Intertex quer afirmar-se em Portugal

A feira internacional, que decorre até amanhã em Santa Maria da Feira, cresceu face à edição anterior e, segundo a organização, deverá colocar Portugal no mapa dos certames profissionais da indústria do têxtil, do vestuário e do calçado.

No Europarque, em Santa Maria da Feira, estão presentes até amanhã, 2 de junho, cerca de 150 expositores de diferentes nacionalidades, da associação egípcia de algodão, que está a promover as qualidades da fibra, à produtora turca de fios de algodão orgânico Uçak Kekstil, passando pelo grupo turco de tricotagem e tingimento Mega Políetílen, até aos produtores mexicanos de “pele” de cato Desserto. Variedade faz parte do catálogo da Intertex, que junta também várias empresas de fios, tecidos e vestuário do Bangladesh, da China e da Índia, assim como duas dezenas de empresas portuguesas, de áreas como a confeção de vestuário, lingerie, artigos para a casa, meias e gravatas.

António Brito

«O objetivo é que seja uma feira internacional mais focada na parte da exportação. Pretendemos trazer empresas estrangeiras que, naturalmente, trazem matéria-prima, trazem inovação, trazem tecnologia, trazem algo que é diferente e que pode ajudar as empresas portuguesas a produzir e a exportar. É esse o nosso objetivo. E deixamos precisamente espaço para as empresas portuguesas de pronto-a-vestir, de produto acabado, poderem interagir com os compradores nacionais e internacionais», sublinha António Brito, iberian manager do BGroup, que organiza o certame com o apoio da ANIVEC – Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e de Confeção e da UACS – União das Associações do Comércio e Serviços.

César Araújo

Para César Araújo, presidente da direção da ANIVEC, a Intertex reforça precisamente o cariz exportador de Portugal. «Somos um país exportador e temos de nos abrir aos outros mercados. A partir de hoje, Portugal está no radar das feiras internacionais. Quer dizer que hoje competimos com o melhor que há no mundo – mas melhores somos nós», afirma. A concorrência, de resto, não é uma preocupação neste contexto. «Se todos os clientes do mundo viessem produzir para Portugal, nós não tínhamos nem trabalhadores, nem capacidade industrial, nem terreno para construir fábricas. Se formos respeitados pelos industriais de outros países, estaremos sempre na linha da frente. Não vamos competir pelo preço baixo. Temos que mostrar que somos um sector com futuro e para isso temos que aumentar o nível de produção de valor acrescentado», sublinha.

A parceria com o BGroup prevê também, segundo o presidente da direção da ANIVEC, a entrada de empresas portuguesas noutros certames organizados por esta empresa em países como a Holanda – previsto para o primeiro trimestre de 2024 – e os EUA.  «Isso vai-nos abrir um leque de oportunidades muito grande», acredita.

Expectativas contidas

Manuel Anjo

Entre as empresas nacionais presentes, as expectativas são moderadas. «Tivemos curiosidade. Já fazemos feiras internacionais, mas em Portugal ainda não fizemos nenhuma. Tivemos conhecimento que havia esta feira e achámos por bem experimentar, a ver se corre bem», justifica Manuel Anjo, CEO da especialista em meias técnicas Sancar.

Miguel Azevedo

«É sempre importante estamos neste tipo de iniciativas», refere, por seu lado, Miguel Azevedo, comercial da Mind. «Como temos a vantagem de ter soluções para diversas áreas, com máquinas que cortam diferentes materiais, da pele ao têxtil, acopladas aos CAD que temos, estamos nesta feira para captarmos mais contactos», indica. «Para já está a correr bem. Tivemos alguns contactos neste primeiro dia, embora, como estamos muito próximos dos clientes, já conhecêssemos os que apareceram – é mais fazer uma continuidade», acrescenta.

Ana Lisa Sousa

Para Ana Sousa Lisa, sócia-gerente da António Manuel de Sousa, empresa que celebra precisamente hoje 41 anos, «faz todo o sentido estarmos presentes na Intertex, principalmente porque é a única feira internacional em Portugal. Estamos presentes em tantas feiras, em tantos países por esse mundo fora, porque não estarmos no nosso país? Estamos a jogar em casa». Apesar de ser «ainda uma feira pequena, acho que vai crescer e resolvemos, a partir desta edição, ver como é que isto funciona, porque quando é anunciada uma feira internacional em Portugal, acho que é atrativo para muitas marcas e para muitos compradores», acredita.

Continuidade no futuro

Serhan Pul

Com um dia ainda para terminar, a presença da Intertex parece estar para ficar. Ao Portugal Têxtil, Serhan Pul, diretor da Intertex Europe, pertencente ao B Group, destaca que a aposta no nosso país é uma realidade, tendo mesmo sido aberto um escritório em Lisboa para dar continuidade ao evento. «O ano passado foi apenas o BGroup a organizar. Este ano já temos um escritório físico em Lisboa e temos uma cooperação com a ANIVEC», sublinha, adiantando que «estou muito satisfeito com o trabalho que está a ser feito e com a feira».

Para o ano, a ideia é realizar uma edição em junho – como anunciado à entrada do Europarque – e provavelmente manter a localização. «Santa Maria da Feira acolheu-nos de braços abertos e pensamos que também é importante descentralizar um pouco as coisas – estamos a 20 minutos do Porto, não é um problema. Aliás, provavelmente, este é dos poucos locais do mundo que tem acesso por duas autoestradas, portanto, tem uma série de vantagens qualitativas. E é importante trazer estes eventos para fora das grandes cidades – na maior parte dos países da Europa, as grandes feiras não são obrigatoriamente nas capitais. Penso que as expectativas não irão ser goradas», resume António Brito.