Indústria questiona couro sustentável

Um grupo de entidades da indústria de couro emitiu uma declaração conjunta que questiona o uso de alternativas a este material por oferecerem alegações de sustentabilidade «questionáveis» assim como a própria performance.

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O International Council of Tanners (ICT), a International Union of Leather Technologists and Chemists Societies (IULTCS), a Cotance (Confederation of National Associations of Tanners and Dressers of the European Community), Leather Naturally e o International Council of Hides, Skins and Leather Traders Associations (ICHSLTA) afirmam que há um número crescente de novos materiais a aparecer nos mercados de moda, design e mobiliário com ambição declarada de substituir o couro como material de eleição.

«Isto geralmente ocorre com base em alegadas melhorias de sustentabilidade, que raramente, ou nunca, são comprovadas. Enquanto a procura por sustentabilidade é necessária, a apresentação do couro, um material biodegradável de longa duração feito de produto residual renovável de outra indústria, como insustentável é injustificável e sem fundamento. Em particular, quando justapostos novamente como materiais emergentes que são amplamente compostos de plásticos à base de combustível fóssil», referem as entidades industriais, que defendem que, anualmente, os curtumes recuperam e valorizam pelo menos oito milhões de toneladas de couro e peles naturais do sector alimentar a nível global.

«Sem a indústria de couro e sua atividade de upcycling, esse material residual simplesmente se transformaria em lixo e seria descartado em aterros sanitários ou incinerado», explica o grupo.

Se assim for, a destruição dos resíduos ao invés da sua utilização liberta cerca de cinco milhões de toneladas de gases de efeito estufa, pelo que a indústria de couro considera que a reciclagem e a recuperação deste tipo de resíduos reduzem as emissões de gases de efeito de estudo.

«Algum desses novos materiais é capaz de fazer isso? A resposta está longe de ser clara, porque, apesar da vasta cobertura dos media que apoiam cada novo lançamento no mercado, pouco ou nada se sabe sobre o desempenho e a composição desses materiais, sem falar na sustentabilidade dos processos de produção relacionados», salienta a declaração coletiva.

Uma análise recente realizada pelo instituto alemão FILK comparou oito novos produtos alternativos ao couro e as conclusões revelaram que a sua performance técnica pouco tinha em comum com o material original.

«O couro é muito superior às alternativas analisadas na maioria dos parâmetros relevantes de performance funcional e nenhuma das alternativas poderia igualar o couro em todos eles», pode ainda ler-se na declaração divulgada pelo Just Style.

Alegações comprometidas

Além dos materiais das novas alternativas não se conseguirem equiparar ao couro, o grupo acredita que o conceito de sustentabilidade na maioria dessas hipóteses está «profundamente comprometido» pela grande quantidade de materiais sintéticos aplicados, nomeadamente poliuretano, para tentar alcançar a performance funcional do couro.

Mas as perguntas não chegam ao fim: «Se os desempenhos funcionais são inferiores, se a composição é em grande parte sintética e se nada se sabe sobre os impactos ambientais dos processos produtivos, é realmente viável fazer alegações de sustentabilidade? Principalmente quando comparado ao couro?», questionam, acrescentando que o marketing no sector da moda tem uma grande responsabilidade nas alegações de sustentabilidade.

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«É contra-intuitivo substituir um material duradouro, biodegradável e circular, o couro, por materiais que são em grande parte sintéticos. Isso ignora a solução de reciclagem que a indústria de couro fornece para o que, de outra forma, seria um material residual», sublinham.

Neste sentido, a Sustainable Leather Foundation CIC e a Oeko-Tex Association concordaram em trabalhar para apoiar a melhoria das normas e promover um diálogo ético, justo e aberto para o bem comum da indústria do couro.

«Há espaço no mercado para uma diversidade de escolha de materiais e a indústria do couro não tem problemas com a concorrência, desde que seja justa. Porém, não representará a apropriação simultânea da imagem do couro e a difamação do artigo genuíno pela promoção de alternativas com performance questionável e alegações de sustentabilidade», resumem.