Investigadores criam enzimas que “comem” poliéster

O projeto está a decorrer desde o final de janeiro na Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, e o objetivo é desenvolver enzimas capazes de desconstruir têxteis de poliéster, o que poderá ajudar no combate à poluição da indústria da moda.

[©University of Portsmouth]

Os investigadores do Centre for Enzyme Innovation da Universidade de Portsmouth já desenvolveram uma tecnologia com base em enzimas para reduzir os plásticos de utilização única, incluindo poliéster, aos seus blocos químicos iniciais, o que permite uma reciclagem segura e eficiente em termos energéticos. Agora estão empenhados em criar um processo similar para os têxteis de poliéster.

O processo de reciclagem de fibras sintéticas através de enzimas não será, contudo, fácil, avança uma notícia publicada no website da instituição de ensino superior. Estima-se que estes têxteis representem 60% do vestuário usado e são frequentemente escolhidos pela sua durabilidade.

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A adição de corantes e outros tratamentos químicos tornam ainda mais complicado desfazer, num processo natural, estes materiais obtidos a partir de petróleo. «Desenvolver enzimas que consigam, de forma eficiente, “comer” vestuário de poliéster, sem pré-tratamentos intensivos em energia, é o maior desafio», aponta a Universidade de Portsmouth.

«Vamos desenvolver enzimas que conseguem desconstruir o PET de resíduos têxteis, tendo em conta os desafios que este tipo de material coloca, nomeadamente a sua resistência e a presença de corantes e aditivos», afirma o professor Andy Pickford, diretor do Centre for Enzyme Innovation. «Vamos testar a compatibilidade das enzimas que criamos com aditivos, corantes e solventes para selecionar as que são mais adequadas à desconstrução do poliéster têxtil. Depois vamos aplicar estas enzimas para pré-tratarmos adequadamente os resíduos têxteis de poliéster em biorreatores à escala laboratorial para avaliar o potencial e as limitações de escalar a tecnologia», explica.

18 meses de I&D

O vestuário tem uma das taxas de reciclagem mais baixas, com os resíduos a acabarem em aterros ou incinerados, o que, no futuro próximo, não será permitido, pelo menos na Europa. Embora seja possível transformar têxteis à base de petróleo em tapetes e outros produtos, os métodos de reciclagem atuais consomem muita energia, algo que os investigadores da Universidade de Portsmouth esperam mudar com a implementação de uma economia circular, amiga do ambiente, para estes resíduos.

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«A nossa investigação vai estabelecer a viabilidade de usar enzimas para desconstruir PET de resíduos têxteis em blocos simples, para serem convertidos novamente em poliéster, diminuindo assim a necessidade de produzir PET virgem a partir de químicos à base de combustíveis fósseis. Isto irá permitir uma economia circular para os têxteis de poliéster e, em último caso, reduzir a nossa dependência de retirar gás e petróleo do solo. Queremos um sistema que usa o plástico da mesma forma que usamos vidro ou latas – reciclagem infinita. O objetivo final é fechar o ciclo – contudo, isso exige não só a tecnologia mas também a vontade para o fazer», sublinha Andy Pickford.

A investigação, que é financiada pelo Biotechnology and Biological Sciences Research Council, começou no final de janeiro e terá a duração de 18 meses.