje usamos através do modelo de extração», acrescentou.

Um trabalho que está a ser desenvolvido por várias entidades, nomeadamente o CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, sediado precisamente no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões. «O CIIMAR hoje tem uma das maiores bibliotecas de microrganismos marinhos com mais de 1.500 estirpes identificadas e com mais de 1.500 princípios ativos e compostos que estão a ser utilizados em muitos biomateriais. Passámos do modelo da macro produção para a microprodução que é precisa, identificável e específica. O potencial e os impactos deste modelo são gigantes. Passámos do modelo de escassez de matérias-primas e recursos naturais para um período de um sistema produtivo em abundância», acredita Ricardo Costa.

CIIMAR [©CIIMAR]
O processo de fermentação não é propriamente novo, sendo usado pela Humanidade há milhares de anos, sublinhou, mas as civilizações antigas «não tinham nem as ferramentas tecnológicas, nem o conhecimento para entenderem a complexidade deste processo e de que forma é que os microrganismos funcionavam e como é que nós os podíamos controlar». A biologia sintética ganhou força também pela descodificação do ADN, que permitiu «programar novas moléculas com funções específicas». Basicamente, descreveu o CEO da NGC, «recolhemos microrganismos, fazemos uma leitura e identificação de ADN, a amplificação com a tecnologia PCR, conhecida das vacinas, e imprimimos a sequência, um composto que pode dar origem a um novo químico, não de origem petroquímica, mas de origem bioquímica».

Portugal pioneiro

Já usada em diferentes áreas, da alimentação à cosmética, a biologia sintética está também a ser aplicada na indústria têxtil, incluindo no nosso país. «Portugal é hoje pioneiro, na área têxtil, nos tingimentos biológicos utilizando esta tecnologia. Temos hoje duas empresas, a Acatel e a RDD, a fazerem já os primeiros ensaios em prova de maturidade e de crescimento, que já podem estar no mercado inclusive este ano», referiu.

Apaixonado por esta área, Ricardo Costa criou, através da NGC, a spin-off KOD Bio, que descreveu como «uma plataforma bio tech privada, pioneira em Portugal, na área da biologia sintética de novas moléculas para a indústria têxtil».

A KOD Bio tem quatro pilares, sendo o primeiro um centro de inovação, com um laboratório de 400 metros quadrados, que se dedica à genética molecular e à fermentação.

«Estamos a encontrar coisas fantásticas», afirmou Ricardo Costa ao Jornal Têxtil. «Por exemplo, hoje já desenvolvemos, em pequena escala, uma biomolécula que faz todo o branqueio biológico da celulose sem sequer utilizar nenhum produto químico. Já produzimos hoje, nos nossos fermentadores, cerca de um a dois litros», revelou.

Assumindo-se como uma intermediária de conhecimento, entre a investigação fundamental e as empresas, a KOB Bio tem «mais de 120 tinturarias a trabalhar connosco e estamos ligados a centros de conhecimento quer nacionais, quer internacionais. O nosso grande investimento foi feito neste centro de inovação para ter a capacidade técnica de fazer essa transição».

Um segundo pilar é o chamado centro de fermentação, que será lançado em 2024. «É como havemos de fazer a prova de conceito. Não vamos vender um produto físico, vamos vender o ativo intangível que é o conhecimento», indicou o CEO da NGC.

O terceiro e quarto pilares desta plataforma, que está aberta às empresas, são uma academia de formação e requalificação de quadros industriais, «para fazer a formação contínua entre a necessidade industrial e o campo científico», e uma fundação «para investir no conhecimento, na inovação, através do financiamento de bolsas de estágios para a retenção de talentos em Portugal».