Indústria paquistanesa sem certezas

Até as bombas começarem a cair no Afeganistão, a globalização funcionava bem para os trabalhadores da têxtil, tais como Muhammad Saeed. Durante 6 anos, Saeed costurava camisolas e calças de ganga numa fábrica que fornecia empresas dos EUA incluindo a Gap, Levi Strauss e Eddie Bauer. Este tipo de emprego suporta um tipo de estilo de vida, que nos padrões americanos, mal pode ser descrito como humilde: seis pessoas dormem numa cama na casa com uma só divisão, que está metida entre uma confusão de becos, com água dos esgotos a escoar para a sarjeta. Ainda assim, o salário de 100 euros por mês é mais do que o triplo do seu anterior emprego, e ele pode ainda ganhar mais se fizer horas extras, ajudando a sua família sair da miséria e analfabetismo em que milhões de paquistaneses estão presos. Mas Saeed foi despedido, juntamente com milhares de outros trabalhadores paquistaneses das indústrias têxteis, depois do cancelamento das encomendas por parte das empresas americanas, preocupadas com a possibilidade de obter e vender vestuário feito em países muçulmanos perto de uma zona de guerra. Perry Ellis, Tommy Hilfiger e American Eagle Outfitters estavam entre as marcas que reduziram ou cancelaram as suas encomendas com medo da instabilidade e disrupções nos embarques, depois das largamente televisionadas demonstrações de militantes paquistaneses, a protestar os ataques americanos e a aliança do General Pervez Mushaffarf com Washington. Vários fabricantes paquistaneses de vestuários afirmam que os compradores americanos lhes garantiram que, mesmo que a mercadoria seja interrompida, a etiqueta “Made in Paquistão” tornou-se uma garantia para o mercado americano, que é o maior cliente de têxteis paquistaneses, absorvendo 2,6 mil milhões de euros dos 6,59 mil milhões de euros que o Paquistão exportou no ano passado. O Governo paquistanês estima que devido a factores relacionados com o 11 de Setembro, 68.500 trabalhadores foram despedidos e 177 estabelecimentos encerraram, 70% dos quais ligados à área têxtil. Apesar de nenhuma evidência sugerir que as empresas americanas foram conduzidas por uma animosidade para com o Paquistão, as suas acções humilharam muitos paquistaneses, pois os americanos chegaram numa altura em que Islamabad tinha fornecido suporte vital à coligação dos Eu contra o terrorismo. «Que tipo de amizade é esta?» questiona-se Saeed, um homem de 40 anos com sete filhos e acrescenta que, «apesar de muita oposição, o nosso governo apoiou os EU, mas a América está a trocar as encomendas de vestuário para outros países, e agora não temos ideia de onde poderá vir a nossa próxima refeição». O espectro de uma traição por parte dos EU não é de forma alguma aquilo que a administração Bush que ver num país aliado, cujo presidente é visto como estando a correr riscos ao juntar-se à causa de Washington. Por isso a administração está complacente com o pedido de Islamabad para a suspensão das tarifas americanas para os produtos têxteis e vestuários paquistaneses que são importados, a ideia é fornecer os importadores americanos com um incentivo financeiro para que continuem a fazer negócio no Paquistão. As taxas, que rondam os 17%, são pagas pelos importadores. O Paquistão procura uma suspensão de três anos. A questão é manter os interesses da política internacional, acima dos interesses nacionais. A indústria têxtil americana opõem-se fortemente quanto à suspensão das tarifas nos bens paquistaneses, argumentando que isso só iria acelerar a taxa de desemprego numa indústria que já perdeu mais de 60 mil funcionários nos passados 12 meses. O congresso tem a palavra final, e a indústria americana tem bastantes presenças em Capitol Hill. As encomendas dos Estados Unidos desceram 68% desde o ano passado. Estes números são desmentidos pelo instituto Americano de Fabricantes Têxteis. Segundo Charles Bremer, director do Departamento de Comércio Internacional do Instituto, «alguns grandes importadores e os seus representantes estão a dizer que vão cortar nas suas encomendas do Paquistão, mas isso é, francamente, uma forma de iludir, para conseguir que o governo americano faça algum tipo de concessões sob a forma de eliminação de tarifas».