Indústria têxtil da República Checa com tradição – Parte 1

Na sequência do que vem sendo habitual, o Portugal Têxtil apresenta mais um artigo sobre um dos novos membros da União Europeia – a República Checa – publicado no semanário francês Journal du Textile. A abrir esta análise, é destacado o facto de, quando comparada com os outros estados da Europa Central e de Leste que dentro de poucos meses passarão a integrar a UE, a República Checa se poder orgulhar de uma longa tradição histórica no que toca às actividades industriais na área dos têxteis. Em pleno século XIX, a República Checa desempenhava um papel fulcral na indústria têxtil do vasto império Austro-Húngaro, e já no início do século esta fileira empregava cerca de 1,35 milhões de pessoas, isto é, 20% da população total do país. Nesta época, os centros têxteis mais importantes eram Praga, Rumburk, Reichenberg e Aussig, tendo até ao final dos anos 20 este sido um dos mais prósperos e principais sectores exportadores da República Checa. Após a II Guerra Mundial, a então Checoslováquia tornou-se um satélite da União Soviética, tendo a metade checa do país sido beneficiada com uma aposta no sector têxtil (tecidos, malhas, etc.), enquanto a parte eslovaca recebeu apoios na sua indústria do vestuário. Depois da chamada “Revolução de Veludo”, que libertou o país em 1989, a Checoslováquia revelou-se um dos melhores países na transição para a economia de mercado, até que, em 1993, e de forma igualmente pacífica, o país deu origem a dois estados autónomos e independentes: a República Checa – a metade mais desenvolvida – e a Eslováquia. No entanto, para a indústria têxtil e do vestuário da República Checa, esta transição haveria de mostrar-se difícil e complexa. Só em 1991, a produção checa de têxteis decresceu 35%, e a de vestuário 40%. No mesmo ano, este sector perdeu 14% dos postos de trabalho, que na época rondavam as 170.000 pessoas. Na origem desta situação, esteve um conjunto de factores, como a perda dos mercados do Leste da Europa, a diminuição do consumo interno, a degradação da rede de logística e distribuição, e o impacto das maciças importações asiáticas, em especial de produtos de gama baixa. A somar a isto, os efeitos devastadores do contrabando de artigos vindos da Ásia, em particular do segmento dos têxteis-lar, e que chegaram a totalizar 30% das importações de têxteis da República Checa. No final deste ano catastrófico, a ITV checa contava ainda com 121 empresas, que empregavam 121.000 trabalhadores, e 27 empresas que empregavam 27.000 pessoas, e que viriam a ser privatizadas. Em 2002, o sector privado da indústria têxtil e do vestuário da República Checa possuía 550 empresas com mais de 20 trabalhadores, e a fileira empregava um total de 59.000 pessoas nos têxteis e 34.000 no vestuário. O maior fabricante checo de têxteis é ainda a Kodarna, que conta com um volume de negócios 88,3 milhões de euros, à frente da Juta (77 milhões de euros) e da Nova Mosilana (60 milhões de euros). No que toca ao vestuário, as maiores empresas são a OP Prostejov, com 76,7 milhões de euros, a Tonak (21,4 milhões de euros) e a Otavan (16,5 milhões de euros). A Czechivest, agência checa de investimento, conseguiu entretanto atrair alguns volumosos investimentos estrangeiros no sector têxtil e vestuário do país, nomeadamente de alemães, austríacos, italianos e belgas. Entre as empresas estrangeiras que têm vindo a apostar na República Checa destacam-se nomes como a italiana Marzotto (tecidos de lã), as alemãs Schoeller (fios de algodão) e Schiesser (vestuário interior), e as belgas Wittock (tecidos técnicos) e Ontex (têxteis não-tecidos). Apesar destes investimentos, o panorama da ITV na República Checa não é de todo brilhante. Depois de dois anos com um crescimento positivo (2000-2001), as empresas de têxteis e vestuário do país viram a situação deteriorar-se consideravelmente, tendo o volume de negócios do sector descido 10% em 2002, para os 2,2 mil milhões de euros, bem como o emprego, que perdeu 6% dos postos de trabalho, que se cifraram no mesmo ano nas 94.000 pessoas.