Há um novo conceito, há uma nova marca e são portugueses.

Num século onde é necessário ser genial para inventar algo de novo, eis que surge um novo conceito ligado ao vestuário, à criatividade e à reciclagem. Chama-se Hospital da Roupa e é português. Concebido pelo estilista Dino Alves, o projecto permite transformar uma peça de roupa fora de moda, ou até danificada, num modelo inovador e de marca, integrado numa «segunda linha» do criador nacional. Realizar algumas alterações numa peça não é original, mas promover este serviço com base num atelier que assegure um produto único e com marca própria é novidade. A «operação» a que a peça pode ser submetida pode incluir novas aplicações e acessórios, novas cores, novos tecidos ou acabamentos, tudo o que permita o renascer da peça. A nova etiqueta surpreende o cliente com as siglas S.O.S.- Serviço Operação Surpresa, pois o cliente não sabe qual é a peça final. Nesta fase inicial, enquanto o projecto se ajusta aos moldes que o mercado requer, Dino Alves recebe os seus clientes no seu estúdio habitual às Quintas-feiras, pelo que ontem o Jornal Têxtil falou com o estilista sobre o projecto: Jornal Têxtil- Fale-nos sobre a receptividade da sua iniciativa, tem tido sucesso? Dino Alves – Penso que tem corrido bem. Já recebemos cerca de 20 contactos e tendo em conta que funciona apenas há vinte dias, parece-me um bom resultado. Neste momento estou à espera de um cliente que vai fazer o «internamento» de algumas peças. A marcação pode ser feita, nesta primeira fase, por um número de telemóvel por nós divulgado e a recepção da encomenda vai funcionar às Quintas- feiras. Hospital da Roupa é o conceito e daí resulta uma nova etiqueta que se chama SOS- Dino Alves. No fundo é a criação de uma segunda linha de roupa que surge nesta base de reciclagem, onde o cliente é quem conduz todo o processo, com a particularidade de, no final, levar a sua peça de roupa única, de marca e que não se limita a uma estação especifica. JT – O conceito de SOS que apresenta implica que o produto final seja uma surpresa… DA – É suposto as pessoas perceberem que tem essa componente, faz parte do projecto. Eu não quero que as pessoas encarem isto como um «atelier» de arranjos de costura, não é para apertar ou alargar uma peça, é para daqui resultar uma nova peça surpresa. JT – Mas corre o risco do cliente não gostar ou não usar o tipo de peça que produziu? DA – Isso não deve acontecer porque há uma ficha do cliente com uma secção de observações para as pessoas apresentarem as suas preferências e me conduzirem no processo. Se a pessoa disser que não usa saias curtas eu já sei que não vou fazer mini-saias. As pessoas que se dirigem a este serviço serão pessoas que conhecem o que eu faço e que gostam do que eu faço. Quem me conhece sabe que esta nova linha é mais vocacionada para jovens. Por outro lado eu também não quero que seja um processo para massificar, e mesmo nas colecções não faço grandes produções pois não é isso que me interessa. JT – Quanto tempo demora em média a fazer cada peça, estabelece um determinado prazo? DA – Eu quero que isto funcione como o «fast-food» da roupa, não tenho que perder muito tempo com cada criação e tenho até previsto um diferente tipo de condições para quem é de fora de Lisboa pois, por incrível que pareça, a maior parte dos contactos tem sido de fora de Lisboa. Mas queria que cada encomenda se resolvesse no máximo em 15 dias. JT – É capaz de dar um exemplo ilustrativo de recentes peças que tenha produzido? DA – A Xana Nunes (ex-modelo), que tem sido umas das nossas principais impulsionadoras, trouxe um destes dias um saco com calças de ganga que eu decorei com tules, que manchei, e por exemplo de uma das calças de ganga fiz um vestido. Tive outro cliente que ficou com umas calças queimadas por um cigarro, o que acontece com frequência, deu as calças por inutilizadas mas eu depois apliquei-lhe umas tiras de tecido de cor e ficaram muito engraçadas. JT – Tem alguém a acompanha-lo no projecto? DA – Tenho uma recepcionista, uma costureira e vou ter duas assistentes para me ajudar na área criativa, vamos ser uma equipa de cinco pessoas. JT – Está a pensar nalgum plano de marketing? DA – O projecto protagonizou este dinamismo depois de ser noticiado nalguns orgãos de informação e tenho consciência que depois de ter sido noticiado as pessoas deixam o jornal de lado e temos que pensar numa acção de marketing para sustentar esta iniciativa. JT – Tem uma ideia dos preços que vai praticar? DA – Pode ir de 5 a 20 contos, consoante o trabalho e os acessórios que implicar, não esquecendo que estamos a falar de uma marca própria, de uma marca de um estilista. É como lhe dizia, é uma segunda linha Dino Alves. Mas com 5 contos uma pessoa já é capaz de ter uma peça completamente nova.