Inditex abandona Myanmar

O grupo espanhol confirmou que vai deixar de se aprovisionar no país asiático, alinhando com a campanha do sindicato IndustriALL. A decisão, contudo, deverá ter pouco impacto na dona da Zara.

[©IndustriAll]

Um porta-voz da Inditex confirmou à Reuters que o grupo espanhol «está no processo de uma saída faseada e responsável de Myanmar, seguindo o pedido do IndustriALL. Como resultado, vamos continuar a reduzir o número de produtores ativos no país».

A Inditex não deu, contudo, prazos para esta saída e, uma vez que não publica a lista dos seus fornecedores, não é evidente a quantas fábricas compra em Myanmar.

Pippa Stephens, analista sénior de vestuário na GlobalData, acredita, contudo, que o impacto na cadeia de aprovisionamento da Inditex será reduzido. «Para a Inditex, esta decisão deverá ter consequências mínimas, já que muita da sua produção é feita localmente na Europa, protegendo-a destas questões», afirmou ao Just Style.

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A decisão da Inditex surge no seguimento de uma campanha do sindicato IndustriALL, que afirma que, após o golpe de Estado em Myanmar em 2021, os direitos laborais têm sido gravemente afetados, pelo que pediu à União Europeia para retirar o apoio ao projeto MADE in Myanmar, depois de uma greve com cerca de 600 trabalhadores numa fábrica que alegadamente produzia para a Zara ter sido desmobilizada à força após um dia. Os grevistas pediam a reintegração de sete trabalhadores, que foram despedidos depois de terem tentado negociar melhores condições de trabalho nos dias anteriores. Estes trabalhadores, juntamente com outros cinco, foram presos durante a greve e, na altura, o IndustriALL indicou que seriam julgados num tribunal militar, uma vez que as zonas industriais estão sob a lei marcial.

A Inditex renovou recentemente um acordo com o IndustriALL em que se compromete a manter o diálogo com sindicatos e assegurar que as necessidades dos trabalhadores ao longo da cadeia de aprovisionamento são respondidas.

A Clean Clothes Campaign, que também defende os direitos dos trabalhadores, é menos radical, mas sustenta que as marcas que continuem a aprovisionar-se em Myanmar devem «fazer as diligências devidas em curso e reforçá-las».

As marcas e retalhistas em todo o mundo estão a ser pressionadas para retirarem os seus negócios de Myanmar, mas, sublinha a Euronews, uma saída em massa «provavelmente causaria significativas perdas de emprego e turbulência económica para os trabalhadores».

Atualmente a União Europeia é apologista de que as empresas continuem a aprovisionar-se em Myanmar. Neste momento, o MADE, que está em vigor desde 2013, tem cerca de 17 retalhistas como membros, incluindo a H&M e Adidas.

Mario Ronconi, diretor da direção-geral de parcerias internacionais da Comissão Europeia, escreveu numa carta a que a Reuters teve acesso que «a UE e os parceiros do MADE acreditam que os interesses dos trabalhadores são melhor servidos pelo sourcing em curso no país, desde que seja feito de forma responsável».

A retalhista espanhola Mango já anunciou ter deixado de usar produtores sediados em Myanmar e a britânica Marks & Spencer planeia abandonar o país em outubro.