Investronica com software próprio em Portugal

No seguimento das entrevistas que o Jornal Têxtil tem efectuado aos principais interlocutores da produção de software e maquinaria de corte de peças de vestuário, falámos com Herculano Felizardo, sócio gerente da Invescorte, a representante em Portugal da Investrónica. Jornal Têxtil – Para começar, faça-nos um pequeno historial da INVESTRONICA. Herculano Felizardo – A INVESTRONICA é uma empresa cuja reputação na área industrial é reconhecida a nível mundial, encontrando-se presente em países tão diferentes como Itália, França, Alemanha, Estados Unidos, Rússia, Argentina, África do Sul e China. Tudo começou nos finais da década de 60, quando a INDUYCO (grupo El Corte Ingles), uma das maiores e mais importantes empresas de confecção do mundo, com sede em Madrid , sentiu necessidade de criar um Departamento de Investigação e Desenvolvimento, com o objectivo de solucionar problemas próprios da industria de confecção. Este departamento contava, desde logo, com uma enorme vantagem relativamente aos demais: o campo de experimentação poder ser as suas próprias fábricas . Assim, durante 10 anos, foram desenvolvidos projectos na área do CAD/ CAM/ CIM, cujo principal objectivo era a automatização dos processos de desenho e fabrico na industria de confecção. Os projectos deram origem aos nossos produtos que vão desde o estilismo, planeamento do corte, modelagem, corte automático e transporte aéreo. A necessidade de comercializar esses produtos levou à criação, em 1980, de uma nova empresa, a INVESTRONICA. JT – E quanto ao seu crescimento e evolução, a nível mundial… HF – Desde o inicio da década de 80, quando a INVESTRONICA apresentou pela 1ª vez no mercado internacional, os seus equipamentos, o volume de exportação aumentou rapidamente, constituindo actualmente a companhia informática com mais alta facturação em Espanha. Possui cerca de 600 colaboradores altamente especializados em áreas como a engenharia, matemática ou física, assim como um vasto grupo de técnicos, o que constitui a equipa necessária para o constante desenvolvimento de tecnologia de vanguarda aplicada à industria da confecção. JT – Como se processou a implementação da INVESTRONICA em Portugal ? HF – A INVESTRONICA está em Portugal desde 1991, especializada em vendas e assistência de aplicações CAD/CAM/CIM para a industria de confecção. Conhecemos uma rápida progressão, dado que o nosso volume de vendas tem duplicado todos os anos. Actualmente temos mais de 200 clientes distribuídos por todo o país. JT – Dê-nos a conhecer melhor a INVESTRONICA. HF – A nossa principal preocupação foi criar uma organização capaz de assegurar o desenvolvimento da própria empresa e, também, de assegurar a melhor assistência a todos os nossos clientes. Actualmente somos 25 pessoas, com vários anos de experiência nas respectivas áreas e pretendemos servir o cliente desde o estudo de pré-instalação do equipamento, passando pela formação dos utilizadores podendo ir até ao apoio em consultadoria nas empresas clientes, obviamente sem esquecer a assistência pós-venda. JT – O que faltava então? HF – Nós éramos sobretudo uma empresa prestadora de serviços na área do Cad/Cam para a Confecção. Sentimos que havia uma grande lacuna na nossa oferta de produtos que era um software de gestão integrada. JT – Mas, o que abrange o vosso software de gestão integrada? HF – O nosso software vai desde a criação das encomendas até à expedição das mesmas, passando por: desenvolvimento técnico dos produtos (engenharia do produto), cálculo automático de necessidades, gestão de compras de materiais, lançamento e acompanhamento de produção interna e externa e controlo de fluxo de materiais. Caso se opte por um acompanhamento mais rigoroso da produção, instalamos também um sistema de controlo de produção em tempo real. Além disso, inclui o módulo de lojas. Este módulo está completamente integrado com a fábrica (“Backoffice”), o que permite por exemplo a sugestão automática da reposição do stock de cada loja. A vantagem do nosso software ao ser integrado é que permite ter um sistema de informação comum a todas as áreas da empresa com dados inter-departamentais on-line. No passado, cada sector tinha o seu sistema de informação, o que provocava a necessidade de lançamentos duplicados, devido à existência de processos que se relacionavam com mais do que um desses sectores. Hoje, através de um único lançamento, todos ficam actualizados, já que todos trabalham sobre o mesmo núcleo de informação. No fundo cada colaborador dispõe, em tempo real e no seu local, de toda a informação que precisa sem a necessidade de incomodar ninguém com perguntas. JT – Quais foram as principais necessidades para garantir a satisfação dos clientes? HF – Desde logo vimos que, contrariamente ao Cad/Cam em que as soluções encontradas são praticamente universais para todo o mundo, na gestão integrada não só cada país é diferente devido à fiscalidade por exemplo, como mais grave cada empresa é um caso diferente. Tornou-se logo muito óbvio que teríamos de criar um sector de desenvolvimento de software para customização das soluções em cada cliente. Verificamos que isso não era suficiente e que as empresas portuguesas nomeadamente as de malha eram muito verticalizadas (algumas só lhes falta ter campos de algodão), pelo que se tornou necessário desenvolver alguns módulos de software próprio. Temos assim um novo departamento na empresa que desenvolve software. JT – O que é que oferecem diferente da concorrência. HF – Eu gostava de destacar o seguinte: a INVESTRONICA tem neste momento e é a única empresa em Portugal que pode informatizar uma empresa de confecção do principio ao fim. JT – Podemos falar dum caso de sucesso? HF – Embora nós os portugueses sejamos sempre muito modestos e humildes quando se fala de sucesso (até parece que temos vergonha quando deveríamos ter orgulho), penso que uma empresa que em menos de 10 anos atingiu uma facturação de 1 milhão de contos e nunca apresentou prejuízos ao longo da sua história é sem dúvida um caso de sucesso. JT – Pensa então, que a INVESTRONICA tem o futuro garantido em Portugal? HF – A tendência actual do mercado é, em duas palavras : Moda e Prazos de Entrega. E ambas estão relacionadas. Isto implica que a confecção moderna irá trabalhar não só com tecidos, como também, com a gestão da informação. É fácil concluir que, se quisermos continuar a ter confecção em Portugal, a indústria terá de apostar cada vez mais nos fornecedores destas tecnologias.