ITV francesa tranquila com fim das quotas

As empresas têxteis, reposicionadas nas gamas mais especializadas, estão serenas com o fim das quotas europeias sobre os produtos dos seus concorrentes chineses que, segundo eles, não devem submergir o mercado francês. «Se estivessem para vir alterações radicais com o fim das quotas, nós já teríamos sofrido o golpe porque as encomendas para 2008 já foram feitas no início de 2007», explica Thierry Noblot, delegado geral da Union des Industries Textiles (UIT). «E nós não constatámos nenhuma», refere. Um primeiro levantamento destas quotas a 1 de Janeiro de 2005 desestabilizou a fileira, provocando uma explosão das importações de produtos chineses. Perante a inquietação dos industriais, as quotas foram reestabelecidas até 31 de Dezembro de 2007. Após esta data, e apenas durante 2008, vai ser colocado em prática um sistema de vigilância europeu e chinês. O fim das quotas deverá logicamente provocar um «reforço das importações europeias de vestuário proveniente da China», explica Gildas Minvielle, do Institut Français de la Mode (IFM). Mas não está à vista uma «invasão». «Isto não vai mudar nada para nós», afirma Gérard Ravouna, presidente da federação de moda e vestuário da região Rhône-Alpes e da PME de Lyon Babouchka-Silence On Tourne, especializada na produção de vestuário feminino. Segundo ele, a prorrogação das quotas não «serviu de nada: nos dois anos, os produtos da China continental transitavam por Hong Kong ou por países vizinhos que não estavam sujeitos a quotas», sublinha. Também não há inquietação na mente de Véronique Renucci, presidente da Bel Maille, que produz tecido para grandes marcas francesas. Mesmo que o fim das quotas possa ser «desagradável» – prever a reacção dos compradores é «difícil» –, ela estabelece para 2008 uma progressão nas vendas, apesar destas terem caído 10% em 2005. Se «o entusiasmo pela China será menos marcante que em 2005», é também porque as empresas têm o cuidado de «não depender de um único fornecedor», sublinha Gildas Minvielle. Para além da Ásia, os países do Mediterrâneo, essencialmente a Turquia, a Tunísia e Marrocos, jogam a carta da proximidade geográfica com sucesso: após, durante uns tempos, terem sido perturbadas pelo afluxo de produtos chineses, as importações francesas provenientes destes países ganham terreno novamente. Nesta nova ordem mundial, os produtores franceses colocam a sua reacção, e o seu posicionamento, nos produtos dirigidos a um nicho de mercado, nos têxteis técnicos ou nos destinados a mercados muito especializados. Gérard Ravouna está também a tentar mudar o seu negócio. Está a reorientar a sua produção de vestuário feminino, onde a concorrência é forte, para o «vestuário de imagem»: tailleurs para hospedeiras de companhias aéreas, smokings para os serventes de eventos de prestígio… Um segmento de «gama alta, onde é preciso produzir rapidamente, e por isso localmente», sublinha. Na Bel Maille, responde-se à procura dos clientes por têxteis originais e de qualidade, e às suas necessidades urgentes em pequenas séries, assim que é preciso reabastecer as colecções. A confiança está também presente porque, de acordo com François-Marie Gros, delegado-geral da Union Française des Industries d’Habillement (UFIH), «as empresas fizeram reestruturações profundas ao longo das últimas décadas». Uma reestruturação que se traduziu por uma «hemorragia» em termos de empregos: entre 1995 e 2005, os efectivos do sector, já muito frágil, diminuíram 40%.