Inovafil à medida

A fiação está cada vez mais envolvida em projetos à medida com os seus clientes, com desenvolvimentos que respondem às necessidades de quem a procura. Um know-how valioso que é cada vez mais valorizado, numa altura em que a Inovafil sente o regresso das marcas ao aprovisionamento na Europa.

Pedro Martins

A fiação trabalha diretamente com os clientes nos desenvolvimentos e, por isso, a estratégia não segue os padrões habituais na indústria da moda. «Mais do que uma coleção, temos estado atentos a algumas tendências e temos procurado estar envolvidos em projetos em que acreditamos», explica Pedro Martins, responsável de mercado externo da Inovafil. «No fundo a Inovafil é uma fiação que procura acompanhar os clientes no desenvolvimento de projetos à medida», salienta.

Atualmente, são vários os projetos em que está envolvida, «nomeadamente processos ligados à reciclagem mecânica, a novas formas de reciclagem química, sobretudo na área da celulose reciclada», adianta o responsável de mercado externo ao Portugal Têxtil.

Um deles é o projeto europeu com a Infinited Fiber, batizado New Cotton Project, que pretende desenvolver um modelo completamente circular para a produção comercial de vestuário. «Estamos também efetivamente envolvidos noutros projetos de fibras ecológicas, em novos sistemas de produção da própria fibra, da reciclagem de materiais. Fazemos parte, no fundo, de um grupo de colaboração muito alargada, que é o que faz sentido nestas áreas, e nós vamos acrescentando o nosso conhecimento, o nosso know-how na área da fiação para permitir a essas empresas, a esses projetos, a essas start-ups desenvolverem a fibra para permitir que cheguem a um nível industrial», aponta Pedro Martins. «Neste momento, ainda estamos a falar de projetos piloto, quase produção em laboratório. Já há pequenas coleções-cápsula que estão a ser lançadas, mas, na verdade, em termos industriais, são projetos que apenas vão surgir em 2022 ou 2023», acrescenta.

Este posicionamento «na vanguarda da inovação», que permite à empresa «ter a ambição de continuar a ter um lugar de destaque para o mercado europeu», como refere Pedro Martins, é fruto de uma evolução que se apoia no ADN da Inovafil, onde a investigação tem um papel principal. «A Inovafil provavelmente quando surgiu com a nova fábrica [nas instalações da TMG] tinha uma quota importante de produtos que eram para clientes da Inditex e hoje em dia praticamente não temos. Amanhã não sabemos como vamos estar, mas para nós o que é relevante é que a Inovafil esteja disponível para projetos que vão surgindo e que se vá adaptando, tendo consciência de que o objetivo é manter-se numa situação estável, sólida e, sobretudo, ter um negócio rentável», assinala o responsável do mercado externo. A empresa, de resto, recebeu o estatuto Inovadora COTEC 2021, uma distinção atribuída «por ter atingido elevados padrões de solidez financeira, inovação e desempenho económico».

Regresso à Europa

No ano passado, apesar de ter sido «relativamente difícil, pelos efeitos da pandemia e paragem de produção», a Inovafil conseguiu, «sempre que estivemos em atividade, estar a trabalhar muito próximo do nível ótimo. Portanto, acabou por ser um ano bom», revela Pedro Martins.

Uma tónica positiva que se tem estendido a 2021 e que, acredita o responsável do mercado externo, irá continuar, até pelo regresso de alguns clientes ao aprovisionamento no Velho Continente.

«Para nós é claríssimo que muitas marcas estão a procurar produções no mercado europeu por forma a reagir mais rápido à necessidade de pôr artigos em loja e não estarem expostos aos problemas logísticos», relata Pedro Martins. «Efetivamente, é muito difícil trazer mercadoria da Ásia neste momento e existe também alguma incerteza sobre a evolução dos preços. Portanto, comprar menor quantidade no mercado europeu é claramente a atitude mais prudente e temos sentido isso da parte dos nossos clientes. Estamos bastante bem preenchidos em termos de carteira de encomendas», indica.

A esta somam-se outras razões para a preferência pelo “made in Europe”. «Esta tendência para que se utilizem produtos mais ecológicos, que se tenham preocupações quanto à pegada ecológica, as questões da reciclagem, tudo isso joga a nosso favor. O próprio online, que acaba por ser uma forma de venda que requer soluções de proximidade, ou seja, requer maior reação, séries mais pequenas, é claramente uma tendência atual, uma realidade que veio para ficar, e que é positiva para a produção europeia. Estou convencido que vamos viver um período positivo para a Europa», assume.

Com uma quota de exportação de cerca de 70% e uma capacidade produtiva de 250 toneladas por mês com 13 mil fusos, a Inovafil retomou as feiras internacionais com a Première Vision Paris, onde teve uma experiência «bastante positiva», no balanço de Pedro Martins. Previsto está também o regresso à italiana Filo e à alemã Techtextil, além da Première Vision, no próximo ano. «Consideramos que são, neste momento, as feiras que nos dão visibilidade e que têm uma presença global», resume.