Entre 101 candidaturas, a Inovafil destacou-se, batendo as outras cinco finalistas: Carfi, Controlar, ebankit, Incentea, e IT Sector. «A Inovafil nasceu com a inovação no seu ADN. O ponto de partida foi uma folha em branco», afirmou Rui Martins, CEO da empresa, durante o discurso de aceitação do galardão. Ao Portugal Têxtil, admitiu ter ficado «muito surpreendido, por sermos uma empresa que faz parte da indústria dita tradicional numa final com empresas de tecnologia de informação, que são normalmente muito mais aliciantes e muito mais propensas a ganhar este tipo de prémios». No entanto, reconheceu Rui Martins ao Portugal Têxtil, «a Inovafil venceu pela sua história e pela forma como apareceu, a ideia como foi concebida, o arrojo e a altura. Num contexto económico muito difícil para o país – estamos a falar há cinco anos atrás, o país estava sob assistência monetária externa –, houve quem tivesse o arrojo de investir em fiação em Portugal. Obviamente que é uma fiação diferente daquela que é a tradicional, forçosamente, porque essa continua a não ter, infelizmente, espaço, devido aos fatores que ainda se mantêm na parte do custo e do custo do produto».
Fruto de um investimento inicial de cerca de 10 milhões de euros, a Inovafil tem-se distinguido pelos fios especiais, como os obtidos a partir de urtigas, onde a inovação tem um papel fulcral. Em 2017 criou o Nidyarn, um núcleo de investigação e desenvolvimento em parceria com a Universidade do Minho. «A inovação da Inovafil terá que continuar forçosamente, porque a empresa vive do produto dessa inovação», sublinhou, acrescentando que a fiação, que faz parte do grupo Mundifios, terá «obrigatoriamente que continuar a se diferenciar e a viver da inovação interna, da presença em feiras, da interação com universidades e com os centros tecnológicos».

A inovação faz-se também pela tecnologia. Recentemente, a Inovafil foi selecionada, entre cerca de 20 empresas a nível mundial, pela construtora de maquinaria Schlafhorst para testar o novo sistema de fiação a jato de ar. «É um air jet com muita polivalência, com muita versatilidade, mas que está, efetivamente, em desenvolvimento. Teremos um ano para experimentar a máquina, que chegará agora no início do ano, para efetuarmos desenvolvimentos, ajudarmos também a própria Schlafhorst a desenvolver a máquina e, depois, no final desse período, vamos tomar a decisão de ficar com o equipamento ou não», explicou, ao Portugal Têxtil, o CEO da Inovafil.
Esta aposta na inovação tem permitido um crescimento constante. Em 2018, o volume de negócios da Inovafil aumentou 15%, para 21 milhões de euros, e 2019, embora tenha sido um ano «muito apático» para a têxtil, não deverá ser exceção. «Para a Inovafil vai ser um ano bom, de crescimento, esperamos nós, embora ainda estejamos a ultimar as contas, mas certamente será um ano em que a empresa progrediu na questão do mercado e na presença em clientes estratégicos e com produtos cada vez mais inovadores, que certamente vão escalar para o ano, porque, sendo uma empresa muito jovem, ainda não estamos sequer a retirar partido do potencial de inovação daquilo que foi feito até hoje – será preciso mais um ano ou dois», revelou Rui Martins.
O que é sustentável?
O Prémio PME Inovação Cotec-BPI foi entregue durante o 9.º Encontro PME Inovação Cotec que teve lugar ontem, 25 de novembro, na Póvoa de Varzim, um concelho que, garantiu o seu presidente de câmara, Aires Pereira, «valoriza esse crescente ativo que é o mar» e que acompanha outros municípios portugueses no cumprimento das metas de reciclagem que permitem que o país esteja «cada vez mais longe do confinamento de resíduos em aterro».

A discussão do que é ou não sustentável esteve no cerne dos restantes painéis, onde a indústria têxtil e vestuário esteve representada pela Tintex. Ana Tavares, diretora do departamento de sustentabilidade da especialista em tingimento e acabamento de malhas, deu o exemplo. «Trabalhamos com diversas fibras, sendo uma delas o algodão, que é a que representa a maior parte da nossa produção. Trabalhamos também com fibras alternativas e estamos cada vez mais focados no sourcing sustentável, mas há uma questão que se coloca na nossa perspetiva. Esquecemo-nos muitas vezes do que é, efetivamente, sustentável», referiu, apontando, como exemplo, que o algodão convencional tem questões ambientais relacionadas com o consumo de água no seu cultivo mas que o algodão biológico tem um desafio relacionado com a ocupação do solo, enquanto o poliéster reciclado, que é muitas vezes produzido numa empresa do outro lado do mundo, pode ter uma pegada ambiental muito maior. «Não é tão linear. É muito fácil vender a ideia que um produto reciclado ou biológico é mais sustentável do que o convencional e muitas vezes não é verdade», resumiu Ana Tavares.
Esta ideia foi confirmada noutras indústrias. Carlos Bernardo, professor emérito do Departamento de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho, assegurou que, por exemplo, os plásticos «são os materiais mais sustentáveis, tanto quanto podemos medir por avaliações de ciclo de vida, que são ferramentas quantitativas, ao longo do seu ciclo de vida. Infelizmente, na última fase, tem um problema de comportamento, não é tão bom como outros materiais alternativos, mas isso também vem, em grande medida, das más práticas dos utilizadores».

