O anúncio da vitória de Recip Tayyib Erdoğan, que está no poder desde 2014, trouxe uma nova descida da lira turca – que vale agora menos de 0,5 euros. No ano passado, a moeda tinha já perdido 30% do seu valor, depois de um declínio de 44% em 2021, aponta o Sourcing Journal.
Muitos investidores estrangeiros ficaram surpreendidos com a vitória de Erdoğan, sobretudo devido às políticas económicas do presidente turco que levaram a perdas substanciais de negócio, nomeadamente tendo em conta os elevados níveis de inflação (que ultrapassou os 45% em abril) no país.
Com as reservas de moeda estrangeira a baixar continuamente, as empresas de produção e exportação deverão ser afetadas negativamente.
A indústria têxtil e vestuário (ITV) turca, que no ano passado exportou 32,5 mil milhões de dólares, é a sexta maior do mundo e a terceira maior fornecedora da União Europeia. Tendo beneficiado das políticas de sourcing de proximidade de muitas marcas e retalhistas nos anos da pandemia, as exportações da ITV aumentaram 16,6% em 2022 face a 2020.
O receio de perder esse negócio, contudo, aumentou nos últimos dois anos. «Precisamos de reformas das políticas económicas, queremos que as taxas de juro e da inflação baixem», afirma Cem Altan, vice-presidente da TGSD, a associação turca de produtores de vestuário e atual presidente da International Apparel Federation, ao Sourcing Journal.
«Precisamos de investimentos mais estáveis e sustentáveis. Além disso, os turcos não estão a investir na indústria atualmente porque não veem futuro. Assim que a confiança for reestabelecida, vamos verdadeiramente encontrar o crescimento. Esperamos que isso aconteça com o novo governo», acrescenta.
Olhos no futuro
Num comunicado de imprensa sobre as eleições presidenciais, Ramazan Kaya, copresidente da TGSD, considera que «agora é tempo de olhar para a frente. No próximo período, acreditamos que precisamos de aumentar a nossa produção e exportações para contribuir para o bem-estar económico e social do nosso país. Podemos reduzir a inflação ao produzir mais, reduzir o atual défice ao exportar mais e aumentar o emprego com o valor acrescentado que criamos».
Mustafa Gültepe, presidente da TİM, a assembleia de exportadores turcos, acredita que «com o fim das eleições, o período de incerteza chegou ao fim» e, como tal, «está na hora de nos focarmos no nosso trabalho com toda a nossa energia. Estamos a trabalhar com o objetivo de colocar a Turquia entre os 10 países mais exportadores». No entanto, ressalva, «tenho de enfatizar que estamos a passar por um período difícil», citando o aumento nos custos e as questões cambiais, «que prejudicaram a competitividade dos nossos exportadores. Começámos a sentir perdas em alguns mercados onde fizemos grandes esforços para entrar. Contudo, não podemos dar-nos ao luxo de perder esses mercados. Pelo contrário, devemos ser capazes de demonstrar a nossa presença em novos mercados com passos que melhorem a nossa competitividade».
Há quem acredite que a incerteza vai aumentar com a reeleição de Erdoğan, mas Mustafa Gültepe acredita que «com uma gestão da economia que compreenda bem a produção e as exportações e conheça as dinâmicas do comércio mundial, podemos ultrapassar rapidamente os problemas existentes».
