O tempo dos químicos que são tóxicos para sempre pode estar a chegar ao fim, com cada vez mais grandes marcas a colocar um prazo na utilização de perfluoroalcoxialcanos, ou PFAS, que conferem a muitos tipos de vestuário de outdoor e activewear a sua resistência à água e a nódoas, mas são conhecidos por serem uma ameaça às pessoas e à vida selvagem porque não se quebram no meio ambiente, noticia o Sourcing Journal.
A Abercrombie & Fitch, por exemplo, comprometeu-se a eliminar os PFAS até ao final de 2025, enquanto a American Eagle e a PVH Corp, que detém a Calvin Klein, planeiam fazer o mesmo nas suas linhas de produto até 2024.
A Patagonia revelou que está a converter os seus produtos “não críticos” com acabamento repelente à água, incluindo peças de isolamento, camadas intermédias e algum vestuário de exterior, que constituem a grande maioria do seu inventário resistente às condições meteorológicas, «para se tornar livre de PFC [perfluorinados e polifluorinados]» até ao outono de 2022. «Para aplicações DWR [repelente à água durável], como um casaco para a chuva que se usa 24 horas, não temos ainda uma solução DWR que responda às necessidades funcionais destas peças de vestuário», assume. «Os químicos mais inteligentes estão a ajudar-nos a encontrar uma solução para estes restantes 10% dos nossos produtos», aponta.
Até ao final de 2022, a Ralph Lauren vai completar uma estratégia de eliminação de PFAS que começou há dois anos. De acordo com a sua mais recente política sustentável de químicos, a marca americana estabeleceu um procedimento químico normalizado que exige que todos os fornecedores, licenciados e unidades produtivas usem químicos e processos certificados sem PFAS para produzir materiais repelentes de água. Os produtos finais têm igualmente de especificar testes aos PFAS para garantir que não têm «qualquer vestígio» deste tipo de químicos.
Todas as marcas reconhecem os efeitos prejudiciais dos PFAS, que têm sido ligados a problemas no sistema imunitário e hormonal, assim como a danos no fígado e rins, questões ligadas ao desenvolvimento e reprodução humana e alguns cancros. Tanto a Administração Biden como o Congresso dos EUA tomaram medidas para regular melhor a utilização de PFAS, que podem contaminar a água potável através do envio de resíduos industriais ou quando o vestuário revestido com PFAS é lavado com água ou a seco. Os PFAS podem também der libertados do vestuário simplesmente com o uso ou até ser absorvidos pela pele, de acordo com a associação ambientalista não-governamental Natural Resources Defense Fund.
Europa lidera
Embora muitas marcas europeias, incluindo a Jack Wolfskin, H&M e Inditex tenham já deixado de usar PFAS, a indústria americana de vestuário tem ficado para trás indica a associação ambientalista, acrescentando que «o uso continuado de PFAS no sector do vestuário é chocante tendo em conta que não é necessário para conseguir resistência à água e às nódoas e ameaça a segurança e o bem-estar público».
Martin Mulvihill, cofundador e sócio-gerente da Safer Made, um fundo de capital de risco que investe em empresas que reduzem a exposição humana a químicos tóxicos, considera que estabelecer objetivos para eliminar os PFAS é «crítico» para proteger tanto os trabalhadores como o ambiente, porque os químicos persistem no meio ambiente durante muito tempo.
«Quanto mais aprendemos sobre este grupo de químicos, mais claro se torna que devemos evitar a sua utilização quando possível», afirma ao Sourcing Journal. «A boa notícia para os têxteis é que há um número crescente de soluções sem PFAS disponíveis e nos últimos anos têm vindo a melhorar em termos de custo e performance para se tornarem competitivas ou até melhores do que muitas soluções com PFAS», adianta.
Em outubro, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA lançou um roadmap com planos para monitorizar, restringir e remediar a utilização de PFAS. A partir de 2023, a Califórnia vai proibir o uso destes químicos em produtos para crianças e jovens que são intencionalmente acrescentados ou estão presentes numa quantidade igual ou superior a 100 partes por milhão, exigindo às empresas que os substituam por alternativas menos tóxicas.
Iniciativas fazem pressão
Quando o blogue de saúde do consumidor Mamavation enviou recentemente 32 pares de leggings e calças de ioga de diversas marcas, incluindo Lululemon, Athleta e Old Navy, para um laboratório certificado pela Agência de Proteção do Ambiente para serem testados, por exemplo, 25% regressaram com níveis detetáveis de um marcador para PFAS na área genital.
Thomas Schaefer, diretor da Bluesign Academy, o braço de formação da certificação de materiais Bluesign, revela que o motor de busca para químicos aprovados da organização inclui mais de 150 alternativas químicas aos PFAS. Mas os PFAS são apenas uma das classes de químicos problemáticas. Uma análise a artigos do AliExpress, Shein e Zaful no ano passado, por exemplo, descobriu elevados níveis de chumbo e ftalatos.
«As promessas que as marcas estão a fazer para eliminar a utilização de PFAS é um passo na direção certa para fornecer ambientes de trabalho mais seguros ao nível da produção e produtos mais seguros para os consumidores», sustenta Schaefer. «No entanto, muitos outros químicos tóxicos devem igualmente ser eliminados e convidamos qualquer marca que esteja numa jornada para acabar com químicos perigosos a juntar-se à Bluesign para fazer essa transição», conclui.