ITV indiana luta pela sobrevivência

A capacidade de dar resposta aos pedidos dos compradores estrangeiros da indústria têxtil e vestuário da Índia foi abalada pela segunda vaga de Covid-19 no país, que criou um cenário caótico, com trabalhadores a escaparem das áreas urbanas, encomendas interrompidas e falta de matéria-prima.

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De acordo com um inquérito realizado pela Clothing Manufacturers Association of India (CMAI), a produção do sector baixou para um quarto dos níveis normais. «A incerteza que paria é grande», afirma a associação, que partilhou os resultados com o just-style.com.

Desde há mais de um mês, a Índia tem sido responsável pelo maior número de novos casos de Covid-19 no mundo, com cerca de quatro mil mortes diárias. Mesmo com este panorama, acredita-se que os números oficiais subestimam os casos reais, uma vez que os hospitais estão cheios de pacientes, há longas filas para comprar oxigénio, em falta, os crematórios estão assoberbados e, à medida que o vírus se propaga nas áreas rurais, são inclusive descobertos cadáveres infetados a flutuar nos rios.

A pandemia teve um impacto devastador na indústria de vestuário da Índia que, antes desta segunda vaga, tinha somente conseguido atingir 80% das vendas pré-Covid, segundo a CMAI. Com o mercado interno paralisado por esta segunda vaga e consequentes confinamentos, 55% dos 400 fabricantes indianos inquiridos atingiram menos de 25% das suas vendas habituais em abril, enquanto 72% viram a maioria dos pedidos cancelados, com os compradores domésticos a serem os principais culpados por esta percentagem.

Além da baixa e até mesmo do cancelamento dos pedidos, 64% das fábricas viram a maioria dos trabalhadores, fundamentalmente migrantes rurais, a regressar à respetiva terra natal, motivo pelo qual enfrentaram uma redução de pessoal superior a 25%.

Na prática, 90% dos membros da CMAI inquiridos não esperam a recuperação do mercado nacional antes do festival Diwali, em novembro, o que torna mais complicado garantir pedidos suficientes para reanimar a produção.

Para agravar a situação, 72% dos participantes da pesquisa revlaram ter recebido menos de 25% dos pagamentos dos compradores internos em abril. Para Rahul Mehta, presidente da CMAI, isto será um grande problema para os produtores de vestuário indianos, que poderão estar a avistar o fim dos negócios. «É muito improvável que o RBI [o banco central da Índia] faça novamente uma grande injeção de dinheiro para apoiar quem tem pequenos empréstimos», como aconteceu em 2020, explica ao just-style.com.

Questões sem resposta

Sudhir Sekhri, sócio-gerente do Trend Setters Group, situado em Gurugram, perto de Nova Deli, com foco na exportação, destaca como a interrupção no aprovisionamento a montante está também a afetar a produção de vestuário. «As entregas de matéria-prima estão atrasadas de 10 a 40 dias, o que está a causar um efeito dominó, onde todos são afetados», aponta. Mesmo as empresas que têm encomendas estão a trabalhar com 30% a 60% da capacidade, dependendo da localização da fábrica.

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Sekhri defende que os compradores ocidentais devem apoiar os exportadores de vestuário da Índia. «Da última vez que as lojas fecharam, os compradores pediram aos exportadores que adiassem as entregas e alguns até cancelaram pedidos. Agora, as nossas fábricas estão fechadas e estamos nós a pedir-lhes que cooperem, mas muitos deles já começaram a redirecionar os pedidos», indica.

Para os fabricantes, a única notícia animadora é o facto dos números de casos de Covid-19 ter começado a diminuir nalgumas cidades como Deli e Mumbai, mas as incertezas são enormes e levantam-se numerosas questões. «Haverá uma terceira vaga? Se sim, quando virá? Várias pessoas que conheço fecharam os seus negócios», admite Rahul Mehta.

De acordo com a ICRA, a agência de rating de crédito que faz parte da Moody’s Investors Services, a indústria de vestuário indiana não assistirá a uma recuperação completa para os níveis pré-pandemia antes de 2023.