Da Levi's à Ekyog, passando pela Ober, Rica Lewis, H&M, Celio ou Etam, são cada vez mais os que propõem a sua versão de jeans ecológicos e éticos. O motivo: o filão vale a pena. Não só os jeans voltaram a ser um básico nos guarda-roupas, dos mais normais aos mais vanguardeistas, como são igualmente uma verdadeira catástrofe ecológica. O fabrico de uns jeans comporta um elevado consumo de água, de pesticidas e de adubo, e gera, ao longo das fases de tinturaria e de "deslavagem", a poluição dos cursos de água, sem esquecer as emissões de gases com efeito de estufa, ligados ao transporte das matérias-primas e dos produtos finais.Não é por isso fácil para um fabricante de jeans oferecer ao consumidor, prevenido ou curioso, um produto digno da certificação das marcas ambientais mais exigentes. A Rica Lewis foi a primeira a aventurar-se, há um ano e meio. E não sem problemas, uma vez que a marca desbravava um terreno jamais experimentado. Foi preciso cerca de três anos para conseguir uma cadeia de abastecimento e um processo de fabricação eficaz. A marca apoiou-se na associação Max Havelaar para encontrar nos Camarões uma estrutura de abastecimento de algodão "justo". Não se trata de algodão biológico (não existe realmente nenhuma fiação suficientemente produtiva há já dois anos) mas de culturas sem a cultura de algodão tradicional. Este necessita, claramente, de menos adubo e de menos pesticidas no seu cultivo. Como contrapartida pelo esforço, os pequenos produtores obtêm um preço de venda mínimo garantido, fixado em função da flutuação mundial dos preços. De igual forma, a comunidade recebe prémios, que permitem construir escolas, hospitais ou poços de água potável.A fiação do algodão proveniente dos Camarões é em seguida efectuada por um especialista italiano, que aprendeu a trabalhar os fios de uma qualidade diferente. Anteriormente, a Rica Lewis contentava-se em comprar o tecido denim Quanto ao fabrico, a marca a recorreu à sua fábrica na Tunísia, certificada pela ISO 9001. Se o processo de certificação pela ISO permitiu instaurar boas práticas em matéria de segurança e de condições de trabalho, para a certificação pela Max Havelaar foi necessário reforçar estas medidas. Dezoito meses mais tarde, o balanço é positivo. Com uma oferta de preços que não ultrapassa os 35 euros, a marca cumpriu os seus objectivos, com 200 mil pares vendidos na primeira colecção. Uma sombra no quadro: a grande distribuição – onde estão incluídos os jeans "justos" para homem e senhora da marca Rica Lewis – não defende estes interesses. Dominique Lanson, director-geral da Rica Lewis, sonha com uma secção de moda "justa" um pouco melhor orientada nos hipermercados, de um merchandising dirigido e de vendedores preparados para fornecer as informações necessárias aos clientes.Sabão de MarselhaSeis meses após o lançamento dos jeans Rica Lewis, a moda pegou. Um dos pesos pesados do segmento – a Levi Strauss – decidiu também entrar na onda, lançando a Levi's Eco Jeans. «Graças a esta nova linha, podemos responder à procura dos consumidores interessados na moda e por produtos de alta qualidade, que gastem menos recursos ambientais», anuncia You Nguyen, vice-presidente da Levi's Produt Europe. Outra marca, outro circuito de abastecimento e de certificação. A Levi Strauss utiliza algodão 100% orgânico, certificado pela Control Union Certifications (ex-Skall). A certificação estende-se também ao processo de fabrico e de "deslavagem", efectuado na Hungria numa das fábricas do grupo. Assim, para a "deslavagem" dos jeans, a marca usa uma fórmula sem produtos químicos, à base de anil natural, sabão de Marselha, amido de batata e flor de mimosa. Quanto aos botões, são feitos com noz de coco e em metal não galvanizado. No que respeita a performances comerciais, a marca, que é distribuída nos circuitos tradicionais, com um preço médio na ordem dos 120 euros, mantém-se discreta.Em pleno reposicionamento, a Ober vê na ética, sem dúvida, uma nova alavanca de desenvolvimento. A marca do grupo Lafuma beneficia, entre outras, da experiência e da legitimidade da sua casa mãe, marcada por um desenvolvimento durável. Por 49 euros, a Ober tem-se intrometido no mercado da Rica Lewis – a grande distribuição -, oferecendo, desde este Inverno, dois modelos de senhora e um de homem, feitos em algodão orgânico e certificados pela Control Union e pela Oeko-Tex. «Não vamos ficar por aqui», afirma Sylvie Roll, a directora-geral da