Intervir de forma estruturante no perfil do sector das malhas e da confecção português e ganhar novas e acrescidas competências como organização de prestação de serviços à Indústria que representa, foram as principais motivações que levaram a Associação Portuguesa das Indústrias de Malha e de Confecção (APIM) a apresentar duas candidaturas às medidas voluntaristas do IMIT ( Iniciativa para a Modernização da Indústria Têxtil ), em áreas totalmente diversas como a internacionalização e a qualificação de quadros superiores e dirigentes das empresas familiares.
A Indústria Têxtil e do Vestuário portuguesa enfrenta agora o seu maior desafio de sempre. Em definitivo, não possível assentar a competitividade deste sector no custo-minuto, por muito boa que a relação qualidade-preço se apresente, afirma Paulo Vaz, Secretário-Geral da APIM. Haverá sempre alguém a fazer mais barato ou melhor, ou até as duas coisas em simultâneo. É verdade que, hoje, Portugal, oferece uma das mais modernas e eficientes indústrias têxteis e do vestuário do mundo, fruto de décadas de investimento e qualificação persistente este é um feito que não vejo ninguém evidenciar dentro de portas, mas que é reconhecido amplamente lá fora. Devíamos transformar isto numa vantagem competitiva, porque o é sem dúvida, e não cairmos no invariável discurso da desgraça e da reclamação de proteccionismos impossíveis, que ninguém nos vai outorgar ou, mesmo que isso sucedesse, nada nos iria resolver.
E conclui, se conseguirmos adicionar a excelência produtiva que possuímos à capacidade criativa e a algum domínio dos circuitos comerciais, fugindo da armadilha do preço, então poderemos aspirar a ter uma indústria têxtil e do vestuário importante em Portugal, por muitos e bons anos.
Neste espírito e com este propósito, a APIM lançou o projecto Knitprom, destinado a desenvolver as exportações para a Alemanha, apoiando-se na consultoria de especialistas locais. Uma das intenções essenciais da iniciativa é fazer aproximar as empresas fabricantes nacionais dos clientes locais, evitando intermediários, os quais habitualmente asseguravam a maior parte da margem das operações. Outra está na indução de maior profissionalismo na actividade comercial das empresas, que passam a ter em conta o que o mercado – ou os segmentos de mercado escolhidos quer comprar e não vender de forma indiscrimanada e inconsequente existe para oferecer. Esta orientação da oferta é um dos pontos críticos do programa, já que, em alguns casos, cria verdadeira rupturas nas práticas internas das empresas, obrigando-as a reajustar colecções e reestruturar equipas comerciais, quando não determina que as empresas, pela primeira vez, contratem designers de moda e concebam colecções de raiz. Foi neste contexto que em Novembro do ano passado, se realizou o evento Atlantic Venture, que trouxe ao Porto cerca de sessenta compradores das mais importantes cadeias de distribuição alemãs e cujo ponto alto foi um desfile de moda de altíssimo nível, realizado no edifício da Alfândega do Porto, que, pela primeira vez se abriu a um acontecimento deste género.
Seguiu-se, ainda na estação passada, uma primeira experiência de show-rooms, que serviu para afinar colecções, práticas de trabalho e o próprio relacionamento entre as equipas internacionais envolvidas no projecto. Actualmente, as empresas encontram-se activamente a preparar a próxima estação, processo que passa pela visita de especialistas alemães às empresas em Portugal, orientando a concepção e feitura das colecções, não apenas nos aspectos de criação, mas também nos de marketing e mercado, podendo até passar pelo aconselhamento métodos produtivos mais eficientes. Tudo isto para que as colecções sejam entregues em tempo e com a qualidade requerida pelo exigente mercado alemão, de maneira a serem apresentadas aos agentes e compradores locais, seguindo os planos de negócio individuais, previamente estabelecidos entre as empresas e os consultores. Desta experiência será produzido um manual de boas práticas, verdadeiro guia para ajudar outras empresas a seguir o mesmo caminho, podendo possibilitar a réplica deste projecto noutros mercados.
Os recursos humanos quando são de qualidade são o mais valioso activo das empresas, quando não estão valorizados são o seu maior passivo, avança Paulo Vaz para explicar as motivações que levaram a APIM a promover o seu segundo projecto IMIT e que baptizou de Geração 2000. Isto passa também pelos quadros superiores e dirigentes das empresas, que são um verdadeiro elemento crítico, em especial quando as organizações são PMEs e de raiz familiar, prossegue o Secretário-Geral da APIM e responsável directo pelo projecto. A passagem de testemunho geracional pode significar uma redinamização da empresa ou a sua morte, pelo que importa facilitar este processo, auxiliando a regeneração do tecido industrial, por dentro, sem rupturas e com êxito.
A Geração 2000 é um programa que tem duas funções. A primeira é fazer um levantamento das necessidades formativas de alta direcção, especializadas no negócio do têxtil, em sentido lato, adianta Paulo Vaz. Feito esse trabalho, há que, num segundo momento, conceber um programa formativo adequado às necessidades levantadas e que seja claramente atractivo para as gerações da sucessão nas empresas, potenciando as suas capacidades e o empreendedorismo e preparando-as para a gestão das organizações, de uma maneira especializada e com qualidade. Se bem que os contornos da candidatura IMIT terminem aqui, é intenção que o programa formativo seja concebido para que este entronque automaticamente nas medidas do III QCA e que, no âmbito do próximo POE-Programa Operacional da Economia, seja aplicado tão logo quanto possível, ou seja, realizando as primeiras acções formativas logo no início de 2001.
Estes dois projectos IMIT, que se encontram em velocidade cruzeiro, são já um indicativo claro nas áreas que a APIM irá privilegiar nos próximos anos, procurando assim agir nos vectores mais imaterais da competitividade das empresas do Sector, mas que são essenciais para as manter resistentes à forte concorrência internacional, cada vez mais implacável, principalmente quando se completar o período de transição no âmbito do GATT e com a inevitável entrada da China na OMC, num cenário de livre comércio mundial dos Têxteis e do Vestuário, tão cheio de oportunidades como de ameaças.