ITV do Paquistão em crise

A crise política que o país vive tem agravado a situação da sua indústria têxtil e do vestuário, a braços com o abrandamento da procura mundial e a subida dos custos energéticos, que tem resultado numa queda acentuada das exportações.

[©ILO]

O sector da produção industrial no Paquistão tem sido afetado pelo abrandamento no consumo mundial e pelo aumento nos custos energéticos após o início da guerra na Ucrânia.

Mas as dificuldades do sector têxtil, que representa 60% das exportações do Paquistão, são ainda maiores pelo estado crítico da economia e meses de caos político no país.

No Paquistão, refere a AFP, a indústria ganhou vigor no final da pandemia de coronavírus, quando ficou livre de restrições antes de rivais regionais como a Índia e o Bangladesh e beneficiou de ajuda financeira do governo, incluindo uma redução nos custos da energia.

Em 2022/2023, contudo, as exportações caíram 15%, para 16,5 mil milhões de dólares.

«Há dois anos, estávamos numa trajetória de forte crescimento… estávamos confiantes que as nossas exportações este ano chegariam aos 25 mil milhões de dólares», indica Hamid Zaman, diretor-geral da Sarena Textile Industries. «Infelizmente, quando não se tem capacidade política e as coisas não estão claras, e as políticas do governo são revertidas, tudo entra numa espiral descendente», realça à AFP.

O caos político começou em abril do ano passado, quando Imran Khan abandonou o cargo de primeiro-ministro após um voto numa moção de confiança. As tentativas de conquistar o apoio popular para conseguir forçar eleições antecipadas levaram à sua detenção em maio e a violência nas ruas que só acabou com uma repressão massiva contra o seu partido e apoiantes e com a condenação de Imran Khan a três anos de prisão por corrupção.

Competitividade minada

A indústria têxtil e vestuário emprega cerca de 40% da força de trabalho de 20 milhões de pessoas no país.

Os principais mercados de exportação são os EUA, a UE, o Reino Unido, a Turquia e os Emirados Árabes Unidos, para os quais o Paquistão vende telas de algodão, vestuário em malha, roupa de cama, toalhas de banho e pronto-a-vestir para marcas e retalhistas como a Zara, a H&M, a Adidas John Lewis, Target e Macy’s.

Mas muitas fábricas fecharam nos últimos meses – pelo menos temporariamente – ou já não estão a trabalhar na sua total capacidade. «Talvez 25% a 30% de todas as fábricas têxteis fecharam. Estima-se que se tenham perdido talvez 700 mil postos de trabalho no último ano ou ano e meio», confirma Hamid Zaman.

Depois das inundações devastadoras no verão de 2022, a produção de algodão no Paquistão baixou para mínimos recorde. A indústria têxtil foi incapaz de compensar com compras no estrangeiro devido ao congelamento das importações imposto pelo governo para preservar as reservas de moeda estrangeira. Milhares de contentores com matérias-primas e maquinaria essencial para as indústrias do país foram retidas durante meses no porto a sul de Carachi.

As empresas têxteis também sentiram um forte aumento do custo dos empréstimos, com taxas de juro superiores a 20%, numa altura em que o banco central tentou contrariar a inflação, que estava a bater recordes.

O Paquistão conseguiu, por fim, consolidar as suas reservas de moeda estrangeira com a aprovação, em meados de julho, de um empréstimo de 3 mil milhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) e apoio adicional da China, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. «Mas não é uma solução, estamos apenas a ficar cada vez mais em dívida», considera Kamran Arshad, diretor-geral da Ghazi Fabrics International. «A única forma de avançarmos é melhorar as exportações do Paquistão e criar um ambiente amigo do investimento que incentive a atividade e a produção industrial», acrescenta.

Uma das condições do IFM para o empréstimo foi que o governo deixasse de subsidiar a energia, levando a um rápido aumento no custo da eletricidade, o que afeta a competitividade das empresas têxteis.

«O nosso maior desafio no futuro é ter preços de energia que são substancialmente mais elevados do que os da Índia, Bangladesh, Sri Lanka, Vietname e China», refere Kamran Arshad. «Não estamos a pedir subsídios. Realisticamente, estamos a pedir preços de energia competitivos em termos regionais», aponta.

Face a estes desafios, os produtores de têxteis do país perderam clientes em todo o mundo.

«A quota de mercado do Paquistão na indústria têxtil e vestuário era de quase 2,25% há dois anos. Agora desceu para cerca de 1,7%», sublinha, à AFP, Aamir Fayyaz Sheikh, CEO da Kohinoor Mills, que tem esperança que a situação política estabilize após as eleições, que deverão realizar-se até ao final do ano. «Depois das eleições haverá mais clareza política e isso irá ajudar a trazer mais estabilidade económica», acredita.