Ober. «Para um melhor conforto dos nossos modelos, estamos a trabalhar na introdução de elasticidade no nosso tecido denim». A discrição é a chave neste assunto, pois a marca não fornece dados precisos sobre as suas fontes de abastecimento nem sobre a situação geográfica dos seus instrumentos de produção. Quanto à sua performance desde a data de lançamento, em Janeiro, esta não será divulgada nos próximos meses. Por seu lado, os especialistas de moda ética não têm descanso. A muito jovem sociedade Machja lançou os seus primeiros jeans "justos", certificados simultaneamente pela Control Union e pela Max Havelaar, no Verão passado, pouco tempo depois do lançamento da sua primeira colecção, no final de 2005. «Pareceu-nos indispensável ter uns jeans na nossa colecção, na medida em que pretendemos oferecer um guarda-roupa completo», refere Catherine Soundirarassou, co-fundadora da sociedade juntamente com Jean-Louis Rossi. «Os jeans tornaram-se o básico de todos os guarda-roupa». O algodão vem de pequenos produtores indianos e é tecido na Espanha, enquanto que os jeans são produzidos na Tunísia. «Se as quantidades forem suficientemente importantes no futuro, vamos poder passar para um algodão ainda mais ecológico, para nos aproximarmos do rótulo biológico», acrescenta Catherine Soundirarassou. Preocupada em tornar a ética uma tendência como a moda, a marca aposta num estilo forte e de corte impecável, por um preço de venda na ordem dos 120 euros. «A procura existe, mas os grandes compradores nem sempre defendem estes interesses», lamenta a empresária. «Muitas vezes são receosos e não ousam comprometer-se em grandes quantidades com pequenas estruturas como a nossa. Isso acaba por bloquear o nosso desenvolvimento, favorecendo as empresas maiores».Algodão do PeruPor seu lado, a sociedade familiar Fun Adventure lançou, para o Inverno 2006-07, a colecção Corto Bello, com quatro modelos de homem e outros tantos femininos certificadas pela Max Havelaar. «A nossa distribuição é feita através do catálogo de venda à distância da Camif e nas lojas de jeans tradicionais», revela Céline Allain, responsável comercial da marca. «Se temos sucesso, é porque damos especial atenção ao estilo e aos cortes. A maioria dos nossos clientes é principalmente atraída pelo modelo, o factor ético é secundário». Vendidos a 75 euros, os jeans são produzidos na Tunísia, na parceira habitual do grupo. «Para não desencorajar a clientela, não pretendemos fixar preços de venda muito elevados, cedendo a uma redução da nossa margem», explica a responsável.Criada em 2002 por Antoinette Giorgi e Rachel Liu, a marca "justa" Idéo lançou-se na aventura dos jeans em Setembro último, apoiando-se em pequenos produtores de algodão biológico do Peru, a dois passos da floresta amazónica. Os jeans são confeccionados no local e recebem o rótulo da Control Union. «Já vendemos 1.500 peças e estamos em ruptura de stock», anuncia Antoinette Giorgi. «Estamos já a trabalhar para alargar a gama». Com um preço de venda à volta dos 130 euros, a Idéo não descurou o estilo e os acabamentos, apostando nos bordados e em botões originais. «Propomos acima de tudo produtos de moda», sublinha Antoinette Giorgi. È também reivindicando o seu lugar entre as marcas de moda femininas que a Ekyog lançou, há um mês, dois produtos em denim, umas calças e umas bermudas. «Demoramos algum tempo até encontrar o bom filão», reconhece Nathalie Lebas, co-fundadora da marca juntamente com Louis-Marie Vautier. «Este lançamento é um teste». A marca abastece-se em algodão certificado pela Control Union e faz os seus jeans na Turquia.A lista de propostas não se fica por aqui. A Replay está igualmente a lançar os seus próprios modelos de jeans "justos". A Switcher, a especialista suíça de moda ética, também foi apanhada pela corrente. Quanto à Etam, a insígnia francesa está na posição de partida. Pelo seu lado, a Celio começou, há dois anos, a sua aventura ética com t-shirts certificadas pela Max Havelaar. A insígnia de moda masculina propõe também jeans "justos". Por fim, para esta Primavera, o gigante sueco da distribuição H&M integrou, na sua colecção de produtos em algodão biológico, vários modelos de jeans, à medida de todos os gostos e desejos, ao preço de 49,90 euros. No outro extremo do leque, a criadora americana Tierra Del Forte prepara-se para fazer chegar junto dos aficionados da moda os seus jeans "justos", que terão um preço a rondar os 290 euros.