Impacto da liberalização foi subavaliado em relação a alguns fornecedores

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou uma análise do emprego no mundo têxtil e do vestuário. Intitulada “Promover uma globalização justa nos têxteis e vestuário num ambiente pós Acordo Multifibras” esta análise pretende demonstrar porque é que diversos efeitos preditos para o período pós-quotas de importação não se verificaram de forma tão intensa como inicialmente previsto.
Com o final das quotas de importação de têxteis e vestuário, as previsões dos principais analistas mundiais relativamente ao futuro representavam boas notícias para a China e para a Índia. A razoabilidade deste optimismo era simples: a China, a Índia e o Paquistão eram os principais perdedores mundiais do sistema de restrições quantitativas às importações, assim, com a eliminação destes limites, poderiam aproveitar as vantagens do comércio livre.
No entanto, a quota da China no comércio mundial aumentou menos do que o inicialmente esperado. De acordo com o relatório da OIT existem dois factores que explicam esta sobreavaliação:
1) Apesar do final das quotas de Importação, a adesão da China à Organização Mundial do Comércio (OMC) confere o direito, aos outros membros da OMC de aplicar medidas de salvaguarda limitando o crescimento das importações da China.
2) Internamente, a China está a mover-se para indústrias de maior valor acrescentado e menos intensivas em trabalho do que indústrias têxteis e do vestuário.
Esta evolução está a reflectir-se nas exportações Chinesas de produtos têxteis e de vestuário para os EUA que já accionou diversas medidas de salvaguarda durante este ano. O mesmo se aplica à U.E. que também já negociou restrições de importação a diversas categorias com a China.
Os aumentos das exportações da China resultam também da reorientação dos fluxos que antes eram efectuados através de Hong Kong e de Taiwan, ambos actualmente a registar quedas expressivas nas exportações.
O relatório procura ainda explicar porque é que alguns países conseguiram aumentar as exportações ou manter-se no nível que tinham antes da liberalização. Merece referência o Bangladesh, particularmente sensível a alterações no comércio de têxteis e vestuário.
Os estudos que antecederam a liberalização do comércio previam um colapso da indústria do Bangladesh assim como despedimentos em massa. Este cenário não se verificou, algumas fábricas estão mesmo a expandir a produção para o mercado comunitário e norte-americano. Em termos políticos o país respondeu bem ao período pós quotas tendo assinado alianças com a China, por exemplo a concluída em Maio deste ano. Note-se que a ITV tem um elevado peso neste mercado representando 76% das exportações totais e envolvendo um total de 2 milhões de trabalhadores, 80% dos quais são mulheres
O Cambodja também contrariou as expectativas neste sector que tem uma importância crítica para a economia, sendo responsável por 80% das exportações totais. Impulsionadas pelo projecto “Better Factories in Cambodia” muitas empresas de vestuário nacionais registaram boas performances no sistema global sem quotas. O projecto foi estabelecido pela OIT e tinha como objectivo melhorar as condições de trabalho nestas empresas onde mais de 85% do pessoal empregado eram mulheres, em troca de um tratado de comércio preferencial com os EUA.
Por fim, o relatório debruça-se ainda sobre o crescimento das exportações da Índia. Conjuntamente com a China, a Índia era um dos principais vencedores da liberalização do comércio internacional, todavia, os ganhos deste mercado ficaram aquém das expectativas.
Por um lado as exportações do sector têxtil aumentaram face ao ano transacto, por outro as vendas ao exterior de vestuário evidenciaram sinais de queda.
Para fazer face a esta situação as autoridades indianas estão a procurar introduzir elementos de flexibilidade na legislação laboral. É disso exemplo a delegação indiana que vai estar presente na próxima reunião da OIT de 24 de Outubro a apresentar uma petição de permissão para colocar mulheres a trabalhar no turno nocturno. Esta parece ser uma mudança de táctica num país que inicialmente se procurava proteger contra a intromissão resultante da globalização do comércio.
Esta análise está disponível no Portugaltextil.com