A ideia de que biológico é necessariamente melhor também foi desmistificada por Simão Soares, CEO da SilicoLife e presidente da Associação Portuguesa de Bioindústrias, que deu o exemplo da baunilha. O sabor é o mais utilizado em todo o mundo e, por isso, a vanilina faz parte de uma grande quantidade de produtos, sendo em 99% dos casos sintetizada em laboratório. A tendência do natural, contudo, fez com que a procura pela versão natural – a vagem da baunilha – aumentasse radicalmente, fazendo subir os preços para os níveis da prata, e no principal país produtor, Madagáscar, gerou uma verdadeira guerra, semelhante às dos cartéis de droga da Colômbia nos anos 80 e 90, indicou. Isto criou «graves problemas de sustentabilidade no país, não só ambiental, como social e por isso temos este paradoxo em que temos os consumidores que passam para um produto natural mas que tem outros problemas de sustentabilidade», elucidou.
No caso dos bioplásticos, há ainda o problema de recolha no fim de vida. «Não adianta de nada desenvolvermos produtos que podem ter menor impacto se ninguém lhes der o final que é suposto. Temos que estar cientes que o produto não vai ser mágico», realçou Carlos Ramalho, diretor de vendas da United Biopolymers, que desenvolveu uma tecnologia de produção de bioplásticos biodegradáveis.
Novos caminhos para a sustentabilidade

Mas há novos projetos a trabalhar na área da sustentabilidade. É o caso da Soditud, uma startup portuguesa que criou uma nova geração de produtos descartáveis, que não só são biodegradáveis como são comestíveis, como é o caso das palhinhas ou dos copos para o café. «O plástico mudou a nossa forma de vida – não teríamos chegado onde estamos sem os plásticos», assumiu Luís Simões, um dos fundadores da Soditud. Mas a ideia é combater o excesso de resíduos e de utilização de plásticos e, como tal, «na fase em que estamos, achamos que será mais fácil adaptar o produto ao nosso nível de vida», justificou.
De fora veio a ideia de que uma árvore é muito mais do que madeira e Kirsi Seppäläinen, vice-presidente de projetos estratégicos da divisão de biomateriais da finlandesa Stora Enso, mostrou isso mesmo. Do vestuário até à cosmética, onde a empresa está a fazer testes com champôs, Seppäläinen acredita que «tudo o que vem hoje de materiais fósseis pode ser feito com árvores amanhã». No entanto, destacou, acreditar que o consumidor está disposto a pagar mais por um produto sustentável é um erro. «No final, a maior parte dos consumidores, quando vai ao supermercado e faz a sua escolha, não vai pagar mais. Eles querem que seja conveniente, que o produto tenha a mesma performance, o mesmo preço e, em cima disso, deve ser sustentável», apontou.
Uma questão de economia

Embora empresas como a Sonae, que, afirmou Pedro Lago, diretor de sustentabilidade e economia circular da Sonae MC, já recusou fornecedores por não cumprirem os critérios de sustentabilidade, e a Corticeira Amorim, que, revelou Gisela Pires, responsável pela área da sustentabilidade, tem procurado dar a conhecer as credenciais “verdes” da cortiça no exterior, sobretudo fora do Mediterrâneo, tenham iniciativas voltadas para a sustentabilidade, a verdade é que a sustentabilidade é mais do que marketing. Como afirmou o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Fernandes, esta é uma questão também de negócio, «onde as PMEs podem ter um papel importantíssimo». «O novo modelo de economia circular vai criar muitos outros negócios, pensados para um conjunto daqueles que ainda vão chamar consumidores mas que, cada vez mais, deixarão de ser consumidores para passarem a ser utilizadores. Uma economia que tem bens materiais, que não são vendidos como bens, mas sim como serviços que têm bens dentro deles», apontou João Fernandes.

No fundo, resumiu, «esta é uma extraordinária oportunidade para a economia, para as empresas, para o investimento, para a riqueza e para a criação de valor», mas, ressalvou «a nossa economia tem de continuar a crescer. Não pode é crescer como tem crescido até aqui».
Como tal, «a inovação tem um papel determinante no sentido de estruturar processos que sejam mesmo capazes de conduzir a organizações mais eficazes e regeneradoras de recursos e de ter a capacidade de desenvolver produtos que não sejam degradadores de todos os bens naturais, mas fazê-lo, despudoradamente e sem falsas modéstias, pensando que estamos a criar riqueza, estamos a criar negócio, estamos a criar emprego mais sustentável e não propriamente a procurar um Woodstock permanente, que pode ser muito simpático durante uma semana, mas a partir daí faz com que, afinal, nós não sejamos felizes», concluiu o Ministro do Ambiente e da Ação Climática.