Enquanto os grandes saiotes boémios desfilam sobre os pódios das grandes capitais e o sari cai em desuso para a indiana cosmopolita que prefere o vestuário Ocidental, a moda emergente na Índia procura os seus eixos de referência, procurando combinar tradição e modernidade. A moda indiana caminha ainda a passos vacilantes. As primeiras criações datam dos anos 80 e o salão de pronto-a-vestir está apenas na sua sétima edição. Numa indústria têxtil que vale 12 mil milhões de dólares, a moda representa somente 50 milhões. Mas hoje, no momento em que o país e a classe média estão em pleno crescimento, o potencial do mercado local é enorme. E, enquanto a Índia, a sua música, os seus filmes, os seus manequins triunfam de Paris a Nova Iorque, os grandes compradores internacionais vêm abastecer-se localmente, desde o britânico Harrods até à americana Saks Fifth Avenue. E já há alguns criadores indianos que se evidenciam, misturando o toque indiano tradicional com a silhueta ocidental, palavras-chave dos últimos eventos de moda locais. Os longos saiotes irradiando um ar boémio chique, bordados de pérolas, espelhos e sinetas, de Ritu Kumar rivalizam com os modelos estampados nas capas das grandes revistas de moda. As saias em forma de sino de Manish Arora, bordadas de peles, ornamentadas de rendas de couro ou plástico sobre seda selvagem são vendidas em Paris. As pequenas saias depuradas em tecido fino de algodão, plissadas como as areias do deserto do Rajasthan, criadas por Rajesh Pratap Singh seduzem os compradores de Tóquio a Singapura. Mas são as excepções. Segundo os entendidos, a maioria apresenta colecções ultra-tradicionais em que o tecido é por vezes tão pesado e grosseiro que a peça de vestuário se torna investível, ou pelo contrário tenta desastradamente internacionalizar-se com cópias mal acabadas. A moda indiana tem, todavia, trunfos. «Está na ordem do dia: vemos o estilo boémio por todo o lado, de Londres a Nova Iorque. Mas os criadores estão cativos das suas raízes indianas», explica Shane, o criador da marca Shane e Falguni Peacok. O artesanato, que inspira há décadas criadores estrangeiros como Valentino, é o que pode marcar a diferença. «A Índia é conhecida pelos seus têxteis, o seu artesanato, os seus bordados. Os grandes nomes a moda vêm aqui conceber as suas colecções, e depois colocam o seu toque pessoal e a sua marca», afirma Sunil Sethi, comprador para o britânico Selfridges. Mas para produzir bons criadores é necessário que se desembaracem do peso das suas tradições que entulham o estilo e o método neste país habituado às calças e túnicas amplas para os homens e aos saris, simples rectângulos de tecido, para as mulheres, segundo os profissionais. «O aspecto dos tecidos é maravilhoso mas o pronto-a-vestir é de qualidade duvidosa. Nota-se uma grande lacuna nos princípios de base da fabricação como coser uma cava, uma camisa bem moldada. Estão habituados aos ângulos rectos e nada conhecem de modelismo», explica Hemant Sagar, criador da marca francesa Lecoannet-Hemant. «Quanto à criação, limitam-se ainda frequentemente a arrancar uma página da Vogue e a copiar o modelo». Deste modo, o verdadeiro reconhecimento internacional, de Paris, Milão ou Nova Iorque, vai tardar em chegar. «A moda indiana funciona bem na Ásia, mas em Paris é associada a uma moda barata», constata Thierry Journo, o consultor francês de Rajesh Pratap Singh.