A história da marca Jean Luc Amsler, como existe actualmente, é sobretudo a história de um reencontro. Em 2000, o caminho de Jean Luc Amsler (re)cruza o de Jean Luc François, num momento em que ambos estão ávidos de um grande desafio. E mais do que o reencontro de dois conhecidos com a casualidade do mesmo nome e experiências similares (trabalharam ambos para grandes “maisons” como Yves Saint Laurent, Christian Dior, Jean Louis Scherrer, Courrèges, etc), é o reencontro de uma mesma visão global do universo da moda: juntos decidem lançar-se no desenvolvimento de colecções de prêt-à-porter, acessórios de moda e de perfumes sob a marca Jean Luc Amsler. «Foi realmente um reencontro excepcional e, desde aí, todo o processo de criação é verdadeiramente realizado em conjunto», confidencia Jean-Luc François ao Jornal Têxtil. As “maisons” dos criadores são, hoje, verdadeiras empresas, por trás das quais estão importantes grupos financeiros. Os exemplos são inúmeros: Gucci, Christian Dior, Givenchy, Kenzo, Yves Saint Laurent,… A Jean Luc Amsler não é excepção. «A “maison” Jean Luc Amsler foi adquirida, maioritariamente, por um financeiro suíço em Dezembro de 2002, mas Jean Luc Amsler e eu permanecemos como os criadores de todos os produtos da marca, e dispomos de total liberdade», revela Jean-Luc François. Esta aquisição representou um verdadeiro impulso para o desenvolvimento da marca, que se prepara para abrir em Paris, antes do final do corrente ano, a sua primeira “boutique” própria. «A seguir seguir-se-á a Suíça, Nova Iorque, Tóquio,… mas continuando sempre presente nas lojas multimarca, a nível nacional e internacional», declara. E, além do seu magnifico show room parisiense, a Jean Luc Amsler acaba de abrir um show room em Bilbao e outro em Bruxelas. Quanto a novidades em matéria de criação, a próxima será, como anuncia entusiasticamente Jean-Luc François, «os relógios Jean Luc Amsler, para homem e senhora, cuja saída está já programada para o final do ano». Decididamente, esta dupla está imparável. «Cada uma das nossas colecções conta uma história. Embora tal nem sempre seja visível para o público durante o desfile, ambos iniciámos o trabalho a partir de uma história». Para a colecção da presente estação, François revela que «tínhamos vontade de regressar ao tailleur, quer com calça, quer com saia, bastante estruturado, um dos pontos fortes de Amsler». «Assim, esta colecção conta a história de uma mulher, de origem germânica ou austríaca, fria e rígida, que parte numa viagem que termina na Ásia. Quando essa viagem chega ao fim, esta mulher não é absolutamente a mesma, torna-se uma mulher de espírito completamente aberto, o que se reflecte na sua própria forma de vestir», acrescenta. Na verdade, as viagens são uma fonte inesgotável de inspiração para esta dupla que já realizou a volta ao mundo. «As diferentes civilizações, costumes e naturezas que observamos ao logo dessas viagem estimulam a nossa criatividade e originalidade». Deste modo, esta colecção Outono/Inverno 2003-2004 resulta, no mínimo, surpreendente. E se tivéssemos que classificá-la seria certamente de sport chic. Trata-se de uma colecção em que a matéria vedeta é principalmente a mistura caxemira/lã e onde a malha e o tecido disputam o papel principal. As linhas da roupa são simples mas elegantes, depuradas mas estruturadas, e acompanham perfeitamente as linhas do corpo. O jogging abandonou o seu lado desportivo e adquiriu uma sofisticação notória, numa miríade de versões e tonalidades. As saias são quase sempre acima do joelho, frequentemente mini-mini, e muitas vezes assimétricas. Quanto aos casacos, passam por todos os comprimentos, desde o super-curto ao ultra-longo, com especial destaque para os de pele falsa com laivos de tons quentes que alegram os pretos e cinzentos, reis desta estação. No entanto, o vermelho, a cor fetiche da marca, não foi esquecida, pois coloriu os acessórios luvas, meias, sapatos,… -, a maquilhagem e até os próprios cabelos das modelos que desfilaram na sumptuosa passarela da Ecole Nationale Supérieure des Beaux Arts. Nesta colecção está bem patente o «conceito global» que a griffe procura desenvolver. Com efeito, não só a roupa vem assinada Jean Luc Amsler, como também os chapéus, as luvas, as jóias, as carteiras, os óculos e, até, o perfume. Apenas os sapatos escaparam, mas não por muito tempo. Além da linha de prêt-à-porter, Amsler e François acabam de criar uma linha de t-shirts com originais estampados, designada simplesmente por JLA, e que são já um caso sério de sucesso. «A JLA é actualmente o nosso chouchou, que pretendemos desenvolver em cada estação, acompanhada de uma saia e de uma calça, sempre em malha», adianta Jean Luc François. Um conceito simples, bastante acessível, e que se está a revelar extremamente eficaz. No passado mês de Junho, Jean Luc François teve a oportunidade de deslocar-se a Portugal, a convite da Associação Industrial do Minho, para participar no Fórum de Criadores. Impressionado com a tecnologia e a qualidade da nossa indústria, o criador manifesta agora o desejo de produzir as suas linhas de vestuário no nosso país e, até, de partilhar a sua experiência enquanto marca de projecção internacional. «Descobri uma indústria moderna e competente, e parti de Portugal com a firme vontade de voltar para desenvolver uma parceria com alguma empresa local. A nossa máquina já está em movimento. E agora, quer eu, quer o Jean Luc Amsler, gostaríamos de encetar novos desafios». Uma colaboração que seria certamente muito enriquecedora para as empresas nacionais, por vezes em falta de inspiração criativa.