ITV do Paquistão reclama apoio

Os empresários da indústria textil e vestuário do Paquistão estão a pedir novos apoios ao Estado, através do corte de impostos e redução dos preços da energia, para tornarem os seus produtos mais competitivos face a países como o Bangladesh, Índia e Vietname e aumentar as exportações para mercados como a UE.

A queda das exportações o sector está a preocupar os líderes da indústria têxtil e vestuário (ITV) do Paquistão, que estão a pedir ao governo para intervir e ajudar a reverter a tendência atual. «As nossas exportações têm caído continuamente desde 2013 e o governo não conseguiu tomar quaisquer medidas corretivas», afirma Muhammad Ijaz Khokhar, presidente central do conselho de administração da Associação de Pronto-a-Vestir e Exportadores do Paquistão, em declarações ao just-style.com.

A incapacidade da indústria para explorar devidamente o acesso facilitado ao mercado da UE desde que a região concedeu o estatuto GSP+ ao Paquistão em janeiro de 2014 é uma das principais preocupações. O programa europeu dá, aos exportadores paquistaneses, o acesso sem pagamento de taxas para a maior parte das linhas exportadas para os 28 países da UE, «mas não conseguimos aproveitar esta facilidade na ausência de um plano de mercado agressivo por parte do governo», argumenta Muhammad Ijaz Khokhar.

O gabinete de estatística do Paquistão estima que o país tenha exportado 1,02 mil milhões de dólares (cerca de 963 milhões de euros) em produtos têxteis e de vestuário em outubro, em comparação com 1,18 mil milhões de dólares no mesmo mês do ano passado.

Outros executivos da indústria têxtil e vestuário do país que falaram com o just-style.com culpam as quedas nos mercados estrangeiros devido aos elevados preços do gás e da eletricidade – que fizeram aumentar os custos –, aos maus serviços financeiros que levam a crises de liquidez entre as empresas e às elevadas taxas dos impostos, que afetam o dinheiro disponível para o investimento e causam pressão de subida dos preços.

De acordo com um estudo publicado no mês passado pela All Pakistan Textile Mills Association, toda a indústria têxtil e de vestuário sofreu perdas de negócio, incluindo os produtores de fio de algodão, tecido de algodão, vestuário em malha e pronto-a-vestir – com as exportações a caírem em volume e em valor.

O estudo refere que, em julho, as exportações de fio caíram para 102,56 milhões de dólares, em comparação com 117,59 milhões de dólares no mesmo mês do ano passado. Em agosto, estes envios caíram para 114,73 milhões de dólares, em comparação com 137,63 milhões de dólares um ano antes. As exportações de tecido de algodão caíram para 155,65 milhões de dólares e 196,58 milhões de dólares, respetivamente, em julho e agosto, em comparação com 168,71 milhões de dólares e 198,33 milhões de dólares em igual período de 2015.

Os problemas dos impostos tornam a situação pior. Atualmente, todo o sector têxtil e vestuário tem registado uma diminuição de liquidez em valores que chegam a 40% por causa dos impostos sobre as vendas e a falta de pagamento nas prometidas devoluções, resultando numa produtividade mais baixa, aponta Muhammad Ijaz Khokhar. As mais atingidas, indica, são as pequenas e médias empresas, que representam 35% de toda a indústria têxtil e vestuário do país.

«Compramos energia hidroelétrica e gás a preços muito mais altos do que os nossos concorrentes, por isso, os nossos custos subiram e não conseguimos concorrer com os nossos principais rivais – Bangladesh, Índia e Vietname», explica. O presidente central do conselho de administração da Associação de Pronto-a-Vestir e Exportadores do Paquistão acrescenta ainda que a indústria de vestuário tem estado a operar a 60% da sua capacidade de produção nos últimos três anos, com 10% a 15% dos negócios a serem encerrados, levando milhares de pessoas para situações de desemprego. «O que o governo tem de fazer imediatamente é anunciar um pacote de apoio especial para a indústria para acabar com a erosão das exportações», sugere.

Algo de que o governo terá sido já informado. Um executivo da indústria de vestuário, que pediu anonimato ao just-style.com, revela que a All Pakistan Textile Mills Association fez uma apresentação ao Primeiro-Ministro Nawaz Sharif a 8 de setembro a destacar os problemas que a indústria enfrenta.

O responsável afirma que o Primeiro-ministro concordou com a maior parte das propostas apresentadas. «A nossa parte propôs [que o governo assegure] disponibilidade de matérias-primas, eletricidade e gás a preços competitivos, para além de uma redução nos impostos sobre os rendimentos, de 1% para 0,25%, e a retirada da sobrecarga sobre o desenvolvimento das exportações», enumera.

Outras propostas avançadas pela associação incluem a redução de 4% das taxas alfandegárias sobre inputs, a suspensão de um imposto de 5% sobre as vendas, a eliminação de um imposto de 1,2% de infraestruturas locais sobre as importações de algodão, a eliminação de 3% a 6% das taxas alfandegárias sobre matérias-primas não produzidas no país, entre outras.

«Estamos muito otimistas sobre um resultado positivo da reunião com o Primeiro Ministro», refere, acrescentando que «a aceitação destas exigências vai dar uma nova vida à Indústria».

Mas a indústria ainda aguarda uma resposta. Num contacto do just-style.com com o governo, Muhammad Ashraf, secretário-adjunto no Ministério do Comércio, confirmou que está a ser desenvolvido um pacote de apoio à indústria têxtil e de vestuário que tem em conta as propostas da indústria. Ashraf  acrescentou ainda que, «neste momento, não posso partilhar qualquer detalhe, mas posso afirmar com confiança que o governo está consciente dos problemas do sector têxtil e vai dar vários passos para tornar a indústria viável e competitiva».