A coleção Alma para a próxima estação quente mostrada na Alfândega do Porto quis, segundo Katty Xiomara, «explorar um bocadinho de dentro para fora, deixar de olhar o vestuário simplesmente como um adereço e percebê-lo também como algo que nos ajuda no dia a dia», explica ao Jornal Têxtil. «É algo que pode ser interpretado de muitas outras formas, menos fúteis do que normalmente é», afirma.
Formas simples, esvoaçantes e em tons de cinzento, pontuados a preto e branco, fazem parte das propostas da designer, produzidas com recurso a matérias-primas recicladas, incluindo poliéster e algodão, lã e a stocks antigos. «Foi abrir o armário, perceber o armazém, aquilo que ainda temos e que pode ainda ganhar nova vida. Tecidos que estavam, em certa medida, estacionados, e usá-los para termos também um menor desperdício de materiais», revela a designer, que foi ainda recentemente porta-voz em prol de uma Ordem dos Designers.
Com a pandemia em curso, a designer sentiu a necessidade de alterar a estratégia da sua marca epónima. «A área da moda sofreu e ainda vai sofrer durante algum tempo. Se calhar vai ser dos sectores que mais dificilmente entrará numa verdadeira retoma, porque as famílias tiveram uma quebra muito grande nos rendimentos», aponta. Além disso, acrescenta, «o nosso tipo de vestuário ainda requer uma experiência pessoal, a prova das peças, que muitas vezes não são muito fáceis de interpretar», pelo que as vendas online também não foram uma ajuda. «E estivemos em mais plataformas do que o normal».
Projetos múltiplos
Entre as iniciativas recentes na vida de Katty Xiomara consta uma coleção exclusiva para a Springkode. «É um conceito bastante sustentável que se prende essencialmente com a utilização de matérias-primas que estão no stock das empresas», conta. «Esta coleção em específico foi um pouco diferente porque usou uma matéria-prima muito específica, 100% algodão orgânico, com uma grande rastreabilidade, com um QR Code que, quando digitalizado, diz onde é que o algodão foi plantado, como é que foi tratado, quanto tempo viajou…», salienta. Em parceria com a Bless, a criadora de moda criou culottes, blusas e um vestido. «Acabou por ser lançada completamente fora de timing – só em julho – por causa da Covid», confessa.
A marca própria está, atualmente, focada no mercado de Hong Kong – onde apresentou no início de novembro a coleção para a primavera-verão de 2019 no evento promovido pela Moda Nova Global, juntamente com Susana Bettencourt e a Pé de Chumbo – e Itália. «Os objetivos [para o resto do ano] são encontrar forma de chegar ao mercado, às lojas, aos retalhistas e ao consumidor final, de uma forma mais regular e sustentável, porque neste momento está tudo instável», reconhece.
O negócio sentiu «um abrandamento muito grande», mas a designer mantém a esperança e o otimismo. «Há um receio natural, mas também espero que corra bem, tenho que ter algum positivismo. As coisas hão de recuperar. Se conseguimos, noutros tempos, ultrapassar situações terríveis, acho que esta também havemos de conseguir e não me refiro a nós, enquanto marca, mas a nós como pessoas e seres humanos neste planeta», realça Katty Xiomara.