Iniciativas de apoio à moda ucraniana multiplicam-se

Entre a sociedade civil, atores da indústria e entidades internacionais, são várias as ações, sobretudo online, que estão a promover a indústria de moda da Ucrânia, numa tentativa de manter o sector e os negócios, ao mesmo tempo que divulgam os talentos do país para todo o mundo.

Bob Basset [©Angel for Fashion]

No website oficial do país – em www.ukraine.ua – pode ler-se, em inglês, que «a 24 de fevereiro de 2022, a vida quotidiana na Ucrânia parou, assim como este website», acrescentando que «a primavera ainda não chegou à Ucrânia».

Mas o mesmo não aconteceu com a indústria da moda. O sector foi rápido a mostrar o seu apoio e a fornecer meios para que outros pudessem fazer o mesmo. Por exemplo, a Angel of Fashion é um website de comércio eletrónico que espera trazer os designs ucranianos para consumidores em todo o mundo – exceto a Rússia. A iniciativa, que apareceu no mês de abril no The New York Times, apresenta 30 marcas ucranianas, com vestidos, malas e outros acessórios de designers como Frolov, Foberini e Bob Basset, numa seleção com curadoria da ucraniana Alina Bairamova.

«A Angel of Fashion é um lugar para as pessoas descobrirem, comprarem e apoiarem pessoalmente a indústria de moda ucraniana. Aqui é possível encontrar novos conteúdos e estilos, à medida que se descobre as criações de marcas incríveis. As pessoas podem conhecer cada designer e desenvolver uma ligação emocional pessoal com o seu trabalho», explica, citada pelo Just Style, a CEO e fundadora Jen Sidary, acrescentando que os consumidores podem comprar com confiança «sabendo que estão a apoiar estas empresas com as suas aquisições, já que o dinheiro vai diretamente para a marca e seus funcionários criativos».

Foberini [©Angel for Fashion]
Frolov [©Angel for Fashion]
A Forbes publicou que a marca Katimo conseguiu reabrir. Sediados em Kyiv, Katya Timoshenko e Vitaliy Panov, os cofundadores da marca, decidiram retomar as operações para pagar os salários aos trabalhadores e apoiarem o país. A Forbes indica que desde 1 de março, a Katimo doou 20% de todos os rendimentos para solidariedade, para apoiar as forças armadas e outras causas locais.

Para além destes dois exemplos, com marcas reputadas, surgiu um outro website que apresenta novos designers, mas também trabalhadores da indústria da moda. O Palianytsia foi batizado em honra de um pão tradicional fabricado na Ucrânia, que é difícil de pronunciar pelos ocupantes russos, destaca o website.

«Devido à guerra no nosso país, muitos negócios ficaram em pausa: alguns têm as suas produções em lugares com combates, alguns já não conseguem suportar financeiramente os seus funcionários. O poder de compra da nossa população diminuiu acentuadamente: os ucranianos vivem tempos de guerra e as suas necessidades mudaram dramaticamente. Como tal, queremos apresentar os talentos ucranianos a pessoas de todo o mundo», refere a secção informativa do Palianytsia.

O website, lançado por Lisa, que antes da guerra era editora de moda na BURO, e Masha, que tinha emprego como gestora numa empresa de construção, contém marcas de designers conhecidos, como Ksenia Schnaider e Poustovit, mas também novos designers ucranianos que tiveram de abandonar tudo para ficarem em segurança. Faz também breves biografias das marcas, com um link para comprar diretamente do site ou Instagram, com as marcas apresentadas com capacidade para fazer entregas em qualquer parte do mundo, embora com a salvaguarda que tal pode mudar fruto da instabilidade no país. O site assinala ainda que em vez de produzirem novas coleções, estes designers começaram a produzir coletes de proteção para os soldados ucranianos.

[©Ksenia Schnaider]
[©Katimo]
«Ao comprar vestuário ucraniano, [os consumidores] estão a ajudar as pessoas a não perderem o emprego e a pagarem impostos para o orçamento de estado. Alguns lucros vão para ajuda humanitária e para a defesa da Ucrânia», indica o website, que tem ainda uma área dedicada a doações diretas.

Além destas iniciativas locais, a Euratex lançou a EU-Ukraine Textile Initiative (EUTI) no passado dia 9 de maio, com o objetivo de facilitar a cooperação entre as empresas da indústria têxtil e vestuário ucranianas e europeias.

Já marcas como o Boohoo e a Asos encerraram os seus websites russos em sinal de solidariedade e muitas deram donativos à Cruz Vermelha para apoiar a ajuda humanitária no país. A H&M também doou vestuário e outros bens para Ucrânia, o mesmo acontecendo com várias outras marcas internacionais de moda.

Em Portugal, Luís Onofre criou as sandálias Peace, cujas vendas reverterão integralmente para o financiamento das ações humanitárias do Porto Solidário, cujas missões de apoio ligam Portugal às fronteiras ucranianas, com vista à entrega de bens de primeira necessidade e resgate de famílias ucranianas.

[©Palianytsia]